Os gesto de afeto reforçam condutas positivas e criam um clima saudável que os ajuda a crescer. AD-Passion/Stockxchng Beijos, conversas, sorrisos, olhares, abraços, carícias... têm uma forte capacidade de estimular a criança pois todos necessitamos de reconhecer e ser reconhecidos e sentir que "eu existo, tu existes". Nem sempre temos consciência do peso educacional de "pormenores" como uma carícia; o calor familiar que se transmite à criança quando a família prepara e partilha de manhã, em conjunto, a mesa do pequeno-almoço; ou os pais despedirem-se todos os dias dos filhos, explicitamente, antes de irem trabalhar. Um beijo ou um abraço faz as crianças sentirem-se queridas, desejadas e protegidas. Neste ambiente "de amor" até o ensino das regras e a aprendizagem de tarefas se tornam mais fáceis. E faz parte das mostras do afeto que temos pelos nossos filhos. A longo prazo, estas condutas construtivas repercutem-se no bem-estar de todos porque se perpetuam no tempo, pois vão passando de geração para geração. Para além de alimento, água, higiene e calor, a criança precisa do contacto com os outros para crescer, desenvolver-se e sobreviver. Os estímulos - neste caso as carícias - são indispensáveis para um desenvolvimento harmonioso. Sem amor é mais difícil crescer. Está demonstrado cientificamente que a privação sensorial num bebé pode ter como resultado não só alterações psíquicas como orgânicas generalizadas. No ventre materno, o feto está em contacto íntimo e total com a mãe, em toda a sua superfície corporal. Ao nascer, esta intimidade é quebrada bruscamente, sendo que a partir daí é o próprio indivíduo que tem de lutar com o meio e as circunstâncias que o rodeiam para conseguir de novo reencontrar esse ideal. Ser abraçado, acariciado, protegido, elogiado... é um meio para lá chegar. Alwyck/Stockxchng Talvez esteja na altura de refletir sobre as grandes mudanças produzidas nos últimos anos na nossa forma de viver. Hoje e cada vez mais as crianças passam muito tempo sozinhas, não vivendo a seu ritmo. Fazer tudo muito depressa parece ser o mais importante e depois não há tempo para escutar, contar histórias ou brincar com os filhos. Estamos demasiado cansados. As crianças vivem com stress, com uma vida demasiado preenchida, cheia de atividades escolares e extra-escolares. Nesta altura, muitos pais já se demitiram do seu papel imbuídos pelos ditames de uma sociedade cada vez mais fria e distante dos afetos. Não têm critérios educativos e tentam compensar a falta de tempo ou de disponibilidade e dedicação tratando-os com excessivamente permissividade ou oferecendo bens materiais. Das três formas clássicas de educação - autoridade, competência e confiança - talvez só funcione a última. Os pais querem democratizar a sua relação com os descendentes adotando estas atitudes protetoras mas desprezando as relações de autoridade que facilitariam o cumprimento das regras. Mais parece que certos pais têm receio de amadurecer ou de assumir o seu papel. Há que reconsiderar esta postura. Por outro lado, os excessos são igualmente desaconselhados. Não devemos abusar do mimo porque deixaria de ser eficaz. Assim, há que conseguir encontrar um ponto de equilíbrio entre mimo e autoridade. Crianças com falta de afeto apresentam maior angústia, agressividade, dificuldade em fazer e ter amigos, insegurança, sintomas de rejeição, atitude reservada... Anissat/Stockxchng O poder das carícias ou da ausência delas é enorme. Por detrás de uma situação de insucesso escolar, por exemplo, pode existir um problema de escassa afetividade, especialmente se os pais não assumem devidamente as suas responsabilidades e o seu papel enquanto modelos e referentes. Existem muitos tipos de famílias, cada um deles com as suas particularidades. Nas monoparentais verifica-se ou muita solidão ou superproteção. São crianças que passam muitas horas sozinhas, por exemplo a ver televisão, ou então não dão um passo sem o controlo da mãe ou do pai, consoante os casos. Atrás de um excesso de birras ou de atitudes de oposição podem estar uns pais desestruturados enquanto casal e cuja situação se reflete nos filhos. Por vezes, quando os pais de separam e voltam a constituir família acabam por ceder e consentir muitas situações para evitar conflitos. Muitos dos problemas educativos que hoje se colocam poderiam resolver-se se os pais aprendessem a ser pais. Os papéis parentais classicamente definidos diluíram-se, o que pode ser positivo se se partilharem obrigações e regras educativas, mas que se torna pernicioso se o posicionamento for o afastamento ou o abandono de responsabilidades. Além disso nunca podemos esquecer que as crianças, por mimetismo, absorvem como uma esponja o estilo relacional dos seus pais. E a influência e o exemplo dos progenitores é inquestionável. Neste contexto, um dos melhores mimos que se pode dar a uma criança é dedicar-lhe tempo e atenção. Porque há, sem sombra de dúvida, uma correlação positiva entre ternura, cuidado, afeto e atenção e o bom desenvolvimento psicológico, emocional, intelectual e físico.
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O bem-estar das crianças depende muito dos vínculos estabelecidos com os adultos responsáveis por elas. Um tema para alertar consciências e refletir sobre o nosso papel de pais e educadores Bigstockphoto Gordon Neufeld, um dos especialistas mundiais na área da psicologia e relações familiares, esteve em Portugal em novembro passado para a conferência "Vínculos Fortes, Filhos Felizes”. Nela abordou os seus conceitos de “cultura dos vínculos” e de como estes fomentam sentimentos de pertença e segurança, essenciais para dar sentido à existência humana, pretendendo demonstrar a importância do papel dos pais enquanto primeiros e insubstituíveis educadores e formadores dos seus filhos, fortemente responsáveis pelo seu desenvolvimento pessoal integral e pela sua felicidade. ABCriança colocou algumas questões a este psicólogo canadiano e autor do best-seller mundial, “Hold On to Your Kids” e que aqui publicamos: Vínculos fortes, filhos felizes. Que vínculos são estes concretamente, qual a sua relação de causa-efeito e influência na sociedade atual? G.N. - O bem-estar das crianças depende muito dos vínculos estabelecidos com os adultos responsáveis por elas. Quanto mais profundos e gratificantes forem esses vínculos, maiores as probabilidades dessas crianças se tornarem seres humanos mais humanos. Vínculo é a palavra científica para "relação" e fala da nossa necessidade preeminente de intimidade. Procuramos proximidade e conexão de muitas maneiras: através de estar com, ser parecido, fazer parte de, estar do mesmo lado, ser importante para, através do amor, e através de sermos compreendidos. A intimidade pode tomar várias formas, da mais superficial às intimidades emocional e psicológica Em termos de sociedade, estamos efetivamente a perder alguns dos valores fundamentais: é bom e correto que haja vínculos que unam as crianças aos adultos responsáveis por elas; é bom e correto que os adultos sejam mais importantes para uma criança do que seus pares; é bom e correto garantir que as crianças, em contexto de vinculação, lidem apenas com os adultos responsáveis por elas. Estes são os valores que têm de ser recuperados a fim de criar as condições necessárias para aumentar, nas nossas crianças, todo o seu potencial como seres humanos. Não podemos reparar a cultura. Mas estamos a precisar de uma consciência coletiva acerca do papel crucial das relações, quer a nível parental como do ensino, e de nos reencontrarmos com a nossa intuição natural nestas matérias. As crianças e jovens estão cada vez mais "difíceis", quer em casa como na escola: indisciplina, falta de respeito... Que se está a passar? G.N. - Quando as coisas correm mal culpamo-nos uns aos outros. As crianças estão efetivamente a tornar-se mais difíceis de criar e ensinar, mas isso é porque estamos a perder o contexto em que elas deveriam ser criadas e ensinadas, nomeadamente o seu vínculo aos pais e professores. Quando as crianças começam a orbitar ao redor dos seus pares deixam de o fazer à volta dos seus pais e professores e como tal nada funciona como deveria. A questão não é tanto de responsabilidade mas sim de relação. A criança necessita de estar na relação certa com os seus pais e com os professores para que os adultos nas suas vidas sejam capazes de fazer o seu trabalho responsável e eficazmente. Que fazer? Há fórmulas mágicas para dar a volta à questão? G.N. - Não é de mais avisos nem prescrições que os pais hoje em dia necessitam. Quanto mais nos disserem o que devemos ou não fazer, mais perdemos o senso comum e a intuição natural. Quando as crianças estão adequadamente vinculadas a quem delas cuida isso acaba por trazer ao de cima o que de melhor crianças e adultos têm. Quando as coisas não funcionam, o que mais necessitamos é de refletir sobre a importância das relações afetivas que evite a batalha contra os síndromes de comportamento. Temos vindo a ser pais e professores desde há milhares de anos. É uma "dança", não um conjunto de competências. Quando a relação é a correta, a dança é relativamente fácil. Se não o for, nada do que façamos irá correr bem. Carreiras absorventes, horas extra, trabalho por turnos… são situações que obrigam a horários desregulados, correrias, stress e um grande sentimento de culpaem relação aos filhos. Não é fácil gerir tudo isto a bem de todos, mas é possível, com grande empenho e muita afetividade Ambro / FreeDigitalPhotos.net Carla, 37 anos, trabalha hoje na Direcção de Organização e Qualidade de uma grande empresa. Tem dois filhos, o Luís, de 11 anos, e a Maria, de 4. De manhã ambos ficam na escola e o Luís, depois das aulas, vai para casa da avó materna (que vive a 100 metros), onde fica até os pais chegarem. Depois de lanchar faz os trabalhos da escola e, no final, vê televisão. Já a Maria fica na escola até a empregada a ir buscar, por volta das 18:00 h, sendo ela quem lhe dá o banho e o jantar, pois com ela come tudo e não faz "ronha". Este é um dia típico destas duas crianças. E os pais, como fazem com os horários? “O nosso limite são as 20:30 h, que é a hora de saída da nossa empregada, sendo necessário muitas das vezes combinarmos quem está em casa a essa hora. Ou seja, tanto podemos chegar às 20:00 h como às 23:00 h, sendo agora esses picos mais raros, essencialmente derivado ao meu princípio de esgotamento por excesso de trabalho. O facto de ter agora empregada, que me afasta das lidas da casa, torna possível dar a atenção devida e exclusiva aos miúdos, dado que não preciso de me preocupar com jantares, banhos, arrumar a casa, etc. Obviamente que, e como eles sabem que quando chego sou deles, são ambos muito exigentes, com especial relevo a mais pequena, que não me larga até adormecer. Os fins de semana são também deles, o que faz com que tenhamos cuidado em programá-los mediante as suas necessidades, fazendo os seus pratos favoritos, tomando banhos em conjunto… Isto, em certa medida, é cansativo mas bastante compensador”, conta Carla. Agora, o dia a dia desta família é mais tranquilo, mas nem sempre foi assim, de tal forma que Carla até ficou doente. “Esse facto fez com que eu tivesse plena consciência de que não sou ‘supermulher’ e que por isso tenho efetivamente de fazer algumas escolhas, estando a minha família em primeiro lugar.” E diferenças, entre o antes e o agora? “Em relação à Maria tem-me a cem por cento quando chego a casa, desde que nasceu. Evito cometer com ela os ‘erros’ que cometi com o Luís. Mas desde que tenho a minha empregada, noto grandes diferenças em relação a ele, dado que agora me é possível dar-lhe algum tempo ao final do dia com alguma qualidade, em vez de tentar conciliar as lidas da casa com a atenção a dar às crianças. Ele está muito mais próximo de nós, apesar da estar numa idade em que exige a sua privacidade a autonomia; ele próprio procura o nosso mimo quando chegamos a casa e conversa connosco sobre o seu dia, algo que não fazia na idade da Maria.” Carla é uma mulher como outra qualquer, que sempre viveu o drama de tentar conciliar uma profissão exigente com o papel de mãe: “Nunca nos desligamos dos nossos filhos, ou seja, do seu desempenho escolar, das atividades de tempos livres, das suas doenças, vacinas, etc., o que nos obriga a ter uma grande ginástica mental no quotidiano. Hoje em dia, e dado que tenho muitos projetos e sou normalmente eu quem faz o seu planeamento, sou realista, e caso se verifiquem atrasos ou outras complicações faço questão de os resolver no tempo normal de trabalho.” Apoios e educação Carla conta com a ajuda da mãe e o apoio diário da empregada. Mas é um apoio dispendioso, um luxo, mesmo, que não é acessível a todas as mães que trabalham. “A realidade do nosso país é muito dura, no sentido de que as mães têm de trabalhar para ajudar nas despesas, não existindo trabalho a meio tempo, nem apoios ao nível de atividades de tempos livres para as crianças, e muito menos a possibilidade poder pagar a alguém que efetue a lida doméstica. A educação dada pelos avós, pela empregada, pelos próprios pais... chocam-se ao ponto de se notar no comportamento dos filhos ou será que se complementam? A experiência de Carla é positiva, mas não totalmente. Dado que o filho mais velho esteve sempre muito próximo da avó, verifica hoje algumas sequelas dessa aproximação. “Dado que os avós são bastantes mais permissivos do que os pais, e dado que ele é uma criança hiperativa, com bastantes dificuldades ao nível de concentração, foi criando alguns maus hábitos em casa da minha mãe, que se sentem agora neste ano (6º ano), estando atualmente a fazer um programa junto de uma psicóloga – ‘Aprender a Aprender’ - com o objetivo de desenvolver uma metodologia no estudo e melhorar a sua capacidade de concentração a atenção. Este programa, e mediante os resultados do primeiro período, estão a evidenciar a necessidade de sermos nós os pais a acompanhar o plano de estudo do Luís, dado que verificamos que a avó é mais permissiva, sendo também por isso mais manipulada por ele. Isto é, mesmo tendo o apoio de pais, avós, tios, empregados, posso concluir que os pais são mesmo necessários junto dos filhos, pelo que temos de fazer todos um esforço e mesmo até ginástica no sentido de estarmos perto deles e de os acompanhar. Não é fácil ser mãe (e pai) nos dias de hoje; são-nos exigidas grandes responsabilidades a nível profissional e lamento efetivamente que seja difícil na nossa sociedade termos os apoios necessários que nos facilitem ser melhores pais. A nossa sociedade deve evoluir no sentido de permitir às mães (e pais) passarem mais tempo junto dos seus filhos, o que obriga ao desenvolvimento de outros regimes laborais e melhores condições económicas, pois a futura geração será o alicerce da nossa sociedade e face às circunstâncias estamos a desenvolver uma geração carente de afeto e atenção, liderada por pais cansados e tristes por não poderem dar mais tempo aos seus filhos”. Crianças, o melhor da sociedade O exemplo de Carla retrata a angústia em que um grande número de pais vive a que se veio juntar um outro problema de grande dimensão: a crise económica e a diminuição do rendimento das famílias. Pais que se sentem desamparados, sem qualquer tipo de apoios, e ao mesmo tempo pressionados: por um lado nas empresas onde trabalham, na generalidade cada vez mais inflexíveis com os horários dos seus trabalhadores, por outro no seio da própria família, que reclama com toda a legitimidade por mais presença e atenção. Na ótica de Luís Rodrigues, sociólogo, “a sociedade tem de dizer a si própria que o melhor dela são as crianças e a família, pelo que é preciso apostar nisso de modo a mãe poder dar ‘seio e útero’ aos ses filhos até à idade em que eles necessitarem (pelo menos até um ano de idade)”. Mas como, se não vemos nada a avançar nos aspetos sociais, muito pelo contrário, e a vida parece estar cada vez mais focalizada no dinheiro? Luís Rodrigues é peremtório: “Tem de haver mais flexibilidade nos horários dos infantários e nas empresas (com mais teletrabalho, mais part-times); deve dar-se ainda mais proteção à mãe e condições aos trabalhadores para que possam tirar licenças sem vencimento, se assim o desejarem, sem perderem o emprego; as empresas têm de ser mais cidadãs e apostar na descentralização, que permita também uma maior proximidade entre o local de trabalho e a habitação; e há que falar no Estado, que deve cuidar mais da sua prole, nomeadamente das crianças e jovens, que são afinal os adultos de amanhã. Embora as coisas pareçam não estar a avançar neste sentido, temos de ser positivos. Mais tarde ou mais cedo vai perceber-se que uma economia social também é lucrativa e gera emprego, o que é muito importante, e nessa altura as coisas mudam. Basta querer.” Por enquanto, esta sociedade “ideal” está apenas nos nossos sonhos. A batalha que os pais de hoje enfrentam na realidade do dia a dia é outra: pais a viver stressados, angustiados e com sentimentos de culpa. Os filhos estão sempre no coração dos seus progenitores e é legítimo e saudável que estes se preocupem com eles. E Luís Rodrigues acrescenta: “Os pais não devem ter medo de dar afeto a dobrar ou a triplicar. O tempo que se está com a crianças – por pouco que seja - deve ser pleno de afetividade. Elas precisam de atenção e de muito amor!” Se vive esta situação, vai ver que depois tudo corre melhor. Contrariando a expressão “Money makes de world go ‘round” (O dinheiro faz mover o mundo), afinal, parece que é o amor que tem esse poder… Pense nisto. Filhos do divórcio O aumento de casamentos desfeitos veio agravar o problema da falta de tempo para os filhos. Estes são entregues geralmente à mãe, que tem pela frente uma luta diária pela sobrevivência ainda mais feroz, carregando nos ombros, agora sozinha, o grande peso das responsabilidades. Mas o progenitor ausente pode e deve continuar presente na vida diária dos seus filhos, dando-lhes afeto e educação, pois não é só a pensão de alimentos que é importante. Mais uma vez vale a pena lembrar que a zanga dos pais não pode interferir negativamente nos laços que os unem aos filhos, nem estes devem ser usados como arma de arremesso para castigar o progenitor eventualmente ‘culpado’ da situação. Os adultos devem ser responsáveis, focalizando mais a sua atenção na vida das crianças e menos no seu umbigo. O que podem estes pais fazer “Importa enfatizar a importância dos momentos passados em família. Por mais cansados que se esteja após um dia de trabalho, é fundamental termos em consideração que as crianças precisam de ver o amor renovado diariamente”, reforça a terapeuta familiar Cláudia Morais. E acrescenta: “Acredito que os pais, por mais que trabalhem, têm o poder de transmitir aos seus filhos o quanto estes são importantes. Se o trabalho é essencial à sobrevivência da família, os momentos de lazer e brincadeira são essenciais à sobrevivência dos laços familiares. Assim, é possível compensar as crianças através de um mimo na hora de deitar, brincadeiras ao fim-de-semana e conversas atentas sobre o seu dia na escola”. A capacidade intelectual de cada um de nós, e também a emocional - porque já se percebeu que esta é igualmente importante -, são fomentadas na infância com a ajuda dos pais Ella/Photoxpress O mundo não está dividido por pessoas inteligentes e outras desprovidas desta capacidade. Cada ser humano tem apenas os seus próprios ritmos de aprendizagem e mais jeito, se quisermos, para aprender umas matérias e fazer umas coisas do que outras. Seja como for, o fundamental é, segundo alguns cientistas, exercitar “as janelas de oportunidades” que todas as crianças têm. Ou seja, estimulá-las em todos os campos e, quando chegar a hora das perguntas, ter aptidão e paciência para responder. Aceitar a sua curiosidade para que continue a procurar e a aprender, oferecendo-lhe, ao mesmo tempo, os instrumentos apropriados em cada etapa da sua vida que vão servindo de auxiliares de aprendizagem. Até ao sexto mês. Apesar de levar a maior parte do tempo a dormir, o bebé descobre o mundo que o rodeia logo nas primeiras treze semanas de vida, através dos sentidos. Descoberta que se vai apurando gradualmente à medida que passam mais tempo acordados, com o olhar preso aos objetos que se mexem e decoram o quarto, às suas próprias mãos, às sombras das árvores na rua. Surpreendem-se, às vezes assustam-se, mas não é exclusivamente nestes momentos que os pais devem acarinhá-los, dar-lhe mimos, conversar e cantar de forma apaziguadora e ternurenta, transmitindo-lhe todo o amor e segurança. Aos quatro meses já é capaz de agarrar os primeiros objetos que lhe dão, e aos seis meses ser ele próprio a apanhá-los sozinho. E então é ver a sua alegria enquanto agita uma roca colorida. Nesta fase, é importante que lhe proporcionemos todos os estímulos sonoros e visuais. Dos 6 meses aos 2 anos. O bebé faz-se criança. Já andou um longo caminho, iniciou uma das fases mais interessantes: a exploratória. Tudo isto porque entretanto já aprendeu a mover-se sozinho. Gosta de experimentar e tocar. Ativamente atentos, os pais devem permitir esses pequenos ensaios, sem referências abusivas à ameaça permanente do perigo. Por outro lado devem compreender que os jogos não constituem apenas um prazer para as crianças mas também uma aprendizagem. É então ao longo desta etapa que gostam de amontoar blocos, encaixar objetos uns nos outros. Através deste exercício vão desenvolvendo a habilidade motora. Quanto à linguagem, é fundamental que a ajudemos a desenvolver, respondendo às suas perguntas e introduzindo no diálogo novas palavras. Pô-las em contacto com os livros e as histórias é outro passo importante ainda nesta fase, escolhendo temas que falem de coisas do seu dia a dia mas que lhe permita igualmente desenvolver a imaginação. Dos 2 aos 5 anos. Inicia a idade dos porquês: a criança torna-se genuína e saudavelmente curiosa. É fundamental que os pais apoiem esta necessidade de descobrir, pois caso contrário eles podem desistir de o fazer. Mesmo que não lhe apeteça responder, faça-o sempre. Passam uma fase em que gostam de imitar os progenitores nas lides do dia a dia, por exemplo, e depois tornam-se mais criadoras. Passam a interessar-se especialmente por jogos de construção. Nesta faixa etária devem ser-lhe dadas já algumas tarefas de forma a sentirem-se úteis e devem aprender a competir com lealdade, através das brincadeiras com outros meninos. É preciso potenciar-lhes a criatividade e a imaginação. Os jogos têm um papel essencial em todos estes aspectos, por isso os pais não só devem estimulá-los como envolver-se neles sempre que possível. A partir dos 5 anos. A entrada na escola inicia uma nova etapa. A partir daqui a criança vai ter outras tarefas a cumprir. Respeite os seus ritmos e método de aprendizagem, ajudando-a nas dificuldades mas não as resolvendo por ela. Se a criança tem alguns dotes especiais e mostra vontade de desenvolvê-los, apoie a sua opção através do ingresso numa escola especial por exemplo. Mas sensibilize-a também para as atividades ao ar livre, à leitura e às relações interpessoais com os pares, visitem museus e monumentos, vão ao teatro e ao cinema. Ensine-a a ter opiniões sobre as coisas, a ser crítica, responsável, segura e sobretudo independente. Conselhos úteis - Escute a criança: tente compreender e respeitar as suas opiniões. - Dê-lhe o tempo necessário para aprender e fazer as coisas, pois cada uma tem o seu próprio ritmo de aprendizagem. Jamais compare os seus progressos com os de um irmão mais velho, por exemplo. - Facilite-lhe os instrumentos certos e necessários. - Ajude-a a esquematizar o pensamento mas não o faça por ela. Auxilie-o a procurar soluções mas não lhas dê, pois seria o mesmo que passar-lhe um atestado de incapacidade. - Transmita-lhe muitas mensagens de esperança e confiança. A brincar também se aprende Através dos jogos as crianças encontram as primeiras dificuldades que é preciso ultrapassar e se, regra geral e inicialmente, preferem os brinquedos mais simples, não é porque sejam desprovidos de sapiência, mas porque tem uma infinita imaginação. Cada idade possui, no entanto, os jogos mais apropriados com vista a um objetivo concreto: as construções Lego por exemplo, são excelentes para a coordenação tanto motora como visual da criança a partir dos 2 anos de idade. Antes de atingir esta faixa etária, um livro é uma das melhores “receitas” lhes para fomentar a imaginação. Puzles e jogos de dominó , por exemplo (qual o adulto que não gosta de deliciar-se com estes passatempos?), para além de estimularem a memória visual e os reflexos dos meninos com idades compreendidas entre os 4 e os 6 anos, inicia-os igualmente na competitividade que devemos zelar que seja leal. Finalmente, um computador, para crianças a partir dos 6 anos, pode revelar-se um excelente instrumento de introdução a diferentes matérias de forma divertida e pedagógica. Texto: Inês Mendes Nós somos tristes, por Jorge de 8 anos (In A Criança e a Vida)
Na noite de carnaval eu estava muito triste, e via todas as pessoas magoadas. E a cor do céu também estava aborrecida. / E os homens das laranjas sem apregoar. E eu não sabia o que tinha sido. Mas quando a minha mãe voltou, disse-me: “- Os polícias voltaram a bater nos vendedores". / E eu disse à minha mãe: “ – Que chatice!” E a minha mãe deu-me um beijo. E tantas vezes os pais e as mães se preocupam porque a criança não come, porque a educadora diz que ele se isola, porque o filho mais velho desafia os adultos e a filha do meio está a ter maus resultados na escola. O meu filho que se isola no quarto e não fala e o pequenino que faz birras no supermercado e diz que não gosta dos pais... É compreensível que cada pai, cada mãe, cada educador se preocupe com os mais novos, com aqueles que vê crescer todos os dias e se sente responsável pelo caminho tomado pelo crescimento dos que viram nascer. É compreensível porque não sabemos como se faz, é compreensível porque não trazemos um livro de instruções, nem nos podemos licenciar em paternalidade. Mas é como conta o Jorge, de 8 anos, e quantos Jorges há por aí que naquele momento em que há um sobressalto, uma revolta, uma frustração e uma angústia, sabe tolerar, aceitar e o que recorda é o beijo da mãe, que apazigua, que tranquiliza, que dá força para depois continuarmos a fazer frente “às chatices” da nossa vida, e às vezes tão grandes, as chatices. É por isso que antes de tudo, mesmo ainda na barriga ou nos primeiros tempos cá fora, o afeto é a melhor das prevenções e intervenções. Depois vem o resto. Hoje, amanhã, agora, um beijo nos seus filhos, bem grande, bem apertado... Sim, mesmo que ele agora refile por estar a apertá-lo nos seus braços... Um dia vai lembrar-se e saber tão bem... Texto: Rita Castanheira Alves (Mindkiddo/Oficina de Psiciologia) Imagens: FreeDigitalPhotos.net FreeDigitalPhotos.net Eu quero agora! Já! Costuma ouvir esta frase com frequência? Há que estabelecer limites... Segundo um estudo apresentado no The Journal Of Child Psychology And Psychiatry, 98% das crianças até aos 10 anos estão muito centradas nos seus próprios interesses e prazeres egocêntricos, manipulando os adultos para obter algo como um chocolate ou um brinquedo novo! Estes comportamentos podem atingir um nível mais problemático, quando não existem limites colocados pelos adultos e muito diálogo para criar consciência e sensibilidade. Estas crianças têm pouco controlo sobre os seus impulsos, não conseguem planear e podem mesmo tornar-se violentas ou produzir birras extraordinárias, quando as suas necessidades não são imediatamente saciadas. As “crianças usarão todas as ferramentas à sua disposição para assegurar a gratificação”, afirma Mateo, investigador deste estudo. “E assim que o desejo for cumprido, seja ele algo material ou simplesmente um desejo insaciável e narcisista que queiram ver validado, elas rapidamente ficam aborrecidas e perdem interesse nas suas vítimas, pensando de seguida em qual vai ser o seu próximo desejo hedonista.” Mateo acrescenta ainda que quando as crianças são confrontadas diretamente com as consequências do seu comportamento têm pouca ou nenhuma capacidade de expressão de culpa, para além de afirmações de “arrependimento”, a que geralmente são coagidos a assumir e por isso são facilmente imitadas “Desculpa”, “Não volto a fazer”, “Foi sem querer”. Mateo afirma também que os avós são especialmente susceptíveis a este tipo de comportamento manipulador. Apesar das evidências apresentadas neste estudo, as mesmas foram alvo de pesadas críticas pelas pessoas que se associam com crianças numa base regular e que se recusam a acreditar que estão a partilhar as suas casas com pequenos ditadores. E em sua casa?... Texto: Vera Lisa Barroso, Mindkiddo Fonte: New Study reveals most children unrepentant sociopaths - by, Leonard Mateo - University of Minnesota (12, 2009), in The Onion America's Finest New Source. A Perturbação da Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) é um tema de grande controvérsia: um pesadelo para a criança que sofre... A situação é igualmente difícil para aqueles que a rodeiam Esta perturbação é mais comum do que pensamos e extremamente difícil de gerir para os pais, que muitas vezes não sabem como ajudar a criança a acalmar-se! É difícil reconhecer um filho inquieto como sofrendo de PHDA. O diagnóstico é baseado em critérios específicos, abrangendo tanto o défice de atenção como a própria hiperatividade. Sinais que poderão ser indicadores de uma possível PHDA no seu filho: • Está sempre inquieto; • Está constantemente com arranhões e contusões; • Sempre que está sozinho, algum problema acontece; • É difícil de o controlar quando está em contextos sociais; • Na escola é muito perturbador e sofre de falta de concentração; • Parece indiferente ao perigo e em correr riscos desnecessários; • Não consegue manter sua atenção focada num ponto preciso mais do que alguns minutos; • Não consegue concentrar-se em tarefas e brincadeiras – inclusivamente dificuldade em esperar pela sua vez nos jogos com os pares; • Parece que não ouve nada o que lhe dizem e depois interrompe com facilidade o discurso dos outros; • Perde objectos e os seus pertences com grande facilidade. Existe essencialmente uma base comum entre a hiperatividade e as irrequietudes infantis: a incapacidade de ter calma e dificuldade em manter o foco! Há as crianças naturalmente inquietas, não por causa de uma doença real, mas por vezes devido a uma educação inadequada, onde as crianças não aprenderam a gerir as suas emoções e são facilmente frustradas, o que provoca problemas específicos como a agressão. Outras vezes, a irrequietude da criança é uma reação induzida por um evento pessoal ou familiar: divórcio, depressão num dos elementos parentais, entre outros. O diagnóstico de PHDA com traço orgânico - de causas genéticas e emocionais - pode ser confirmado por testes neurológicos e o seu tratamento requer apoio a longo prazo. E o que pode fazer já? Em casa é imprescindível estabelecer limites, elogiar o seu filho sempre que consegue terminar uma tarefa, repetir o seu discurso todas as vezes que sejam necessárias, limitar os estímulos de forma a controlar a distração e na sala de aula é importante que a criança se sente nos primeiros lugares e longe da janela. A psicoterapia é a pedra angular do tratamento – um acompanhamento individual ou familiar, dependendo da causa da hiperatividade. Para tratar eficazmente esta perturbação, ainda que com o recurso a tratamentos farmacológicos, estes não devem ser utilizados sozinhos, mas sempre combinados com a psicoterapia, envolvendo o contexto familiar e o escolar. Texto: Vera Lisa Barroso (www.mindkiddo.com/www.oficinadepsicologia.com) Imagem: FreeDigitalPhotos.net O nascimento de um irmão, a vinda de um bebé e a perda do posto de filho único é um acontecimento difícil para algumas crianças, as quais sentem aquilo a que chamamos Ciúmes Frequentemente falamos de filhos únicos, que são também netos únicos e sobrinhos únicos. Desde que a vida começou para eles que sempre foi assim, o mais pequeno, o único, sem ter de dividir atenções porque à volta só estão adultos. A vida pode ser dura... O ciúme surge e é normal, especialmente associado ao nascimento do irmão mais novo ou da irmã. Surge como mais problemático e difícil de gerir, geralmente entre os três e os seis anos. Geralmente é associado a pensamentos difíceis de compreender pela própria criança, de expressar ou controlar: “ Os meus pais já não vão ter mais tempo para mim”; “Ele é bebé e por isso é mais engraçado”; “ Os meus pais vão gostar mais dele do que de mim”; “ Vão dar-me menos mimos porque têm de dar ao meu irmão...”. Enfim, angústias da antecipação do que será a vida de filho partilhada com um irmão, que fazem parte do desenvolvimento e desta mudança na vida e que por vezes levam a consequências diversas: comportamentos negativos para chamar a atenção, comportamentos regressivos, típicos de idades mais precoces (os chichis na cama, voltar a pedir chucha, querer andar ao colo, dormir com os pais...). O ciúme cumpre uma função, é normal, não podemos eliminá-lo, mas é possível ajudar os mais novos a conseguirem controlá-lo, a compreenderem-no, a fazer com que se manifeste em menos ocasiões e a conseguir enfrentá-lo quando se sentem “atacados” pelo ciúme. Os pais podem ajudar o filho mais velho a lidar com o ciúme do irmãozinho mais novo mesmo que ainda esteja dentro da barriga da mãe ou ainda não viva com a família (no caso de uma adoção). É essencial uma boa dose de compreensão, paciência, dando tempo para que se consiga habituar à nova realidade e muito apoio. Com a ajuda dos pais, ultrapassar a fase de ciúmes será um motor de desenvolvimento e de maturidade para o seu filho mais velho, que sentirá que tem competências e é capaz. E como pode ajudar o seu filho a lidar com a chegada de um irmão? - É essencial que promova momentos de compreensão e de expressão dos ciúmes do seu filho. Exteriorizar, conseguir expressar o que angustia como o ciúme é extremamente importante para aprender a lidar com a situação; - Desde o início da notícia da vinda de um irmão mais novo, incluir o seu filho mais velho na decoração do quarto, nas compras para o bebé, na preparação e no crescimento da barriga pode facilitar o seu sentimento de pertença, tornando a vinda do irmão como um plano conjunto de toda a família; - Reserve sempre um tempo especial e único para o seu filho mais velho e combine com ele quando o poderão fazer apenas os dois. Mesmo que seja pouco tempo, será essencial e valorizado por ele; - Valorize-o pela idade que tem, partilhando com ele tarefas que ele consiga fazer relacionadas com as novas rotinas do bebé como encher o biberão, pedir-lhe uma fralda, ajudar no banho, escolher a roupa e elogie-o por ser capaz e por ser uma ajuda preciosa para si; - Crie momentos de conversa para promover a partilha de sentimentos pelo seu filho, pondo-se no lugar dele: “Imagino que às vezes seja difícil agora não termos tanto tempo juntos” ou “ Sei que às vezes te apetecia que estivessemos sozinhos...”. Com este tipo de frases, vai sentir-se mais compreendido e acompanhado. À medida que responde ou mesmo que não responda pode ir fazendo festinhas, dando-lhe abraços e dizendo como se sente orgulhoso(a) das atividades e tarefas em que ele tem um bom desempenho; - Estabeleça com ele uma parceria, propondo que se partilharem tarefas relativamente ao bebé poderão ter mais tempo para estarem os dois a conversar ou a fazer alguma atividade; - Não se esqueça de cumprir os momentos especiais com o seu filho, se foi combinado há que cumprir; - Quando fala com o bebé, diga-lhe frequentemente “ Que bom teres um irmão mais crescido que nos ajuda tanto e te pode ensinar tantas coisas!”; - É importante incluí-lo e valorizá-lo, mas incutir-lhe também a ideia de que nem sempre ambos os irmãos terão os mesmos presentes. Por vezes terá um, outras vezes terá outro. É um momento novo, exigente, que pode ter uma fase de angústia. Com compreensão, tranquilidade e paciência, certamente o seu filho mais crescido enfrentará os ciúmes como um guerreiro e a vinda do irmão mais novo será um momento que o fortalecerá! Texto: Rita Castanheira Alves, psicóloga clínica (www.mindkiddo.com/www.oficinadepsicologia.com) Imagem: © Alena Root - Fotolia.com Há crianças assim: amáveis, bem-educadas, que merecem desde logo a nossa estima. Mas não tenha dúvidas: o comportamento delas é fruto da educação que recebem Fundamentais para o bem viver em sociedade, as boas maneiras, quando sinceras, são também sinais de uma profunda consideração pelos outros. Por isso, antes da aprendizagem das regras de cortesia, é prioritário ensinar a criança a respeitar os sentimentos e direitos dos outros. Tudo está intimamente ligado e aprende-se em casa, na relação com os pais, onde se moldam os principais traços do caráter. E só os bons exemplos podem ajudar a interiorizar cada uma dessas noções. Dito de outra forma, a criança precisa de viver num ambiente em que todos os membros da família se relacionem com delicadeza e respeito, que sejam afáveis uns com os outros e solidários entre si e com os demais. É claro que estes princípios devem ser incutidos relativamente cedo, com regras e afeto, tendo em conta as diferentes etapas do desenvolvimento, pois não se pode exigir o mesmo aos dois anos de idade ou aos cinco. No que respeita a boas maneiras, é desejável que os pais levem o bebé a adotar um comportamento positivo desde que começa a falar. Apesar de ainda não compreender de facto o significado de palavras como “obrigado” ou “por favor”, é desejável que aprenda a pronunciá-las, coisa que seguramente fará desde que as ouça com frequência, quando se dirigem a si e as escute no diálogo daqueles que o rodeiam. A seu tempo, passará a pensá-las efetivamente. Posteriormente, aprenderá a cumprimentar os amigos da família e os amiguinhos, com um “bom dia”, um “até manhã”, um aperto de mão ou um beijinho. São comportamentos básicos e necessários, que possibilitarão a aquisição de outros quase naturalmente. E então teremos uma criança verdadeiramente atenciosa, educada e respeitadora, disponível a ceder o seu lugar sentado no autocarro, a agradecer um presente, a olhar o outro como se olhasse para dentro de si. É natural que ao longo deste processo de aprendizagem possa falhar pontualmente, sendo rude por exemplo. Não deixe passar em branco, logo que fiquem sozinhos converse sobre o assunto. Mas, sobretudo, tenha presente uma verdade inabalável: o comportamento do seu filho depende em grande medida da educação que recebe! Texto: Inês Mendes © Greenland | Stock Free Images & Dreamstime Stock Photos Querer fazer o melhor não é propriamente um problema. Bem pelo contrário, pode ser motivador. O pior é que para os perfecionistas o melhor nunca é suficiente Pais atentos podem detetar os primeiros sinais em crianças muito pequenas. Manifesta-se por baixa tolerância às deceções e maus resultados e frequentes estados de cólera sempre que não conseguem levar a bom termo qualquer ação a que elas próprias se propõem. Mas é sobretudo na idade escolar que estes sintomas se manifestam com particular evidência. Saber bem as coisas da matemática - somar e subtrair, multiplicar e dividir -, não basta para estes pequenos rebentos se os números não estiverem bem desenhados, estrategicamente sobre a linha da quadrícula. A arte da escrita até pode ir bem encaminhada, mas se ‘aquela’ letra ainda não sai perfeita... Fazem, apagam, refazem até à exaustão, entre crises de irritação e choro. E, por fim, desistem a maioria das vezes. Ser-se perfeccionista é ser o pior juiz de si próprio, é achar que o que se faz nunca está bem, é nunca sentir orgulho no seu trabalho ainda que a avaliação dos outros aponte precisamente o contrário. É viver num mundo solitário, de angústia e ansiedade latentes. É ter medo de errar e, por isso, deixar de fazer todas aquelas coisas em que não se tem a certeza que correrão bem. É evitar os desafios em vez de enfrentá-los com determinação, deixando passar as oportunidades. Para os perfeccionistas não existe espaço para o fracasso, para o insucesso. Experimentam altos níveis de ansiedade não só perante toda e qualquer situação desconhecida, como diante das pessoas. Acima de tudo, têm um enorme receio de virem a ser rejeitadas pelos seus erros. Segundo algumas teorias, este traço de personalidade, tão perturbador do ponto de vista de quem o vive, é transmitido geneticamente. No entanto, outras estão mais inclinadas a responsabilizar o meio familiar envolvente pelo aparecimento e subsequente desenvolvimento deste comportamento que, quando não detetado a tempo, e acompanhado com afeto e muito tato – em certos casos com ajuda de um técnico especializado -, pode levar a que as crianças se transformem em adultos ansiosos, inseguros e dependentes e, essencialmente, depressivos. Por tudo isto, fique ativamente atento: • Evite sobrevalorizar os pequenos deslizes da criança, de modo a não serem sentidos como algo irremediável e imperdoável. • Nunca descarregue as suas frustrações pessoais (familiares e profissionais) sobre ela, exigindo-lhe um comportamento exemplar, ou seja, isento de qualquer tipo de erro. • Aposte numa boa conversa, mal detete os primeiros sinais de perfeccionismo. Tente perceber o que a perturba e ajude-a a olhar cada tarefa a executar de um ponto de vista mais tranquilo. • Mostre-lhe que também erra, mesmo que tenha de o fazer propositadamente. Comente o seu erro com serenidade, se possível com humor, e resolva-o na sua presença. • Explique-lhe que errar não só é humano como uma fonte inesgotável de aprendizagem. • Não valorize de mais os fracassos nem tão pouco os sucessos. Seja equilibrado nas avaliações, mas dê-lhe sobretudo mensagens de confiança nos momentos certos. • Respeite as suas dificuldades e limitações e não exija que as ultrapasse antes do tempo. Como por exemplo, saber ler e escrever. • Uma vez que fica muito ansiosa perante a possibilidade de vir a executar novas tarefas, prepare-a para esse momento com uma conversa a sério e afetuosa. • Explique-lhe que, à semelhança do que acontece com toda a gente, também é provável que existam coisas que ela vai conseguir fazer e outras não, mas que isso não deve e não pode ser uma limitação e uma desculpa a que se lance em próximos ensaios. Bem pelo contrário, deve funcionar como uma motivação acrescida. • Não seja demasiado exigente mas também não superproteja, e jamais assuma atitudes dominadoras. Aposte numa relação equilibrada, com regras justas e equilibradas e muito afeto. Texto: Inês Mendes © Vukx | Stock Free Images & Dreamstime Stock Photos |