Querer fazer o melhor não é propriamente um problema. Bem pelo contrário, pode ser motivador. O pior é que para os perfecionistas o melhor nunca é suficiente Pais atentos podem detetar os primeiros sinais em crianças muito pequenas. Manifesta-se por baixa tolerância às deceções e maus resultados e frequentes estados de cólera sempre que não conseguem levar a bom termo qualquer ação a que elas próprias se propõem. Mas é sobretudo na idade escolar que estes sintomas se manifestam com particular evidência. Saber bem as coisas da matemática - somar e subtrair, multiplicar e dividir -, não basta para estes pequenos rebentos se os números não estiverem bem desenhados, estrategicamente sobre a linha da quadrícula. A arte da escrita até pode ir bem encaminhada, mas se ‘aquela’ letra ainda não sai perfeita... Fazem, apagam, refazem até à exaustão, entre crises de irritação e choro. E, por fim, desistem a maioria das vezes. Ser-se perfeccionista é ser o pior juiz de si próprio, é achar que o que se faz nunca está bem, é nunca sentir orgulho no seu trabalho ainda que a avaliação dos outros aponte precisamente o contrário. É viver num mundo solitário, de angústia e ansiedade latentes. É ter medo de errar e, por isso, deixar de fazer todas aquelas coisas em que não se tem a certeza que correrão bem. É evitar os desafios em vez de enfrentá-los com determinação, deixando passar as oportunidades. Para os perfeccionistas não existe espaço para o fracasso, para o insucesso. Experimentam altos níveis de ansiedade não só perante toda e qualquer situação desconhecida, como diante das pessoas. Acima de tudo, têm um enorme receio de virem a ser rejeitadas pelos seus erros. Segundo algumas teorias, este traço de personalidade, tão perturbador do ponto de vista de quem o vive, é transmitido geneticamente. No entanto, outras estão mais inclinadas a responsabilizar o meio familiar envolvente pelo aparecimento e subsequente desenvolvimento deste comportamento que, quando não detetado a tempo, e acompanhado com afeto e muito tato – em certos casos com ajuda de um técnico especializado -, pode levar a que as crianças se transformem em adultos ansiosos, inseguros e dependentes e, essencialmente, depressivos. Por tudo isto, fique ativamente atento: • Evite sobrevalorizar os pequenos deslizes da criança, de modo a não serem sentidos como algo irremediável e imperdoável. • Nunca descarregue as suas frustrações pessoais (familiares e profissionais) sobre ela, exigindo-lhe um comportamento exemplar, ou seja, isento de qualquer tipo de erro. • Aposte numa boa conversa, mal detete os primeiros sinais de perfeccionismo. Tente perceber o que a perturba e ajude-a a olhar cada tarefa a executar de um ponto de vista mais tranquilo. • Mostre-lhe que também erra, mesmo que tenha de o fazer propositadamente. Comente o seu erro com serenidade, se possível com humor, e resolva-o na sua presença. • Explique-lhe que errar não só é humano como uma fonte inesgotável de aprendizagem. • Não valorize de mais os fracassos nem tão pouco os sucessos. Seja equilibrado nas avaliações, mas dê-lhe sobretudo mensagens de confiança nos momentos certos. • Respeite as suas dificuldades e limitações e não exija que as ultrapasse antes do tempo. Como por exemplo, saber ler e escrever. • Uma vez que fica muito ansiosa perante a possibilidade de vir a executar novas tarefas, prepare-a para esse momento com uma conversa a sério e afetuosa. • Explique-lhe que, à semelhança do que acontece com toda a gente, também é provável que existam coisas que ela vai conseguir fazer e outras não, mas que isso não deve e não pode ser uma limitação e uma desculpa a que se lance em próximos ensaios. Bem pelo contrário, deve funcionar como uma motivação acrescida. • Não seja demasiado exigente mas também não superproteja, e jamais assuma atitudes dominadoras. Aposte numa relação equilibrada, com regras justas e equilibradas e muito afeto. Texto: Inês Mendes © Vukx | Stock Free Images & Dreamstime Stock Photos
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