As birras das crianças podem ser poderosas e são frequentemente uma verdadeira dor de cabeça para pais e cuidadores... Parecem estar em todo o lado e uma simples ida ao supermercado pode ser uma tormenta! Por Sandra Alves, psicóloga (Fale Connosco-Saúde Personalizada) Imagem Fale Connosco-Saúde Personalizada É importante compreender o fenómeno das birras considerando o período desenvolvimentista em que as crianças estão. Se o seu filho se encontra na faixa etária dos 2-5 anos é a altura perfeito para que o Birras queira instalar-se na sua família! Em grande parte, tudo isto se encontra relacionado com as características cognitivas típicas destas idades. Pois, o pensamento das crianças caracteriza-se por algum egocentrismo. Isto é, tendem a perceber as situações apenas do seu ponto de vista, e não se colocam no ponto de vista das outras pessoas, nomeadamente dos pais ou demais cuidadores. Experienciam a mesma dificuldade face à capacidade para anteciparem e compreenderem os sentimentos dos outros - leitura da mente. Desta forma, as crianças centram-se nos seus próprios interesses e negligenciam as regras impostas pelos adultos. Estas dificuldades são mais visíveis se as consequências tiverem lugar a longo – prazo, e não representarem uma ameaça real para a criança. Exemplo, caso de supermercado! Uma criança pede ao pai uma boneca e o pai responde "não te posso dar agora, porque senão não teremos dinheiro suficiente para as compras do final do mês". Esta consequência é demasiado distante para que a criança a possa verdadeiramente compreender e aceitar, pois tem o seu calendário centrado no tempo presente. A acrescentar a todas estas características, a criança começa agora a representar mentalmente o mundo. Percebe que o mundo é feito de imensos estímulos atrativos, que são afinal, feitos para ela! Mas não, não tem de aturar o Birras dentro de sua casa! Deve aliás fechar-lhe a porta! Quando não se colocam termo às birras das crianças, e estas não aprendem que a convivência na sociedade se realiza através de regras, poderá vir a ter entre mãos um futuro ditador. Aqui se seguem algumas sugestões de como estruturar as regras e limites na sua vida diária: Implemente regras claras. Quando se dirige a um sítio público, apresente-lhe as consequências positivas e negativas decorrentes do seu comportamento. Antes de entrar numa loja, estabeleça contacto visual com o seu filho e exponha de forma clara o comportamento que espera e o que vai acontecer como resultado: “Quando entrarmos na loja, quero que fiques ao pé de mim. Não foges para lado nenhum. Se ficares ao pé de mim, divertimo-nos e depois tens uma recompensa. Se não ficares ao pé de mim, vais fazer uma pausa para o carro.” Confirme que o seu filho percebeu as instruções, fazendo-o repeti-las. Dê apoio ao seu filho. Ao entrar num local público, comece imediatamente a comentar de modo positivo o comportamento do seu filho. “Obrigado por ficares ao pé de mim. Gostei muito.” Continue a reforçar a atitude do seu filho com frequência. Use a pausa, se necessário. Assim que o seu filho começar a violar as regras, pode pegar-lhe na mão com firmeza e levá-lo até ao carro (ou canto da loja) para uma pausa de cinco minutos. Não preste atenção à birra. Na presença duma birra, o passo essencial é não satisfazer o pedido da criança. Se o fizer, estará a dizer-lhe que o seu mau comportamento lhe oferece privilégios. Em vez disso, afaste-se da criança e ignore-a. Se não for capaz de tomar esta atitude, retire-a do espaço em que se encontra. Leve-a para casa e coloque-a numa divisão da casa sem distrações, onde possa refletir acerca do seu mau comportamento. Não lhe dê atenção, nem procure dar nenhum sermão à criança nesta altura, pois o seu estado emocional de exaltação não o vai permitir. Quando a birra terminar, converse com a criança. Explique-lhe com clareza que este tipo de comportamentos não leva a nada. Poderá aplicar um pequeno castigo, de acordo com a regra que havia estipulado. Não ameace, aplique o castigo! Seja consistente, se não o fizer, a criança poderá aproveitar-se desse facto para obter mais recompensas. Se decidir aplicar um castigo, faça-o imediatamente a seguir ao mau comportamento. Se deixar passar muito tempo, a criança deixará de associar o castigo a esse comportamento em concreto, pelo que o castigo deixará de ter o efeito pretendido. Planeie de forma adequada a sua rotina. Para evitar confusões e brigas constantes, planeie a sua rotina, e evite levar o seu filho para locais onde se desestabilize frequentemente. Sugestões práticas As crianças destas faixas etárias adoram que lhes contem histórias! Uma forma ótima de colocar em prática todas estas aprendizagens é ler a história "O Birras queria ser da Família da Clara", explicando-lhe sumariamente quem é o Birras e o que faz às crianças. Explique-lhe que as armas para vencer o Birras são as boas maneiras e a educação, e que terá de ser muito corajosa e brava para sair vencedora desta luta! As crianças reagem bem perante desafios, e esta é uma forma de tornar mais divertida uma série de ensinamentos que podem ser muito difíceis de aceitar... Ainda assim, não se iluda, poderão haver recaídas... A regra a usar é a da persistência, sempre!
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Os gesto de afeto reforçam condutas positivas e criam um clima saudável que os ajuda a crescer. AD-Passion/Stockxchng Beijos, conversas, sorrisos, olhares, abraços, carícias... têm uma forte capacidade de estimular a criança pois todos necessitamos de reconhecer e ser reconhecidos e sentir que "eu existo, tu existes". Nem sempre temos consciência do peso educacional de "pormenores" como uma carícia; o calor familiar que se transmite à criança quando a família prepara e partilha de manhã, em conjunto, a mesa do pequeno-almoço; ou os pais despedirem-se todos os dias dos filhos, explicitamente, antes de irem trabalhar. Um beijo ou um abraço faz as crianças sentirem-se queridas, desejadas e protegidas. Neste ambiente "de amor" até o ensino das regras e a aprendizagem de tarefas se tornam mais fáceis. E faz parte das mostras do afeto que temos pelos nossos filhos. A longo prazo, estas condutas construtivas repercutem-se no bem-estar de todos porque se perpetuam no tempo, pois vão passando de geração para geração. Para além de alimento, água, higiene e calor, a criança precisa do contacto com os outros para crescer, desenvolver-se e sobreviver. Os estímulos - neste caso as carícias - são indispensáveis para um desenvolvimento harmonioso. Sem amor é mais difícil crescer. Está demonstrado cientificamente que a privação sensorial num bebé pode ter como resultado não só alterações psíquicas como orgânicas generalizadas. No ventre materno, o feto está em contacto íntimo e total com a mãe, em toda a sua superfície corporal. Ao nascer, esta intimidade é quebrada bruscamente, sendo que a partir daí é o próprio indivíduo que tem de lutar com o meio e as circunstâncias que o rodeiam para conseguir de novo reencontrar esse ideal. Ser abraçado, acariciado, protegido, elogiado... é um meio para lá chegar. Alwyck/Stockxchng Talvez esteja na altura de refletir sobre as grandes mudanças produzidas nos últimos anos na nossa forma de viver. Hoje e cada vez mais as crianças passam muito tempo sozinhas, não vivendo a seu ritmo. Fazer tudo muito depressa parece ser o mais importante e depois não há tempo para escutar, contar histórias ou brincar com os filhos. Estamos demasiado cansados. As crianças vivem com stress, com uma vida demasiado preenchida, cheia de atividades escolares e extra-escolares. Nesta altura, muitos pais já se demitiram do seu papel imbuídos pelos ditames de uma sociedade cada vez mais fria e distante dos afetos. Não têm critérios educativos e tentam compensar a falta de tempo ou de disponibilidade e dedicação tratando-os com excessivamente permissividade ou oferecendo bens materiais. Das três formas clássicas de educação - autoridade, competência e confiança - talvez só funcione a última. Os pais querem democratizar a sua relação com os descendentes adotando estas atitudes protetoras mas desprezando as relações de autoridade que facilitariam o cumprimento das regras. Mais parece que certos pais têm receio de amadurecer ou de assumir o seu papel. Há que reconsiderar esta postura. Por outro lado, os excessos são igualmente desaconselhados. Não devemos abusar do mimo porque deixaria de ser eficaz. Assim, há que conseguir encontrar um ponto de equilíbrio entre mimo e autoridade. Crianças com falta de afeto apresentam maior angústia, agressividade, dificuldade em fazer e ter amigos, insegurança, sintomas de rejeição, atitude reservada... Anissat/Stockxchng O poder das carícias ou da ausência delas é enorme. Por detrás de uma situação de insucesso escolar, por exemplo, pode existir um problema de escassa afetividade, especialmente se os pais não assumem devidamente as suas responsabilidades e o seu papel enquanto modelos e referentes. Existem muitos tipos de famílias, cada um deles com as suas particularidades. Nas monoparentais verifica-se ou muita solidão ou superproteção. São crianças que passam muitas horas sozinhas, por exemplo a ver televisão, ou então não dão um passo sem o controlo da mãe ou do pai, consoante os casos. Atrás de um excesso de birras ou de atitudes de oposição podem estar uns pais desestruturados enquanto casal e cuja situação se reflete nos filhos. Por vezes, quando os pais de separam e voltam a constituir família acabam por ceder e consentir muitas situações para evitar conflitos. Muitos dos problemas educativos que hoje se colocam poderiam resolver-se se os pais aprendessem a ser pais. Os papéis parentais classicamente definidos diluíram-se, o que pode ser positivo se se partilharem obrigações e regras educativas, mas que se torna pernicioso se o posicionamento for o afastamento ou o abandono de responsabilidades. Além disso nunca podemos esquecer que as crianças, por mimetismo, absorvem como uma esponja o estilo relacional dos seus pais. E a influência e o exemplo dos progenitores é inquestionável. Neste contexto, um dos melhores mimos que se pode dar a uma criança é dedicar-lhe tempo e atenção. Porque há, sem sombra de dúvida, uma correlação positiva entre ternura, cuidado, afeto e atenção e o bom desenvolvimento psicológico, emocional, intelectual e físico. |