Cada criança é uma semente de futuro e cabe a nós, crescidos, oferecer-lhes um solo fértil e nutritivo que lhes permita tornarem-se adultos equilibrados e felizes (20 de novembro, Dia Internacional dos Direitos da Criança). Por Alexandra Rosa, psicóloga, Fale Connosco – Saúde Personalizada Um lar, colo, beijinhos e cócegas, abraços apertados, cavalitas e cambalhotas.
Pais e mães que se sentam no chão, brincam com plasticinas, fazem vozes engraçadas e não têm medo de se sujar. Pais e mães com paciência, que deixaram o trabalho e as ralações fora de casa, escutam, entendem e param o mundo para simplesmente as amar. Um lar com afetos mas também com regras, com ralhetes mas sem berros. Ajudas nos trabalhos de casa, aconchegos na hora de dormir, livros declamados na pontinha da cama e monstros expulsos do quarto porque têm que ir sonhar. Cenouras e brócolos no prato, a carne e o peixe, a sopa quentinha e a fruta descascada a rivalizarem com o bolo de chocolate da avó e o gelado que se foi comprar, de mão dada, com o avô. Ir ao médico, levar vacinas e tomar xaropes quando está doente, perante os olhos ansiosos de quem tem um coração apertadinho. A correria com os primos pelos corredores da casa dos avós e tios, idas à praia, brincadeiras nos parques. Pais preocupados com o futuro, a escola e os amigos, pais que passam noites em claro, por doença ou por receio. Ter quem lhes vista um casaco quando elas não querem (apesar de chover lá fora), quem as carregue no colo quando estão cansadas, quem lhes diga sem medo EU AMO-TE MUITO! Quem lhes chame nomes patetas como Fofinho/a, Bebé, Amorzinho ou Príncipe/Princesa. Quem as eduque e explique que se diz por favor e obrigado, que não se dizem mentiras e que os outros — pequeninos e crescidos — têm sentimentos. As crianças têm direito a tudo isto porque isto é ter uma família. Não bastam as pessoas existirem em seu redor, é preciso que elas ofereçam amor, dedicação, comprometimento, limites e segurança.
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Um novo estudo realizado pela Initiative sobre os pais da geração milénio (entre os 25 e os 34 anos) afirma que a paternidade lhes traz uma nova energia de vida e um maior otimismo, mesmo em tempos de incerteza económica. O estudo, realizado em 19 mercados em todo o mundo para ajudar os clientes da Initiative a conhecer melhor este público tão importante, mostra que os Pais Milénio estão a redefinir a paternidade. Entusiastas, dispostos a pôr a mão na massa, confiantes e financeiramente estáveis, estes pais são um público essencial para as marcas, que devem desenhar a sua comunicação de forma a reafirmar estas caraterísticas. De acordo com os resultados obtidos, este grupo encara a paternidade – que alguns poderiam ver simplesmente como uma situação económica complicada – como uma oportunidade para levar uma vida mais criativa, ousada e empreendedora. Veem a paternidade como uma oportunidade de se aplicarem e se focarem noutras prioridades. De facto, 70 por cento dos Pais Milénio acreditam que agora têm mais escolhas sobre a forma como querem viver as suas vidas. Em comparação com aqueles que não são pais ou com as Mães Milénio, estes pais têm 67 por cento maior probabilidade de achar que as mulheres têm as mesmas oportunidades que os homens, o que pode indicar que veem os seus papéis na família de uma forma mais igualitária. Com uma maior consciência social, os Pais Milénio envolver-se-ão com maior probabilidade com marcas que apoiem causas sociais. A paternidade também altera a forma como fazem as compras – são mais ativos e informados e procuram mais dados sobre bens domésticos. Para além disso, 45% dos Pais Milénio afirmam que as marcas desempenham um papel importante nas suas vidas, comparados com 39% daqueles que não são pais. Talvez por isso, a probabilidade de recomendarem marcas é muito maior (65%) do que no caso dos não pais (56%) ou mães (60%). Influência da tecnologia A relação com a tecnologia é também impactada. Têm mais aparelhos do que as outras pessoas da sua geração: 62% dos pais têm três ou mais dispositivos e 82% têm um smartphone – o primeiro recurso a usar quando querem pesquisar informação sobre um produto. Francisco Teixeira, Managing Director da Initiative em Portugal, afirmou: “O nosso estudo revelou que há um forte contraste na forma como a parentalidade afeta as mães e os pais da geração milénio. As mães mostraram ser mais ansiosas do que os pais. Os pais revelaram-se mais confiantes sobre a sua situação financeira e demonstraram ter uma abordagem mais otimista perante a vida. Em geral, o cenário dos Pais Milénio foi muito positivo; e, curiosamente, esta foi uma caraterística global, mostrando que a geração milénio, mães e pais, estão a redefinir a paternidade em todo o mundo.” Durante muito tempo a depressão em crianças e adolescentes passou despercebida, não sendo alvo de muita atenção ou preocupação. Por: Tânia da Cunha* Estima-se que cerca de dois por cento do total de crianças em idade escolar e aproximadamente cinco por cento dos adolescentes sofrem de depressão. No entanto, muitas vezes torna-se difícil fazer o diagnóstico, precisamente porque nestas idades é frequente que a depressão se manifeste simultaneamente com outras doenças. Para além de uma predisposição genética, há outros fatores que facilitam o aparecimento de uma depressão durante a infância. Um desses é a mudança natural do jardim infantil para a escola primária. O meio envolvente da criança age pois como uma influência direta. Outro fator verifica-se quando os pais têm frequentemente discussões violentas e o ambiente em casa nada tem de afetuoso e de acolhedor para a criança. Os primeiros sintomas de uma perturbação na primeira infância começam a manifestar-se quando a criança é ainda bebé. Uma das causas possíveis será o facto de separar da mãe uma criança de tenra idade, não lhe proporcionando uma relação estável com uma outra pessoa que a substitua. O sofrimento pode sobressair de diversas formas, desde o choro constante até à falta de apetite. As crianças em idade pré-escolar expressam esse sofrimento mais através da mímica, da expressão do rosto, do que por palavras. Também pela observação da postura corporal se podem detetar sinais do seu estado anímico. Quanto às crianças já em idade escolar, é importante dar atenção ao que elas nos dizem. Se lhes fizermos perguntas para explorar o seu estado de espírito, ou se estivermos atentos àquilo que pretendem transmitir pelas suas atitudes, saberemos que não se sentem suficientemente amadas. Existem determinados aspetos, como a expressão de uma tristeza profunda, que nos podem indicar sintomas depressivos numa criança. Simultaneamente a este estado psíquico e de uma diminuição da auto-estima, pode também manifestar-se um comportamento agressivo. Muitas crianças começam nesta fase a mentir cada vez mais, ou a evidenciar a prática de furtos. De modo geral, estas crianças tornam-se inseguras e revelam problemas de relacionamento. Tem se verificado que existem dificuldades no comportamento em grupo e que reagem pelo isolamento social. No final da adolescência pode manifestar-se uma atitude triste e deprimida. A ausência de esperança e o medo do futuro podem até dar origem a uma fuga à realidade, através do consumo de drogas. É inquietante o facto de as queixas depressivas de uma criança ficarem muitas vezes sem tratamento até à idade adulta. Lembre-se de que o diagnóstico precoce e uma intervenção adequada são fatores decisivos. *Psicóloga Clínica/Psicoterapeuta Telemóvel: 967564420 E-mail: [email protected] Muitos são os pais que se perguntam o que fazer com o filho com dificuldades de coordenação motora. A verdade é que existem crianças que a certa fase do seu desenvolvimento começam a evidenciar algumas dificuldades. O que acontece é que muitas das vezes essas dificuldades têm um impacte nas atividades académicas (manusear o lápis, escrever, aulas de ginástica) e também nas atividades da vida diária (ex. vestir, calçar, etc) e os pais começam a ficar preocupados e sem saber muito bem o que pensar e fazer para ajudar o seu filho. E, com o passar do tempo, a criança vai crescendo e tal como as exigências funcionais em casa, na escola e na comunidade vão aumentando…também as dificuldades! Muitas vezes ouvimos expressões como “o meu filho é muito desajeitado”, “é trapalhão a vestir-se”, “parece que não consegue estar sentado à mesa sem deitar tudo ao chão” e na realidade é mesmo isso que acontece nas crianças com dificuldades na coordenação. SINAIS Existem alguns sinais que deve estar atento e que poderão indicar dificuldades do seu filho ao nível da coordenação: O QUE POSSO FAZER?
1. Esteja atento · Observe o seu filho e tente perceber se as dificuldades motoras têm impacte em casa (atividades da vida diária); · Comunique com a escola e perceba se essas dificuldades também se verificam na escola e se estão a prejudicar o desempenho académico do seu filho. 2. Brinque com o seu filho, promovendo actividades lúdicas mas com uma componente mais motora. Atividades de motricidade global - Correr, saltar, subir e descer escadas, trepar; - Atirar e receber bola com as mãos e chutar; - Imitar (ex: animais - caranguejo, sapo, elefante; super heróis - homem aranha, power ranger, etc); Atividades de motricidade fina - Desenhar livremente, desenhar figura humana, desenhar casa; - Pintar dentro de contornos; - Modelar plasticina (apertar, esticar, fazer formas, esconder objetos pequenos tais como feijões ou missangas na plasticina); - Recortar (linhas, círculos, várias formas); - Atividades com pinças (ex. passar berlindes de um sítio para o outro com uma pinça); - Actividades com molas (ex. montar sequências de imagens colocadas em molas numa corda). 3. Procure ajuda - Fale com o pediatra do seu filho explicando as dificuldades de coordenação do seu filho; - Procure um terapeuta Ocupacional. O que o Terapeuta Ocupacional irá fazer? 1. Avaliar as dificuldades nas competências motoras (e outras áreas) bem como o seu impacte nas atividades académicas e nas actividades da vida diária; 2. Desenhar um plano que pode incluir: · O desenvolvimento das competências motoras (e outras áreas) através de jogos/atividades terapêuticas. · Treinar o desempenho das várias atividades da vida diária (autocuidados, brincar, aprendizagem); · Aconselhar mudanças no ambiente ou equipamento que facilitem realização das atividades; · Aconselhar pais e professores. Saber mais Missiuna, C., Rivard, L. & Pollock, N. (2011). DCD - CanChild Centre for Childhood Disability Research. Canadá: McMaster University. - Ayres, J (2005). Sensory integration and the child: understanding hidden sensory challenges. USA: WPS. http://www.dyspraxiafoundation.org.uk/about-dyspraxia/ -http://www.aota.org/-/media/Corporate/Files/AboutOT/Professionals/WhatIsOT/CY/Fact-Sheets/Children%20and%20Youth%20fact%20sheet.pdf Estudos demonstram a importância da vida social das crianças. É, segundo os especialistas, o indicador mais fiável de felicidade futura, muito mais do que o sucesso académico ou económico. Harry Stacke Sullivan, psiquiatra norte-americano, acredita que um bom amigo na adolescência é condição essencial para o desenvolvimento da personalidade, um passo vital para a maturidade. Das oito coisas que uma criança necessita para a sua vida social, sete resultam da amizade e apenas uma do grupo. Esta componente favorece o afeto, a intimidade e o sentido de aliança, ao passo que o grupo providencia o sentido de inclusão. Por que é que os filhos detestam que os pais se imiscuam nos seus assuntos, desconfiam deles e até respiram fundo quando saem do seu quarto? É um facto confirmado que as crianças não gostam que os pais interfiram nas suas amizades e relações sociais, pois estão convencidas de que a ajuda que querem dar só agravará as coisas. No entanto, a atitude colaboradora destes e dos professores é sempre necessária, embora tenha de ser exercida com subtileza para não parecer o que é, para estar a par do que se passa e saber pôr as coisas no seu devido lugar sem dramatismos nem agressividade. A traição de um amigo, a crueldade dos colegas de escola, a competitividade material em vez do repto intelectual, constituem parte inevitável do processo da aprendizagem social das crianças, mas muitas vezes os pais desconhecem os problemas dos filhos, motivados pelo afastamento ou dificuldade em integrar-se no seu ambiente escolar. Um estudo levado a cabo nos Estados Unidos, com câmaras ocultas, revelou que, em determinada altura, entre os três e os quatro anos as crianças em grupo têm comportamentos diferentes quando estão com adultos e quando estão sós. Provavelmente, não por querem ocultar alguma coisa mas pelo desejo de serem elas próprias e desfrutar à sua vontade. Como é a vida social das crianças? Qual o papel dos adultos nela? O psicólogo Michael Thompson aconselha que se fale com as crianças não só quando estas têm problemas ou sofrem por qualquer motivo. O diálogo quotidiano, desde que nascem, tece fios invisíveis muito poderosos, de afecto e confiança, que mais tarde lhes darão segurança em si próprias. A criança e a crueldade Podem prevenir-se as crianças contra a crueldade humana - mesmo reconhecendo que, por vezes, estas sabem ser refinadamente cruéis -, mas não se pode nem se deve evitar-lhes a dor. O sofrimento social é até necessário para entender as pessoas. As más experiências servem, pois, para entender o poder social e a vida real. Tal como diz o provérbio árabe, “a voz da experiência é a mais sábia”. Contudo, é preciso estar alerta para entender esses maus momentos na vida de cada criança. Também o papel do professor, sempre pouco valorizado, é decisivo nestes assuntos. Para isso deve conhecer os amigos e a vizinhaça, estar familiarizado com o ambiente familiar e cultural da criança e ganhar a sua confiança e respeito. A importância do grupo Estatisticamente está provado que as crianças postas de parte pelos seus colegas, ou que não são aceites pelo grupo, têm muito mais probabilidades de falharem nos estudos e de sofrer transtornos mentais na idade adulta. Aos pais que afirmam categoricamente não se interessarem com a vida social dos filhos, pois o que importa é o seu rendimento escolar, é preciso dizer-lhes que estão completamente enganados. A vida social dos seus filhos é um assunto vital, o seu êxito depende em grande medida de sentir-se popular e queridos pelos demais. Willard Hartup, um psicólogo que dedicou grande parte da sua carreira a estudar a amizade entre as crianças, afirma que são necessárias relações co-igualitárias para aprender o que significa comunicação, para conter a modular a agressividade, a formar valores e a ter uma vida sexual normal. Mas infelizmente os adultos continuam a esquecer esta vertente do seu papel. Muitas crianças comunicam perfeitamente com os adultos, no entanto não são capazes de articular palavra com os seus pares. Muitas vezes parecem pequenos professores, não podem falar a língua infantil e apresentam sérias desvantagens em relação aos seus colegas. Ao contrário do que alguns adultos possam pensar, estamos perante um comportamento “problemático”. Porquê? Porque isto significa que estamos perante uma criança incapaz de negociar a resolução de um conflito ou de expressar as suas necessidades para ser aceite. Alguns progenitores sentem necessidade de controlar as tendências agressivas dos seus filhos, vigiando-os excessivamente. Mas, são os próprios colegas quem melhor resolve um caso de agressividade através da exclusão e marginalização da criança em questão. A socialização sexual decorre também a cargo dos próprios colegas. Toda a criança procura o respeito e a admiração dos outros. O elogio de um colega tem sempre um efeito muito mais importante do que o de um pai, visto serem os primeiros a porem-se em dia com as novas descobertas. Mas antes de chegar à adolescência, para que uma criança cresça feliz precisa desfrutar um certo grau de aceitação por parte do grupo, ter a experiência da reciprocidade e lealdade nas suas amizades. A amizade é um fenómeno que acontece entre duas crianças que brincam ou falam de uma forma diferente e mais estreita do que com as outras. E é a relação mais importante da vida social de uma criança. No entanto, é preciso distinguir entre amizade e popularidade. Por vezes, o ser muito popular impede que se tenham bons amigos e fundamenta-se no consenso do grupo de que uma criança tem certas qualidades desejáveis. Pode ser um estatuto mais atraente, mas não é sinónimo de carinho e confidência, como acontece com a amizade. No entanto, a pertença a um grupo é de facto uma referência. A maior parte das pessoas quer ser identificada dentro de um grupo, quer sejam crianças ou adultos, e é já sabido que em nome do grupo são possíveis as maiores atrocidades, como se observou mais de uma vez nas devastadoras guerras nacionalistas. É o “nós” contra o “eles”. Os especialistas encontram a resposta na sócio-biologia humana, que explica a necessidade do homem se agrupar para sobreviver desde o princípio dos tempos. É de facto durante a infância que as crianças acreditam que os seus amigos do grupo serão os de toda vida, embora os vão trocando em cada ano letivo. Nas escolas oficiais os grupos são menos estáveis, pois a composição das turmas muda constantemente, o que não acontece tanto nos colégios particulares onde as relações são mais duradouras e os grupos mais unidos. Os pais têm de compreender que cada criança precisa de ter o seu melhor amigo todos os anos, sobretudo as que têm entre os quatro e os sete anos. Os progenitores costumam ser quem mais sofrem se veem que o filho passa despercebido na sua turma, porque confundem amizade com popularidade e não dão valor a uma boa relação que este possa ter com outra criança. Sabe-se que existem quatro estágios na amizade durante a infância: desde que nascem até aos 3 anos; dos 3 aos 7; dos 7 aos 12 e dos 12 à idade adulta. Cada um deles constrói-se sobre as vantagens do anterior, vindo a possibilitar uma amizade íntima, recíproca e de longa duração. O desejo de escolher um amigo começa muito cedo, até mesmo antes de a criança completar o seu primeiro ano. À primeira vista, pode parecer que um bebé não tem controlo suficiente sobre a sua vida ou o interesse suficiente nos outros para escolher um amigo. Inclusivamente, sempre se disse que as crianças com menos de três anos preferem brincar sós ou em paralelo, em vez de o fazerem com um companheiro. Contudo, qualquer pessoa familiarizada com crianças sabe que elas se sentem fascinadas umas pelas outras. A alegria de um amigo Trabalhos recentes sobre a amizade entre crianças, efetuados com vídeos nos quais se veem em interação, revelam que as do grupo de um e dois anos dão provas nítidas e fortes preferências por outras quando se encontram num contexto social. Os seus intercâmbios com um amigo escolhido são mais fortes, mais recíprocos e afetivos, no sentido mais sensorial possível. As crianças de dois anos emocionam-se quando sabem que o seu melhor amigo os vai visitar a casa e expressam a sua alegria de forma notável. Esperam-nos à porta, abraçam-se à chegada, embora logo a seguir se ponham a brincar separadamente. Em tão tenras idades costumam brincar em paralelo, mas não há dúvida de que entre elas existe uma proximidade emocional muito clara. São definitivamente amigos. Dos três aos sete, a amizade consiste no prazer de brincar juntos. Nesta idade as são capazes de pôr de lado as suas próprias necessidades e apetências para partilhar uma brincadeira com outro amigo, mais do que com vários ao mesmo tempo. Quando duas meninas de cinco anos passam a tarde a brincar juntas, demonstram uma maturidade muito desenvolvida. De início custa-lhe dividir, mas quando conseguem sentir-se mutuamente atraídas e perfeitamente integradas tornam-se um modelo invejável. Contudo é uma amizade que pode desfazer-se em questão de segundos, passar da adoração à zanga. Nessas alturas é natural ouvir uma das meninas dizer: “É que estou farta de ser sempre eu a fazer de noivo e ela de noiva”. Um pai pouco experiente poderá tentar intervir na brincadeira, mas embora pareça que pode ajudar, raras vezes uma criança recebe estas intervenções de bom grado. As intrusões dos adultos apenas atrasam o processo de reconciliação. Mas os mais experientes sabem que a melhor solução é introduzir um elemento novo e fora do contexto do género “então meninas, querem tomar um refresco?”. Graças a essa mudança inesperada, o forte ego de uma menina de cinco anos acalma e, pouco depois, ambas voltam a brincar como se nada fosse. A adolescência Enquanto que a fantasia é a nota que caracteriza as brincadeiras entre os três e os sete anos, a partir desta fase a conversação e a "mexeriquice" começam a fazer parte integrante da amizade. Não só porque nesta idade já são capazes de manter conversações com mais substância, mas também porque têm mais assuntos de que falar, nomeadamente o ambiente social da escola, as histórias de bairro têm um estatuto e hierarquias. Os bons amigos tornam-se conselheiros uns dos outros. Analisam e opinam sobre as respectivas apetências, problemas e relações, estipulando os seus próprios objectivos. Por volta dos sete anos, em qualquer escola ou centro de reunião comunitário, igreja, clube desportivo etc., onde se misturam os dois sexos, os grupos começam a dividir-se segundo o género. Nessa idade, e até antes, produz-se a descoberta universal do “outro”, esse alguém estranho e diferente. Para isto não há ajuda possível. É pois nesta faixa etária que se produz uma consciência clara das diferenças biológicas e começa um período de exclusividade do grupo, dentro do qual se tende a estabelecer um estatuto de hierarquia e poder em relação ao mesmo sexo. É um processo rigoroso e muitas vezes cruel, no qual se estabelecem os critérios de liderança e as normas de comportamento. Os rapazes tendem a apoiar-se uns nos outros para reforçarem a sua posição e estão dependentes dos mesmos para zombar das suas debilidades ou admirar o seu poder. As coisas mudam ao chegarem aos 12 anos no que se refere à amizade. A obrigação de querer deslumbrar o grupo dá lugar a relações mais estreitas e emocionais. É no início da adolescência que os jovens parecem necessitar desse amigo único em quem podem confiar sem reservas. É quando começam a contar os seus segredos e as mágoas do coração, os seus medos e as suas expetativas. As raparigas normalmente falam mais sobre estes assuntos. O estoicismo masculino exige que os rapazes conheçam as preocupações do seu amigo, mas sem necessidade de entrar em grandes pormenores. Todas estas etapas são os alicerces que constroem as amizades adultas, nas quais se partilham atividades ou jogos, mexericos, cooperação e proximidade emocional. É importante salientar que o que interessa não é o número de amigos que as crianças têm mas sim a qualidade das amizades que mantêm. Os primeiros sinais de formação de um grupo podem observar-se logo aos oito ou nove anos, mas são mais percetíveis aos 11 e claramente visíveis aos 12, 13 e 14, tornando-se o motivo principal das suas vidas. Contudo, os “bandos” desmembram-se por altura dos 17 anos e apenas as que foram realmente populares tentam sobreviver, para não esquecer a magnífica sensação de prestígio e o poder que dá pertencer a um. É precisamente durante esta etapa que se vivem grandes medos e complexos. Nestes grupos de raparigas, os modelos de aceitação são dados pela roupa, aspeto e magnetismo social; nos rapazes, pela capacidade atlética, pela força e liderança verbal. É também altura da exigência de marcas. Evitar a exclusão O afastamento é um dos grandes problemas com que as crianças e os adolescentes se confrontam na sua vida social. Segundo Michael G. Thompson, especialista no assunto, todas as escolas deveriam ter um código ético contra a exclusão de qualquer aluno. Embora seja um caso impossível de evitar, existem soluções eficazes, tais como estabelecer normas de conduta que facilitem o diálogo entre os colegas e alunos e professores sobre os porquês de uma exclusão, criando uma discussão positiva sobre o tema na turma. Uma boa relação entre professores e alunos facilita as coisas. Quando a situação se torna mais complicada, serão os próprios pais que devem participar na solução do problema, mantendo-se atentos ao que se passa. As investigações demonstraram que os professores que utilizam métodos de ensino baseados na colaboração e na cooperação, nos quais as crianças populares e impopulares, de talentos diferentes, fazem um intercâmbio de experiências e conhecimentos, entre si, contribuem para melhorar de forma surpreendente o quotidiano dos rapazes postos à margem. Nos casos de professores do tipo “hierárquico”, dados a criar situações de competitividade, as crianças que não atingem o grau desejado ficam, não só, para trás mas também afetadas. Soluções para o isolamento Consiste na generosidade de outro colega capaz de a proteger e a incitar à integração no grupo, enquanto, por seu lado, o professor enaltece e salienta as virtudes da criança diante de todos. Os pais devem, também, lembrar-se de que, apesar dos contratempos, os filhos sobrevivem a esses momentos difíceis e seguem em frente com mais ou menos cicatrizes na alma. Todos passámos um ou outro mau bocado na infância com o seu grupo. É preciso confiar nos filhos e considerar que estão a aprender estratégias sociais que lhes servirão para toda a vida. Não é fácil fazer amigos, exige envolvimento, prática e boa vontade. O mundo das crianças pode ser bastante complexo. Não basta zelar pelo seu bem-estar físico, outros factores podem ser decisivos no crescimento de uma criança. É imperativo que os pais estejam atentos ao que se passa no interior dos seus filhos.Yvonne Bogdanski/PhotoXpress «De uma maneira geral, desde há algum tempo, as pessoas procuram alguma ajuda, sobretudo no que diz respeito às crianças. Acho que tem havido mais essa procura, porque os pais também estão mais disponíveis para tentar perceber o que é que podem fazer para melhorar a vida dos mais novos, para ajudar os seus filhos», explica o Pedro Strecht, pedopsiquiatra, que trabalha há já muitos anos com o mundo das problemáticas familiares e as consequências futuras nos mais novos. Sobretudo hoje, os casais têm menos filhos e, por isso, estão mais disponíveis para valorizar o que se passa no mundo interior dos mais novos, «para perceber que grande parte daquilo que é a construção da vida psíquica futura de uma pessoa começa na infância, através da relação emocional da criança com quem a rodeia, nomeadamente, pai e mãe no início», esclarece o especialista. Que problemáticas familiares? As problemáticas variam muito e acabam por afetar as crianças. Se, há muitos anos, a alcoolemia era a principal culpada pela desestruturação de muitas famílias e crianças instáveis, actualmente, surgem outros calcanhares de Aquiles no seio familiar. «Eu diria que, hoje em dia, o problema da toxicodependência é algo que mina muito a família (sobretudo determinado tipo de camadas sociais da nossa população). Também outras situações, como os conflitos e separações traumáticas entre pais», explica o pedopsiquiatra. Os conflitos entre os pais, quando expostos às crianças, podem afetar o seu equilíbrio emocional. Muitos adultos pensam que os mais novos não compreendem o mundo dos mais velhos, que não entendem as palavras, os gritos e gestos. Porém, é completamente errado. Conforme explica Pedro Strecht, «às vezes, há a ideia de que os bebés ou as crianças, quando são muito pequeninas – por não falarem, por não expressarem através da linguagem aquilo que sentem –, não se apercebem das coisas. É importante chamar a atenção dos pais de que as crianças apercebem-se sempre de tudo aquilo que se passa à sua volta, mesmo em idades muito precoces, como a primeira infância». O especialista continua o seu raciocínio dando exemplos de algumas situações: «Até quando as coisas funcionam bem nós sabemos que um bebé sente a falta da sua mãe. Quando acaba a licença de parto e a mãe começa a deixar o bebé numa ama ou num jardim-de-infância e o vai buscar ao final do dia, o bebé faz de início um certo evitamento do olhar, como que a demonstrar que está um bocadinho zangado, que sentiu a ausência. Isso é um sinal claro de que ele percebeu que houve uma mudança naquela relação afectiva.» As crianças apercebem-se do que se passa, exprimem-se de diversas formas que, por vezes, não são detetadas pelos pais. Alicerces emocionais de uma criança Muitas vezes olhamos para uma pessoa e catalogamo-la como emocionalmente instável. Pessoas problemáticas, com dificuldades de socialização e em conseguirem organizar a sua vida, são consideradas adultos desviantes. Contudo, se investigarmos bem a fundo os casos, percebemos que os problemas começaram na infância. Pedro Strecht refere que «a forma como as crianças se vão moldando, se vão formando – no fundo, como se vão vendo a elas próprias e vendo aquilo que as rodeia –, depende muito da qualidade da relação emocional dos primeiros anos de vida». Nesta altura têm um papel decisivo os progenitores, como explica o pedopsiquiatra: «Os principais modelos que a criança interioriza são os de quem está mais próximo delas no seu dia-a-dia, ou seja, o modelo feminino de mãe e o modelo masculino de pai, ou quem representa estes papéis. É partindo da interiorização destes modelos de relação familiar que a criança vai, depois, repetir outras formas de relação com os outros.» Uma criança segura, com padrões afetivos estáveis, consegue ter, habitualmente, relações de maior investimento, com mais qualidade com os outros. Já uma criança que viva no seio de uma família desestruturada, com situações de padrões extremos muito repetidos, pode vir a dar um adulto problemático. «Não é obrigatório, mas, de facto, o risco aumenta. Porque o crescimento de cada um de nós, como pessoa, é como uma construção, quanto mais sólidos forem os alicerces melhor tudo o que se constrói daí para cima», declara Pedro Strecht. O papel dos pais «Por vezes, os pais não compreendem o porquê das situações e não as valorizam. Percebem que a criança não está bem na escola, que até anda triste, mas não são capazes de ligar isso a determinado problema que está ali mesmo debaixo do teto», diz Pedro Strecht, que conhece bem este cenário. Está habituado à surpresa dos pais quando descobrem que o seu filho tem problemas emocionais: «Há pais que dizem: “Mas, afinal, isto passou-se tudo tão depressa e eu não conheço bem o meu filho”, ou “Agora é que descobri que há muitas coisas que me passam ao lado”. E este é, de facto, um dos problemas maiores.» Os pais estão cada vez mais distantes dos filhos, existe uma falta de qualidade no tempo da relação pais/filhos, o que afeta a estabilidade emocional das famílias. É necessário intervir precocemente perante as situações de risco. Para tal, é necessário que os pais estejam mais atentos às alterações emocionais/comportamentais dos filhos. «Ajudamos os pais a ter uma melhor leitura do mundo emocional dos filhos», conclui Pedro Strecht. E não deixa de referir que «estes são problemas que dizem respeito às famílias de uma forma transversal e não apenas famílias com características socioculturais mais baixas». Será que o meu filho tem problemas emocionais? «Julgo que as crianças acabam sempre por apresentar sinais e sintomas, sobretudo se as situações são muito mantidas», esclarece Pedro Strecht. Evidenciam sintomas de instabilidade emocional, que variam conforme as idades. Se uma criança é muito pequena, é mais provável apresentar sinais e sintomas através das grandes funções de relação. Por exemplo, modificações no apetite, com vómitos. O sono também pode sofrer algumas oscilações. Por vezes, registam-se alterações ao nível do desenvolvimento global. «Se uma criança está em período escolar, é muito fácil que os sinais se manifestem na escola, quer por quebra do rendimento escolar, quer por alteração de comportamento», refere o pedopsiquiatra. Para além da escola, os mais crescidos podem ter alterações de comportamento, com maior instabilidade, hiperatividade, agressividade, ou o oposto, inibições, isolamentos. Com o crescimento da criança outros receios surgem. Segundo Pedro Strecht, «há uma idade que assusta muito os pais. São os anos próximos da entrada na puberdade ou adolescência, que vai entre os 10 até aos 14, 15 anos. Penso que está relacionado com o facto de nela existir uma modificação física e emocional com os pais». Perante tantas dúvidas dos pais, o especialista tenta sossegá-los: «O ideal é estarem atentos, reportarem-se às suas próprias experiências infantis. O importante é ajudar a repetir as que foram boas e evitar as que sentem como negativas.» Texto: Patrícia Cracel/Jasfarma A hora de refeição da criança pode ser um verdadeiro problema para os pais e também aquele que surge mais cedo. Os meninos não comem, as mães preocupam-se, a tensão cresce, eles voltam a recusar os alimentos. Os progenitores inventam mil maneiras do entreter e “enganar” com mais uma colher de legumes, ainda que estes já estejam preparados para comer sozinhos. “Era uma vez uma menina que foi visitar a avozinha…”, mas a história do Capuchinho Vermelho cai em cesto roto e a carne espalhada pelo chão lembra os destroços de uma pequena batalha. É isso mesmo, a eterna batalha da comida! E para piorar o seu estado de ansiedade, disseram-lhe que o rebento come bem no infantário. É natural! Primeiro, porque lhe possibilitam uma autonomia relativa: deixam-no comer sozinho uma vez que se desembaraça bem na tarefa; em segundo lugar, porque está acompanhado pelos seus pares, imita-os e compete com eles; finalmente, não está exposto à sua tensão e pressões para que não deixe nada no prato. Não sinta a situação como uma “afronta”. Se operar algumas mudanças em casa pode obter resultados idênticos. Faça da hora de refeição um momento alegre, descontraído e didático, sobretudo não seja exigente. Abandone de uma vez por todas esse rodopiar à volta da mesa de colher na mão. Prepare-lhe refeições de forma a proporcionar-lhe um regime equilibrado. Para isso diversifique tanto quanto possível os alimentos, levando em linha de conta o que come no infantário. Para o efeito, seria bom conhecer semanalmente o menu. Se achar necessário, dê alguma cor ao ambiente e aos utensílios, proporcione-lhe pratos coloridos, guardanapos animados e, de vez em quando, um copo com palhinhas. Imagem: © Hpphoto | Dreamstime Stock Photos & Stock Free Images Algumas crianças criam um amigo imaginário que se distingue da habitual brincadeira do faz de conta pelo facto de ser alguém invisível, que só existe na imaginação da criança. Pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas ou até um animal... Por Marta Andersen/Oficina de Psicologia Stock.XCHNG A maioria das crianças gosta de brincar ao “faz de conta”: estas brincadeiras incluem brincar “às casinhas” ou “aos médicos” e envolvem o uso de bonecos, peluches e objectos de brincar que a criança usa fingindo que são verdadeiros. Este tipo de brincadeira não só é saudável, como extremamente importante para o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais das crianças. Ao recriar, através da brincadeira, situações reais ou de fantasia, a criança vai-se apropriando do seu mundo e aprende a lidar com os outros, com as suas emoções e desenvolve novos comportamentos e pensamentos. Algumas crianças, para além deste tipo de brincadeira, criam um amigo imaginário. Um amigo imaginário distingue-se da habitual brincadeira do faz de conta pelo facto de ser alguém invisível, que só existe na imaginação da criança. Pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas ou até um animal. Muitos pais descobrem que os seus filhos têm amigos imaginários acidentalmente: ou porque apanham a criança a conversar sozinha, ou porque “pisam” o amigo imaginário , ou porque a criança lhes conta aventuras que viveu com alguém que os pais sabem que não existe. Descobrir que o filho tem um amigo imaginário pode ser motivo de grande preocupação para os pais, que muitas vezes se questionam se este será um sinal de que a criança tem dificuldades a fazer amigos de carne e osso, ou de alguma perturbação de outro tipo. A investigação nesta área tem no entanto contribuído para descansar os pais: ter um amigo imaginário não é de todo um sinal de alarme mas algo muito natural! As crianças que têm amigos imaginários são geralmente tão bem integradas em termos sociais como as outras, e estes não servem como substitutos das relações com as pessoas reais. A grande maioria destas crianças tem a noção de que o seu amigo não é real, mas sim inventado por si. O amigo imaginário funciona como um companheiro nos momentos em que a criança está sozinha a brincar ou a fazer outras atividades. Assim, as crianças com maior probabilidade de ter um amigo imaginário são os filhos mais velhos, os filhos únicos e as crianças que vêem pouca televisão. O amigo imaginário pode ser uma importante fonte de conforto emocional quando a criança passa por dificuldades. Algumas crianças desenvolvem amigos imaginários após terem passado por um trauma e esse amigo pode ser um recurso fundamental para a criança gerir as suas emoções. Assim, se o seu filho tem um amigo imaginário, aceite-o em vez de tentar combater a sua existência na vida da criança. Ao conversar com o seu filho acerca do amigo imaginário pode aceder aos interesses, preocupações, desejos e receios do seu filho. Por ser e resultar em sofrimento, a saúde mental das crianças corre mais riscos perante graves Imagem: Fale Connosco-Saúde Personalizada No universo temporal de vinte anos a taxa de divórcio passou de 5-10% para 20-30% na Europa Central, e de 10-20% para 30-40% na Europa do Norte. A intensidade da nupcialidade baixou acentuadamente e, em contraponto a esta tendência, a prática das uniões informais sofreu um incremento notável. Portugal não é exceção: em 1994, por cada cinco casamentos havia um divórcio; de 1970 para 1991, a taxa de nupcialidade baixa de 7.4 para 7.3; mais recentemente, de todas as uniões conjugais, 3.88% são uniões de facto e 16.29% são segundos casamentos (Nazareth, 1994; INE, 1996). Aproximamo-nos a passos largos para uma taxa de divórcio de 50%... Os pais separam-se... e os filhos? Quando os laços existentes no casal deixam de ser os de amor, a comunicação se torna disfuncional e o lar já não representa um espaço de proteção e securização para os filhos, a separação conjugal parece ser a melhor solução para a família. Por ser e resultar em sofrimento, a saúde mental das crianças corre mais riscos perante graves e continuados conflitos familiares do que com o divórcio per si. Os estudos nesta área têm mostrado inequivocamente que as crianças tendem a ser mais felizes após uma separação conjugal conflituosa, comparativamente ao período em que os pais permaneceram casados. Ainda assim, não podemos ignorar que a rotura do casal tem sérias repercussões nestas. Têm sido descritos sintomas de ansiedade, quadros depressivos, baixa auto-estima, diminuição do rendimento escolar, isolamento social ou emergência de problemas de comportamento, até então inexistentes nas crianças. A este respeito, existem alguns princípios que poderão favorecer um processo de separação saudável. Antes, durante e depois do processo de separação, as crianças têm direito a saber o que está a acontecer, e o que vai suceder com elas. A comunicação da separação conjugal Comunicar à criança a decisão da separação conjugal pode representar um momento de profunda ansiedade para o casal, que se vê a braços com esta difícil missão. Mas, tenha em mente que a principal preocupação da criança é saber que vai continuar a estar com os seus pais e que este vínculo de amor é para sempre. Enquanto pais, devem fornecer à criança uma explicação adequada ao seu nível de desenvolvimento, que lhe permita compreender o porquê da separação conjugal. É importante que ela tenha este entendimento, para que não pense que se os pais se separaram entre si poderão também separar-se repentinamente dela. "Jonas, tanto eu como o pai te amamos muito. És o rapazinho mais especial que conhecemos. Mas ultimamente os pais não se têm dado bem, por isso o pai vai sair de casa. Sabemos que vais sentir-te triste no início, mas não vai ser sempre assim, e nós vamos estar sempre aqui para te apoiar. És a pessoa mais importante das nossas vidas. E embora nos vamos separar, vamos cuidar sempre de ti. Seja em casa da mamã ou do papá, vamos amar-te e proteger-te sempre. Nós vamos ser sempre os teus pais e tu o nosso filho. Seremos sempre a tua família." (in “Compreender o Divórcio: Estamos Contigo” de Aubrey, A; VA; & Barton, P; Editora Girassol) As expetativas das crianças As crianças podem sentir-se culpadas pelo divórcio dos seus pais, associando o seu comportamento, percecionado como desadequado à origem da separação. É imprescindível que os pais demonstrem que a decisão do divórcio é exclusivamente do casal e não tem nada que ver com a criança. Trata-se tão-somente de uma decisão de pessoas adultas. "A culpa do divórcio não é tua. As crianças não causam problemas destes. Vamos encontrar a melhor saída para os três. Não tenhas medo porque nós, os adultos, vamos estar sempre aqui para te apoiar. Vamos ouvir sempre o que tiveres para dizer e vamos ajudar-te sempre que pudermos." (in “Compreender o Divórcio: Estamos Contigo” de Aubrey, A; VA; & Barton, P; Editora Girassol) Mais ainda, as crianças podem vivenciar a separação como algo temporário, acreditando na reunificação familiar. Por isso, durante muito tempo, tentam unir os pais. Entre as informações que devem ser dadas aos filhos, inclui-se dar-lhes a saber que a separação é definitiva. Outro aspeto fundamental é explicar às crianças as mudanças que vão decorrer nas suas vidas. Vai viver com que progenitor? Com que frequência irá visitar o progenitor com quem não reside? Vai ter de mudar de escola? De cidade? De amigos? Deve permitir-se à criança usar os diversos meios de comunicação existentes (telefone, internet, etc.) para falar com o progenitor com quem não está, e de quem sente naturalmente saudades. Lembre-se sempre que a criança tem o direito de passar tempo de qualidade com ambos os pais. Mais do que passar igual período de tempo com pai e mãe, a consistência desses contactos deve ser sempre assegurada. Igualmente importante é equilibrar a vida diariamente e homogeneizar critérios para educar os filhos em sintonia. As crianças não são Instrumento de vingança Por vezes, um dos pais, habitualmente o que vive com a criança, manipula-a para que odeie o outro, impedindo esta relação, desqualificando o progenitor diante do filho e provocando nele graves efeitos. A Síndrome de Alienação Parental existe quando há uma utilização implícita das crianças, um uso atroz da mentira. Os pais (unidos ou separados) continuam a sê-lo, e estão obrigados a manter relações cordiais entre si e afetivas com os filhos, pelo que não se deve culpabilizar ou denegrir a imagem do outro progenitor diante da criança. Tenham em atenção estas considerações e não se esqueçam de continuar família! As birras das crianças podem ser poderosas e são frequentemente uma verdadeira dor de cabeça para pais e cuidadores... Parecem estar em todo o lado e uma simples ida ao supermercado pode ser uma tormenta! Por Sandra Alves, psicóloga (Fale Connosco-Saúde Personalizada) Imagem Fale Connosco-Saúde Personalizada É importante compreender o fenómeno das birras considerando o período desenvolvimentista em que as crianças estão. Se o seu filho se encontra na faixa etária dos 2-5 anos é a altura perfeito para que o Birras queira instalar-se na sua família! Em grande parte, tudo isto se encontra relacionado com as características cognitivas típicas destas idades. Pois, o pensamento das crianças caracteriza-se por algum egocentrismo. Isto é, tendem a perceber as situações apenas do seu ponto de vista, e não se colocam no ponto de vista das outras pessoas, nomeadamente dos pais ou demais cuidadores. Experienciam a mesma dificuldade face à capacidade para anteciparem e compreenderem os sentimentos dos outros - leitura da mente. Desta forma, as crianças centram-se nos seus próprios interesses e negligenciam as regras impostas pelos adultos. Estas dificuldades são mais visíveis se as consequências tiverem lugar a longo – prazo, e não representarem uma ameaça real para a criança. Exemplo, caso de supermercado! Uma criança pede ao pai uma boneca e o pai responde "não te posso dar agora, porque senão não teremos dinheiro suficiente para as compras do final do mês". Esta consequência é demasiado distante para que a criança a possa verdadeiramente compreender e aceitar, pois tem o seu calendário centrado no tempo presente. A acrescentar a todas estas características, a criança começa agora a representar mentalmente o mundo. Percebe que o mundo é feito de imensos estímulos atrativos, que são afinal, feitos para ela! Mas não, não tem de aturar o Birras dentro de sua casa! Deve aliás fechar-lhe a porta! Quando não se colocam termo às birras das crianças, e estas não aprendem que a convivência na sociedade se realiza através de regras, poderá vir a ter entre mãos um futuro ditador. Aqui se seguem algumas sugestões de como estruturar as regras e limites na sua vida diária: Implemente regras claras. Quando se dirige a um sítio público, apresente-lhe as consequências positivas e negativas decorrentes do seu comportamento. Antes de entrar numa loja, estabeleça contacto visual com o seu filho e exponha de forma clara o comportamento que espera e o que vai acontecer como resultado: “Quando entrarmos na loja, quero que fiques ao pé de mim. Não foges para lado nenhum. Se ficares ao pé de mim, divertimo-nos e depois tens uma recompensa. Se não ficares ao pé de mim, vais fazer uma pausa para o carro.” Confirme que o seu filho percebeu as instruções, fazendo-o repeti-las. Dê apoio ao seu filho. Ao entrar num local público, comece imediatamente a comentar de modo positivo o comportamento do seu filho. “Obrigado por ficares ao pé de mim. Gostei muito.” Continue a reforçar a atitude do seu filho com frequência. Use a pausa, se necessário. Assim que o seu filho começar a violar as regras, pode pegar-lhe na mão com firmeza e levá-lo até ao carro (ou canto da loja) para uma pausa de cinco minutos. Não preste atenção à birra. Na presença duma birra, o passo essencial é não satisfazer o pedido da criança. Se o fizer, estará a dizer-lhe que o seu mau comportamento lhe oferece privilégios. Em vez disso, afaste-se da criança e ignore-a. Se não for capaz de tomar esta atitude, retire-a do espaço em que se encontra. Leve-a para casa e coloque-a numa divisão da casa sem distrações, onde possa refletir acerca do seu mau comportamento. Não lhe dê atenção, nem procure dar nenhum sermão à criança nesta altura, pois o seu estado emocional de exaltação não o vai permitir. Quando a birra terminar, converse com a criança. Explique-lhe com clareza que este tipo de comportamentos não leva a nada. Poderá aplicar um pequeno castigo, de acordo com a regra que havia estipulado. Não ameace, aplique o castigo! Seja consistente, se não o fizer, a criança poderá aproveitar-se desse facto para obter mais recompensas. Se decidir aplicar um castigo, faça-o imediatamente a seguir ao mau comportamento. Se deixar passar muito tempo, a criança deixará de associar o castigo a esse comportamento em concreto, pelo que o castigo deixará de ter o efeito pretendido. Planeie de forma adequada a sua rotina. Para evitar confusões e brigas constantes, planeie a sua rotina, e evite levar o seu filho para locais onde se desestabilize frequentemente. Sugestões práticas As crianças destas faixas etárias adoram que lhes contem histórias! Uma forma ótima de colocar em prática todas estas aprendizagens é ler a história "O Birras queria ser da Família da Clara", explicando-lhe sumariamente quem é o Birras e o que faz às crianças. Explique-lhe que as armas para vencer o Birras são as boas maneiras e a educação, e que terá de ser muito corajosa e brava para sair vencedora desta luta! As crianças reagem bem perante desafios, e esta é uma forma de tornar mais divertida uma série de ensinamentos que podem ser muito difíceis de aceitar... Ainda assim, não se iluda, poderão haver recaídas... A regra a usar é a da persistência, sempre! |