Por ser e resultar em sofrimento, a saúde mental das crianças corre mais riscos perante graves Imagem: Fale Connosco-Saúde Personalizada No universo temporal de vinte anos a taxa de divórcio passou de 5-10% para 20-30% na Europa Central, e de 10-20% para 30-40% na Europa do Norte. A intensidade da nupcialidade baixou acentuadamente e, em contraponto a esta tendência, a prática das uniões informais sofreu um incremento notável. Portugal não é exceção: em 1994, por cada cinco casamentos havia um divórcio; de 1970 para 1991, a taxa de nupcialidade baixa de 7.4 para 7.3; mais recentemente, de todas as uniões conjugais, 3.88% são uniões de facto e 16.29% são segundos casamentos (Nazareth, 1994; INE, 1996). Aproximamo-nos a passos largos para uma taxa de divórcio de 50%... Os pais separam-se... e os filhos? Quando os laços existentes no casal deixam de ser os de amor, a comunicação se torna disfuncional e o lar já não representa um espaço de proteção e securização para os filhos, a separação conjugal parece ser a melhor solução para a família. Por ser e resultar em sofrimento, a saúde mental das crianças corre mais riscos perante graves e continuados conflitos familiares do que com o divórcio per si. Os estudos nesta área têm mostrado inequivocamente que as crianças tendem a ser mais felizes após uma separação conjugal conflituosa, comparativamente ao período em que os pais permaneceram casados. Ainda assim, não podemos ignorar que a rotura do casal tem sérias repercussões nestas. Têm sido descritos sintomas de ansiedade, quadros depressivos, baixa auto-estima, diminuição do rendimento escolar, isolamento social ou emergência de problemas de comportamento, até então inexistentes nas crianças. A este respeito, existem alguns princípios que poderão favorecer um processo de separação saudável. Antes, durante e depois do processo de separação, as crianças têm direito a saber o que está a acontecer, e o que vai suceder com elas. A comunicação da separação conjugal Comunicar à criança a decisão da separação conjugal pode representar um momento de profunda ansiedade para o casal, que se vê a braços com esta difícil missão. Mas, tenha em mente que a principal preocupação da criança é saber que vai continuar a estar com os seus pais e que este vínculo de amor é para sempre. Enquanto pais, devem fornecer à criança uma explicação adequada ao seu nível de desenvolvimento, que lhe permita compreender o porquê da separação conjugal. É importante que ela tenha este entendimento, para que não pense que se os pais se separaram entre si poderão também separar-se repentinamente dela. "Jonas, tanto eu como o pai te amamos muito. És o rapazinho mais especial que conhecemos. Mas ultimamente os pais não se têm dado bem, por isso o pai vai sair de casa. Sabemos que vais sentir-te triste no início, mas não vai ser sempre assim, e nós vamos estar sempre aqui para te apoiar. És a pessoa mais importante das nossas vidas. E embora nos vamos separar, vamos cuidar sempre de ti. Seja em casa da mamã ou do papá, vamos amar-te e proteger-te sempre. Nós vamos ser sempre os teus pais e tu o nosso filho. Seremos sempre a tua família." (in “Compreender o Divórcio: Estamos Contigo” de Aubrey, A; VA; & Barton, P; Editora Girassol) As expetativas das crianças As crianças podem sentir-se culpadas pelo divórcio dos seus pais, associando o seu comportamento, percecionado como desadequado à origem da separação. É imprescindível que os pais demonstrem que a decisão do divórcio é exclusivamente do casal e não tem nada que ver com a criança. Trata-se tão-somente de uma decisão de pessoas adultas. "A culpa do divórcio não é tua. As crianças não causam problemas destes. Vamos encontrar a melhor saída para os três. Não tenhas medo porque nós, os adultos, vamos estar sempre aqui para te apoiar. Vamos ouvir sempre o que tiveres para dizer e vamos ajudar-te sempre que pudermos." (in “Compreender o Divórcio: Estamos Contigo” de Aubrey, A; VA; & Barton, P; Editora Girassol) Mais ainda, as crianças podem vivenciar a separação como algo temporário, acreditando na reunificação familiar. Por isso, durante muito tempo, tentam unir os pais. Entre as informações que devem ser dadas aos filhos, inclui-se dar-lhes a saber que a separação é definitiva. Outro aspeto fundamental é explicar às crianças as mudanças que vão decorrer nas suas vidas. Vai viver com que progenitor? Com que frequência irá visitar o progenitor com quem não reside? Vai ter de mudar de escola? De cidade? De amigos? Deve permitir-se à criança usar os diversos meios de comunicação existentes (telefone, internet, etc.) para falar com o progenitor com quem não está, e de quem sente naturalmente saudades. Lembre-se sempre que a criança tem o direito de passar tempo de qualidade com ambos os pais. Mais do que passar igual período de tempo com pai e mãe, a consistência desses contactos deve ser sempre assegurada. Igualmente importante é equilibrar a vida diariamente e homogeneizar critérios para educar os filhos em sintonia. As crianças não são Instrumento de vingança Por vezes, um dos pais, habitualmente o que vive com a criança, manipula-a para que odeie o outro, impedindo esta relação, desqualificando o progenitor diante do filho e provocando nele graves efeitos. A Síndrome de Alienação Parental existe quando há uma utilização implícita das crianças, um uso atroz da mentira. Os pais (unidos ou separados) continuam a sê-lo, e estão obrigados a manter relações cordiais entre si e afetivas com os filhos, pelo que não se deve culpabilizar ou denegrir a imagem do outro progenitor diante da criança. Tenham em atenção estas considerações e não se esqueçam de continuar família!
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