![]() A Perturbação da Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) é um tema de grande controvérsia: um pesadelo para a criança que sofre... A situação é igualmente difícil para aqueles que a rodeiam Esta perturbação é mais comum do que pensamos e extremamente difícil de gerir para os pais, que muitas vezes não sabem como ajudar a criança a acalmar-se! É difícil reconhecer um filho inquieto como sofrendo de PHDA. O diagnóstico é baseado em critérios específicos, abrangendo tanto o défice de atenção como a própria hiperatividade. Sinais que poderão ser indicadores de uma possível PHDA no seu filho: • Está sempre inquieto; • Está constantemente com arranhões e contusões; • Sempre que está sozinho, algum problema acontece; • É difícil de o controlar quando está em contextos sociais; • Na escola é muito perturbador e sofre de falta de concentração; • Parece indiferente ao perigo e em correr riscos desnecessários; • Não consegue manter sua atenção focada num ponto preciso mais do que alguns minutos; • Não consegue concentrar-se em tarefas e brincadeiras – inclusivamente dificuldade em esperar pela sua vez nos jogos com os pares; • Parece que não ouve nada o que lhe dizem e depois interrompe com facilidade o discurso dos outros; • Perde objectos e os seus pertences com grande facilidade. Existe essencialmente uma base comum entre a hiperatividade e as irrequietudes infantis: a incapacidade de ter calma e dificuldade em manter o foco! Há as crianças naturalmente inquietas, não por causa de uma doença real, mas por vezes devido a uma educação inadequada, onde as crianças não aprenderam a gerir as suas emoções e são facilmente frustradas, o que provoca problemas específicos como a agressão. Outras vezes, a irrequietude da criança é uma reação induzida por um evento pessoal ou familiar: divórcio, depressão num dos elementos parentais, entre outros. O diagnóstico de PHDA com traço orgânico - de causas genéticas e emocionais - pode ser confirmado por testes neurológicos e o seu tratamento requer apoio a longo prazo. E o que pode fazer já? Em casa é imprescindível estabelecer limites, elogiar o seu filho sempre que consegue terminar uma tarefa, repetir o seu discurso todas as vezes que sejam necessárias, limitar os estímulos de forma a controlar a distração e na sala de aula é importante que a criança se sente nos primeiros lugares e longe da janela. A psicoterapia é a pedra angular do tratamento – um acompanhamento individual ou familiar, dependendo da causa da hiperatividade. Para tratar eficazmente esta perturbação, ainda que com o recurso a tratamentos farmacológicos, estes não devem ser utilizados sozinhos, mas sempre combinados com a psicoterapia, envolvendo o contexto familiar e o escolar. Texto: Vera Lisa Barroso (www.mindkiddo.com/www.oficinadepsicologia.com) Imagem: FreeDigitalPhotos.net
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O nascimento de um irmão, a vinda de um bebé e a perda do posto de filho único é um acontecimento difícil para algumas crianças, as quais sentem aquilo a que chamamos Ciúmes ![]() Frequentemente falamos de filhos únicos, que são também netos únicos e sobrinhos únicos. Desde que a vida começou para eles que sempre foi assim, o mais pequeno, o único, sem ter de dividir atenções porque à volta só estão adultos. A vida pode ser dura... O ciúme surge e é normal, especialmente associado ao nascimento do irmão mais novo ou da irmã. Surge como mais problemático e difícil de gerir, geralmente entre os três e os seis anos. Geralmente é associado a pensamentos difíceis de compreender pela própria criança, de expressar ou controlar: “ Os meus pais já não vão ter mais tempo para mim”; “Ele é bebé e por isso é mais engraçado”; “ Os meus pais vão gostar mais dele do que de mim”; “ Vão dar-me menos mimos porque têm de dar ao meu irmão...”. Enfim, angústias da antecipação do que será a vida de filho partilhada com um irmão, que fazem parte do desenvolvimento e desta mudança na vida e que por vezes levam a consequências diversas: comportamentos negativos para chamar a atenção, comportamentos regressivos, típicos de idades mais precoces (os chichis na cama, voltar a pedir chucha, querer andar ao colo, dormir com os pais...). O ciúme cumpre uma função, é normal, não podemos eliminá-lo, mas é possível ajudar os mais novos a conseguirem controlá-lo, a compreenderem-no, a fazer com que se manifeste em menos ocasiões e a conseguir enfrentá-lo quando se sentem “atacados” pelo ciúme. Os pais podem ajudar o filho mais velho a lidar com o ciúme do irmãozinho mais novo mesmo que ainda esteja dentro da barriga da mãe ou ainda não viva com a família (no caso de uma adoção). É essencial uma boa dose de compreensão, paciência, dando tempo para que se consiga habituar à nova realidade e muito apoio. Com a ajuda dos pais, ultrapassar a fase de ciúmes será um motor de desenvolvimento e de maturidade para o seu filho mais velho, que sentirá que tem competências e é capaz. E como pode ajudar o seu filho a lidar com a chegada de um irmão? - É essencial que promova momentos de compreensão e de expressão dos ciúmes do seu filho. Exteriorizar, conseguir expressar o que angustia como o ciúme é extremamente importante para aprender a lidar com a situação; - Desde o início da notícia da vinda de um irmão mais novo, incluir o seu filho mais velho na decoração do quarto, nas compras para o bebé, na preparação e no crescimento da barriga pode facilitar o seu sentimento de pertença, tornando a vinda do irmão como um plano conjunto de toda a família; - Reserve sempre um tempo especial e único para o seu filho mais velho e combine com ele quando o poderão fazer apenas os dois. Mesmo que seja pouco tempo, será essencial e valorizado por ele; - Valorize-o pela idade que tem, partilhando com ele tarefas que ele consiga fazer relacionadas com as novas rotinas do bebé como encher o biberão, pedir-lhe uma fralda, ajudar no banho, escolher a roupa e elogie-o por ser capaz e por ser uma ajuda preciosa para si; - Crie momentos de conversa para promover a partilha de sentimentos pelo seu filho, pondo-se no lugar dele: “Imagino que às vezes seja difícil agora não termos tanto tempo juntos” ou “ Sei que às vezes te apetecia que estivessemos sozinhos...”. Com este tipo de frases, vai sentir-se mais compreendido e acompanhado. À medida que responde ou mesmo que não responda pode ir fazendo festinhas, dando-lhe abraços e dizendo como se sente orgulhoso(a) das atividades e tarefas em que ele tem um bom desempenho; - Estabeleça com ele uma parceria, propondo que se partilharem tarefas relativamente ao bebé poderão ter mais tempo para estarem os dois a conversar ou a fazer alguma atividade; - Não se esqueça de cumprir os momentos especiais com o seu filho, se foi combinado há que cumprir; - Quando fala com o bebé, diga-lhe frequentemente “ Que bom teres um irmão mais crescido que nos ajuda tanto e te pode ensinar tantas coisas!”; - É importante incluí-lo e valorizá-lo, mas incutir-lhe também a ideia de que nem sempre ambos os irmãos terão os mesmos presentes. Por vezes terá um, outras vezes terá outro. É um momento novo, exigente, que pode ter uma fase de angústia. Com compreensão, tranquilidade e paciência, certamente o seu filho mais crescido enfrentará os ciúmes como um guerreiro e a vinda do irmão mais novo será um momento que o fortalecerá! Texto: Rita Castanheira Alves, psicóloga clínica (www.mindkiddo.com/www.oficinadepsicologia.com) Imagem: © Alena Root - Fotolia.com ![]() Há crianças assim: amáveis, bem-educadas, que merecem desde logo a nossa estima. Mas não tenha dúvidas: o comportamento delas é fruto da educação que recebem Fundamentais para o bem viver em sociedade, as boas maneiras, quando sinceras, são também sinais de uma profunda consideração pelos outros. Por isso, antes da aprendizagem das regras de cortesia, é prioritário ensinar a criança a respeitar os sentimentos e direitos dos outros. Tudo está intimamente ligado e aprende-se em casa, na relação com os pais, onde se moldam os principais traços do caráter. E só os bons exemplos podem ajudar a interiorizar cada uma dessas noções. Dito de outra forma, a criança precisa de viver num ambiente em que todos os membros da família se relacionem com delicadeza e respeito, que sejam afáveis uns com os outros e solidários entre si e com os demais. É claro que estes princípios devem ser incutidos relativamente cedo, com regras e afeto, tendo em conta as diferentes etapas do desenvolvimento, pois não se pode exigir o mesmo aos dois anos de idade ou aos cinco. No que respeita a boas maneiras, é desejável que os pais levem o bebé a adotar um comportamento positivo desde que começa a falar. Apesar de ainda não compreender de facto o significado de palavras como “obrigado” ou “por favor”, é desejável que aprenda a pronunciá-las, coisa que seguramente fará desde que as ouça com frequência, quando se dirigem a si e as escute no diálogo daqueles que o rodeiam. A seu tempo, passará a pensá-las efetivamente. Posteriormente, aprenderá a cumprimentar os amigos da família e os amiguinhos, com um “bom dia”, um “até manhã”, um aperto de mão ou um beijinho. São comportamentos básicos e necessários, que possibilitarão a aquisição de outros quase naturalmente. E então teremos uma criança verdadeiramente atenciosa, educada e respeitadora, disponível a ceder o seu lugar sentado no autocarro, a agradecer um presente, a olhar o outro como se olhasse para dentro de si. É natural que ao longo deste processo de aprendizagem possa falhar pontualmente, sendo rude por exemplo. Não deixe passar em branco, logo que fiquem sozinhos converse sobre o assunto. Mas, sobretudo, tenha presente uma verdade inabalável: o comportamento do seu filho depende em grande medida da educação que recebe! Texto: Inês Mendes © Greenland | Stock Free Images & Dreamstime Stock Photos Querer fazer o melhor não é propriamente um problema. Bem pelo contrário, pode ser motivador. O pior é que para os perfecionistas o melhor nunca é suficiente ![]() Pais atentos podem detetar os primeiros sinais em crianças muito pequenas. Manifesta-se por baixa tolerância às deceções e maus resultados e frequentes estados de cólera sempre que não conseguem levar a bom termo qualquer ação a que elas próprias se propõem. Mas é sobretudo na idade escolar que estes sintomas se manifestam com particular evidência. Saber bem as coisas da matemática - somar e subtrair, multiplicar e dividir -, não basta para estes pequenos rebentos se os números não estiverem bem desenhados, estrategicamente sobre a linha da quadrícula. A arte da escrita até pode ir bem encaminhada, mas se ‘aquela’ letra ainda não sai perfeita... Fazem, apagam, refazem até à exaustão, entre crises de irritação e choro. E, por fim, desistem a maioria das vezes. Ser-se perfeccionista é ser o pior juiz de si próprio, é achar que o que se faz nunca está bem, é nunca sentir orgulho no seu trabalho ainda que a avaliação dos outros aponte precisamente o contrário. É viver num mundo solitário, de angústia e ansiedade latentes. É ter medo de errar e, por isso, deixar de fazer todas aquelas coisas em que não se tem a certeza que correrão bem. É evitar os desafios em vez de enfrentá-los com determinação, deixando passar as oportunidades. Para os perfeccionistas não existe espaço para o fracasso, para o insucesso. Experimentam altos níveis de ansiedade não só perante toda e qualquer situação desconhecida, como diante das pessoas. Acima de tudo, têm um enorme receio de virem a ser rejeitadas pelos seus erros. Segundo algumas teorias, este traço de personalidade, tão perturbador do ponto de vista de quem o vive, é transmitido geneticamente. No entanto, outras estão mais inclinadas a responsabilizar o meio familiar envolvente pelo aparecimento e subsequente desenvolvimento deste comportamento que, quando não detetado a tempo, e acompanhado com afeto e muito tato – em certos casos com ajuda de um técnico especializado -, pode levar a que as crianças se transformem em adultos ansiosos, inseguros e dependentes e, essencialmente, depressivos. Por tudo isto, fique ativamente atento: • Evite sobrevalorizar os pequenos deslizes da criança, de modo a não serem sentidos como algo irremediável e imperdoável. • Nunca descarregue as suas frustrações pessoais (familiares e profissionais) sobre ela, exigindo-lhe um comportamento exemplar, ou seja, isento de qualquer tipo de erro. • Aposte numa boa conversa, mal detete os primeiros sinais de perfeccionismo. Tente perceber o que a perturba e ajude-a a olhar cada tarefa a executar de um ponto de vista mais tranquilo. • Mostre-lhe que também erra, mesmo que tenha de o fazer propositadamente. Comente o seu erro com serenidade, se possível com humor, e resolva-o na sua presença. • Explique-lhe que errar não só é humano como uma fonte inesgotável de aprendizagem. • Não valorize de mais os fracassos nem tão pouco os sucessos. Seja equilibrado nas avaliações, mas dê-lhe sobretudo mensagens de confiança nos momentos certos. • Respeite as suas dificuldades e limitações e não exija que as ultrapasse antes do tempo. Como por exemplo, saber ler e escrever. • Uma vez que fica muito ansiosa perante a possibilidade de vir a executar novas tarefas, prepare-a para esse momento com uma conversa a sério e afetuosa. • Explique-lhe que, à semelhança do que acontece com toda a gente, também é provável que existam coisas que ela vai conseguir fazer e outras não, mas que isso não deve e não pode ser uma limitação e uma desculpa a que se lance em próximos ensaios. Bem pelo contrário, deve funcionar como uma motivação acrescida. • Não seja demasiado exigente mas também não superproteja, e jamais assuma atitudes dominadoras. Aposte numa relação equilibrada, com regras justas e equilibradas e muito afeto. Texto: Inês Mendes © Vukx | Stock Free Images & Dreamstime Stock Photos ![]() Simplicidade e criatividade! Eis como se pode definir esta prática quando realizada com os mais pequenos As crianças adoram meditar. É algo inato para elas, pelo que pode dizer-se que não se ensina, relembra-se. Sentem-se mais calmas e felizes após a prática, num ambiente de calma, brincadeira e imaginação. A Meditação é uma “faculdade” natural do ser humano e que cada um de nós tem a sua forma de o fazer. Não há uma maneira exata e correta, não há uma posição obrigatória, nem o tempo certo de o fazer. As crianças que praticam meditação aprendem e desenvolvem técnicas para relaxar física e emocionalmente, conseguindo lidar melhor com os habituais medos, ansiedades, timidez, agressividade e hiperatividade (que mais não são do que energia mal canalizada). Não é por acaso que esta constitui já uma prática habitual em muitas escolas (principalmente na América e na Ásia), pois o mundo científico comprovou os imensos benefícios que provoca nos campos da saúde, autoconhecimento e relacionamento com os outros. Hoje em dia, torna-se essencial a meditação para as crianças. A vida agitada dos tempos modernos têm influência no seu desenvolvimento: stress, ansiedade, falta de concentração, distúrbios do sono e agressividade são só alguns dos problemas que cada vez mais as atinge. Todos estes efeitos são consequências daquilo a que elas são expostas diariamente: o tempo contado ao segundo, jogos violentos, uso indiscriminado da televisão, trabalhos escolares e atividades extra-curriculares em demasia, falta de tempo de qualidade com os pais para que se possam conhecer verdadeiramente e criar uma completa envolvência emocional. Que é podemos esperar de tudo isto? Saiba pois que há algo dentro de cada um de nós que pode ser a cura que procurávamos. Meditar é isto mesmo: parar o “barulho” da nossa mente e encontrar o nosso “centro” para que possamos direcionar as nossas energias. A meditação para crianças retoma este conhecimento. Exercícios que remetem para o seu interior, complementados com outros de criatividade que mostram novas realidades. As meditações são guiadas e têm por base o universo infantil, e os exercícios de criatividade possuem utilidade prática uma vez finalizados. Meditação não significa estar muito quieto, de pernas cruzadas e olhos fechados; significa, sim, dar-lhes tempo e espaço para serem criativas, para praticarem a atenção e estarem livres de preocupações e da ansiedade transmitida diariamente, um processo que pode beneficiar muitos pais no seu envolvimento com os filhos. Na meditação para crianças, elas são convidadas a “passear” com os olhos da alma. Os efeitos a curto prazo são visíveis e comprovados cientificamente: aumento da capacidade de concentração, melhoria no aproveitamento escolar, melhor gestão das emoções, redução dos problemas de saúde, entre outros. A longo prazo, o melhor efeito será um adulto equilibrado e com uma inteligência emocional acima da média e por isso mesmo a meditação introduzida logo na primeira infância é uma ferramenta preciosa para descobrirmos a nossa felicidade. Principais benefícios Espirituais - Despertar e fortalecimento do corpo de luz - Crescimento espiritual - Abertura de consciência - Consciência da energia pessoal, a base do Ser - Noção do poder da aura - Enraizamento - Entendimento sobre realidades paralelas Concretos - Autodisciplina - Auto-estima - Auto-afirmação - Paz interior - Criatividade - Sensibilidade musical - Contacto com o imaginário - Foco nos momentos de estudo - Gestão de stress emocional Práticos - Maturidade emocional - Estabilidade na aprendizagem - Saúde - Estabilidade no sono - Redirecionamento das energias hiperativas - Produção de peças criativas - Disciplina - Bons relacionamentos inter-infantis - Independência - Assertividade - Reconhecimento dos parâmetros facilitados pelos adultos pela compreensão Texto: Daniela Ventura (http://www.celestialcocoon.com/) Imagem: goce risteski - Fotolia.com ![]() É fundamental que a família saiba responder às perguntas com a mesma naturalidade com que elas forem colocadas, utilizando o vocabulário próprio às suas fases de desenvolvimento Hoje em dia já não passa pela cabeça de ninguém explicar que os bebés vêm de Paris transportados por uma bonita cegonha branca, por mais ternurenta que seja a imagem. No entanto, muitos pais continuam a sentir-se embaraçados quando os filhos lhe fazem perguntas deste género, não sabendo sinceramente se desviar a conversa ou antes alimentar qualquer outra história do género, igualmente desfocada da realidade. Mas a verdade é que a educação para a sexualidade e os afectos começa muito cedo, e há que estar preparado para abordá-la logo que a criança demonstre curiosidade sobre o tema. Normalmente, esta fase inicia-se por volta dos três anos de idade, quando começam a interrogar-se sobre as diferenças entre os sexos. Dúvidas de caráter anatómico, prioritariamente. Depois é a mãe, uma tia ou uma vizinha que engravida, suscitando a célebre pergunta “de onde vêm os bebés?”, para logo depois irem mais longe no seu raciocínio “e por onde saem?”, “como é que eles entraram para aí?”, “como se fazem os bebés?” Todas estas questões em catadupa podem não ser fáceis, e a explicação da segunda ou da terceira implica forçosamente que já se tenha esclarecido a primeira. Há um encadeamento lógico entre elas, tão possível de fluir quanto maior for a confiança entre a criança e os seus progenitores. No fundo é bom sinal que isso aconteça. Mas também há crianças que chegam aos seis e sete anos de idade sem nunca terem levantado semelhantes assuntos, deixando os pais convencidos de que nunca pensaram realmente nele. Mas não necessariamente. Este grupo opta normalmente pelas alusões indiretas ao assunto, ficando ativamente atentos às reações (uma menina por exemplo, pode passar a fazer chichi em pé). Evite tanto quanto possível que estas situações aconteçam, que é o mesmo que dizer, tome você própria a iniciativa, conjuntamente com o outro progenitor, de falar-lhe de algo tão maravilhoso como a origem da vida. O silêncio nem sempre é de ouro. Assim, com a maior das naturalidades, responda às coisas do sexo, mostrando-se disponível a esclarecer todas as dúvidas que vierem pela vida fora. Faça-a sentir, sobretudo, que a sua curiosidade é saudável e importante no caminho de uma sexualidade sã, segura e responsável. • Utilize termos simples e adequados a cada idade. Se eventualmente costumam referir-se aos órgãos genitais com palavras como “pilinha” e “pombinha” ou “pipi”, continue a utilizá-las. Com os mais velhos, pode começar a introduzir os “nomes científicos”. Tenha especial atenção com a linguagem utilizada, de forma a evitar que ajuízem o sexo como algo negativo ou violento. • Leve em conta a idade e maturidade quer afectiva quer intelectual do seu filho, de forma a poder avaliar o tipo e a quantidade de informação que deve transmitir-lhe. De qualquer forma não empolgue de mais a questão, a própria criança dará a entender até onde os pais podem chegar. • Diga a verdade com naturalidade, através de respostas claras e directas. A imagem da pequena semente colocada pelo papá pode servir em determinada idade, como explicação de como os bebés crescem no seio materno. Além disso funciona como uma excelente forma de evidenciarem o papel deste na conceção. • Evite rodeios e jamais dê ao tema um carácter algo insólito, acompanhado de um conjunto de sinais pouco recomendáveis, tais como risinhos e outros gestos que podem ajudar a criar um clima de tabus à volta do assunto. • Acima de tudo é importante ensiná-los a aceitar o seu próprio sexo e a recusar qualquer atitude sexista. Quando chega a puberdade Ao longo deste período da vida e por maior abertura que tenha existido com os pais, os jovens tem tendência a fechar-se num mundo só deles, a braços com novas tarefas mas também com novas pulsões. As perguntas cessam, mas geralmente sabem sempre mais do que se imagina. Sem desrespeitar essa intimidade e pudor, natural da fase que atravessam, mostre-se igualmente aberto a falar sobre sexualidade e afectos, no mesmo tom natural. É verdade que muitos progenitores denotam uma certa dificuldade em fazê-lo por esta altura, mas há que ultrapassar esta limitação, esta espécie de vergonha sem sentido. Até mesmo porque eles continuarão a informar-se através de outros canais, nem sempre saudáveis, e que levam a muitas deformações. Mais uma vez, tome a iniciativa, por exemplo, oferecendo-lhe um bom livro sobre o assunto. É um excelente começo de conversa e que poderá funcionar como complemento ao que vão aprendendo na escola, a quem cabe neste momento também manter os jovens no bom caminho na questão da sexualidade e dos afetos. Texto: Inês Mendes / Imagem: Dreamstime.com ![]() A medida dos afetos não se vê pelos presentes, antes no tempo que se dedica à criança. Enquanto brincam, os progenitores preparam o caminho da autonomia que passa pela aprendizagem da tomada de decisões. Ainda no ventre materno, a criança desejada é acarinhada com ternura enquanto a mãe sonha com um bom futuro para ela. Que seja saudável e linda – a mais bonita das crianças, – que seja feliz, que caminhe na rota certa e direita da vida e, finalmente, quando for grande tenha êxito nas relações sociais e profissionais. É natural, mas nada cresce de um simples desejo por mais forte que seja. Tudo se constrói, uma parte condicionados pelo ambiente que nos rodeia, já que a outra é só nossa, aquela que faz parte de um eu indivisível. Tendo em conta e respeitando este ‘tesouro’ único, cabe aos pais facilitar o resto, o treino de todos os ingredientes necessários à autonomia, à autoconfiança e auto-estima. Para o melhor e para o pior somos, em grande parte, resultado do que recebemos ou não na nossa infância. Começamos a registar antes de perceber... impressões que colocamos na caixa do tempo para um dia irmos ou não buscar, mas que se refletem continuamente no nosso caráter, na relação connosco mesmos e com os outros. Por isso é que educar não é tarefa fácil mas um desafio fascinante. Seja qual for a sua própria experiência, zele para que o futuro do seu filho seja risonho e seguro. Comece já, colocando em prática alguns conselhos. • Dedique-lhe tempo. Aproveite as oportunidades para brincar e jogar com o seu filho, ouvir as histórias que tem para contar-lhe e responder às suas dúvidas sempre com honestidade, coerência, respeito e todo o carinho. • Dê valor aos seus sentimentos e ideias. É uma condição importantíssima na construção da autoconfiança e um excelente estímulo a futuros encontros de amizade, pautados pela cordialidade. Ajuda a desenvolver o sentido de sociabilidade. • Aceite-o e respeite-o tal como é. Para que ele também possa fazê-lo, ou seja, aprenda a gostar e a apreciar-se pelo que é (isto não significa que se tiver de limar alguma aresta não o faça). Por outro lado, é um excelente exemplo de tolerância. • Saiba ser firme mas também benevolente. O facto de as regras serem fundamentais na educação e orientação das crianças e que exigem firmeza para que possam ser aplicadas, isso não significa que quando infrigidas, esporadicamente, tenham de ser punidas com castigos exagerados. Procure o equilíbrio. • Ensine-o a ser responsável e disciplinado. Para isso, lembre-se de que é preciso criar-lhe espaço e saber aceitar os erros dos primeiros ensaios. Dê-lhe tarefas à medida da idade para que se sinta útil e treine a responsabilidade. • Esteja atenta aos seus estados de espírito. Leve em conta as suas preocupações, convide-o a falar no assunto e ajude-o a secar as lágrimas, com afeto mas sem pieguices. • Transmita-lhe o mais possível mensagens positivas. Esta é uma das condições para apanhar a estrada certa do futuro, com coragem e espírito combativo, o que nos faz sentir um enorme bem-estar interior. • Ensine-o a tomar as próprias decisões. Mesmo que veja que vai errar, deixe-o experimentar por conta própria. É bom que se habitue a tomar nas mãos os desafios, construindo uma personalidade forte e lutadora. Texto: Inês Mendes Imagem: Marzanna Syncerz/PhotoXpress ![]() O desenvolvimento geral de cada criança não é padronizado, mas a família pode e deve ser participativa nas suas aprendizagens Apesar de ainda não conseguir expressar-se por palavras – ou simplesmente não queira arriscar até se sentir segura – a criança muito pequena está apta a captar todas as energias que povoam o meio que a rodeia. E nesse aspeto, é uma “esponja”, absorvendo tudo. A linguagem é uma habilidade, talvez, mas sobretudo resultado de um processo de aprendizagem, onde raciocínio e imitação também lá estão. Tudo começa com o palrar tão ternurento e sempre sedutor, depois aparecem os sons com significado, palavras soltas reforçadas com sinais, até que, juntando-as, descobre-lhes o sentido. A caminhada começa por volta do primeiro ano de vida, mas o progresso pode estar ligado a vários fatores. Pelo menos os especialistas defendem que o temperamento e a personalidade do bebé, assim como a forma como é tratado e o tipo de atmosfera que o rodeia têm muita influência. Um bebé afetuoso e comunicativo por excelência supostamente terá mais necessidade de aprender os segredos da linguagem para entender e fazer-se entender claramente, enquanto outro de natureza mais calma, preferirá observar e estudar o mundo exterior antes de afirmar a seu conceito sobre o mesmo. Mas não é menos verdade que a falta de estímulo pode ser um entrave à aprendizagem da linguagem. Se a mãe, essa figura tão importante na sua vida, passa as horas a seu lado mas fechada sobre si mesma, a criança sentirá que também não precisa de comunicar. Da mesma forma, o contrário levado a extremos, ou seja a criança que é quase perseguida para falar ou que lhe colocam tudo nas mãos sem que sinta necessidade de expressar-se para o obter pode sentir-se no primeiro caso inibida, no segundo que não vale a pena esforçar-se. Mas é claro que tudo isto é relativo, pois não faltam casos que deitam algumas destas teses por terra. Por isso, aja com tacto: respeite o ritmo do seu filho, felicite-o por cada progresso, nunca o compare com os outros meninos, evite transmitir-lhe ansiedade, fale com ele em todas as situações – enquanto o alimenta e lhe dá banho... – peça-lhe os objectos, dando-lhes o nome próprio, identifique as tarefas onde se envolvem e as brincadeiras. E um dia, quando menos esperar, ele desabrochará para a arte das palavras, tornando-se um ser cada vez mais sociável. Texto: Inês Mendes / Imagem: Dreamstime.com |