A epilepsia é a doença mais frequente do sistema nervosa central (atinge cerca de cinquenta milhões de pessoas em todo o mundo). As crises podem ter diferentes características, podem originar alterações a motoras, sensitivas, psíquicas, etc… Alguns exemplos de manifestação de crises epiléticas são facilmente reconhecidas pelos pais
- Abalos do corpo de forma generalizada ou só partes do corpo (braço, perna…). - Perda da força muscular com queda súbita. - Revirar de olhos, desvio fixo dos olhos, olhar fixo… - Pestanejar rápido. - Movimentos com a boca como se estivesse a mastigar - Contrações dos músculos da face. Caracteristicamente, os episódios surgem de forma brusca e inesperada e repetem-se se não forem tratados. Dado haver muitos tipos de crises, sempre que os pais notem episódios de início súbito, sem motivo aparente e que se repete de forma estereotipada, deve contar ao médico que segue a criança. No caso de a criança não se encontrar bem pode mesmo recorrer ao serviço de urgência. A maioria desses episódios não são epiléticos, mas só o médico poderá esclarecer.. O diagnostico da epilepsia é feito essencialmente com base na história clínica (é muito importante a descrição pormenorizada dos episódios pelos familiares, amigos, professores… e em alguns casos o filme dos episódios pode ser fundamental para o diagnóstico). Alguns exames como o eletroencefalograma (EEG) podem ajudar a caracterizar a epilepsia. Mas convém salientar que o facto de o exame ser normal não exclui a epilepsia e uma criança normal também pode ter alterações nesse exame. É necessário que o exame seja observado por médicos com experiência nessa área. Podem ser necessários outros exames para investigar a causa da epilepsia, que podem variar de doente para doente. Alguns doentes podem ter de repetir exames passado algum tempo. As causas da epilepsia na criança são muito variadas. Qualquer lesão que atinja as células do cérebro (malformação, infeção, lesão vascular, alteração metabólica, lesão traumática, tumores, doença degenerativa, etc…) pode ser responsável pelo aparecimento da epilepsia. Essas alterações podem surgir antes de a criança nascer ou serem adquiridas após o nascimento. Em 60 a 70% dos casos não se encontra uma causa. É possível prevenir algumas situações que podem originar a epilepsia como por exemplo, prevenir os partos traumáticos, a asfixia, as infeções na gravidez, os acidentes, etc… Algumas epilepsias podem ser sensíveis aos estímulos luminosos intermitentes, aos sons súbitos, ao jejum prolongado, às alterações do padrão de sono, etc. Nestes casos podemos evitar alguns desses fatores e assim prevenir o aparecimento das crises Devemos também reforçar a necessidade de não falhar tomas da medicação para evitar recorrência das crises e reforçar a importância de tratar corretamente a crise aguda, evitando que uma crise prolongada possa originar mais lesão cerebral. O tratamento da epilepsia deve ser planeada caso a caso dependendo das características da epilepsia e do doente. Geralmente começa-se com medicamentos anti-epiléticos. Há muitos tipos de medicamentos e a sua escolha deve ser individualizada. O mesmo medicamento pode ser benéfico para uns e prejudicial para outros. Cerca de 20-30% das epilepsias não respondem aos medicamentos (são resistentes). Nestes casos pode haver indicação para outro tipo de tratamentos como a cirurgia da epilepsia, a dieta cetogénica e o estimulador do nervo vago. É importante que as crianças com epilepsia que não respondem ao primeiro tratamento sejam observadas pelo médico com experiência em epilepsia da criança (geralmente um Neuropediatra). Este muitas vezes, nos casos mais complicados, irá discutir caso a caso com outros grupos com experiência na área, para escolher a melhor opção terapêutica. Deve ter-se em conta o tipo de epilepsia, outras doenças da criança, os efeitos secundários dos tratamentos, a capacidade dos pais para seguirem determinado tratamento, etc. A decisão vai depender também da opinião da criança e/ou dos seus cuidadores. A evolução da epilepsia e o prognóstico é muito variável de caso para caso dependendo essencialmente da causa da epilepsia. Há formas “benignas” e formas “catastróficas”. É necessário explicar aos pais todos os aspetos relacionados com a doença. Em caso de crise súbita, como agir (caso aconteça em casa ou na escola)? Depende do tipo de crise e da sua duração. Depende se é a primeira crise ou se já tem crises há muito tempo. Se for a primeira crise é obrigatório que seja observada por um médico para decidir se necessita de ser enviada a uma urgência ou orientada para consulta de neuropediatria. Se a crise for convulsiva generalizada e se não parar espontaneamente ao fim de 2-3 minutos pode ser perigosa e deve agir-se de forma rápida. Ao contrário das crises em que há só paragem da atividade ou desorientação… No primeiro caso há contratura generalizada dos músculos seguida de abalos, com acumulação de saliva e secreções na boca, pode haver mordedura da bochecha ou da língua e perda de urina. É muito importante posicionar a criança de modo a evitar traumatismos e não acumular a saliva… (ver ilustrações no site da Liga Portuguesa Contra Epilepsia LPCE). Não se deve meter nada na boca do doente, nem dar água, nem tentar agarrar o doente para parar os movimentos. A escola deve ser informada do problema da criança mas é importante explicar aos professores e aos alunos o que é a epilepsia e o que devem fazer perante a ocorrência de uma crise. Esta atitude vai permitir uma melhor integração no meio escolar e ajudar a combater alguns medos e estigmas acerca da doença. A Dieta Cetogénica Quando a epilepsia é resistente aos anti-epiléticos podem usar-se outras alternativas como por exemplo a dieta cetogénica. A dieta cetogénica é uma dieta especial usada no tratamento da epilepsia desde há várias décadas, e tem sido demonstrada em vários estudos a sua eficácia no tratamento a curto e médio prazo (em 84% dos casos há redução de 50% no número de crises). Deverá ser utilizada quando não há resposta com os medicamentos anti-epiléticos e quando não tem indicação para tratamento cirúrgico. Esta dieta é rica em gorduras, com baixo teor de hidratos de carbono e quantidades adequadas de proteínas. Não se sabe exatamente como funciona mas sabe-se que produz alterações metabólicas semelhantes ao “estado de fome” (níveis de glicose sanguínea diminuídos; aumento da produção de corpos cetónicos). Estes corpos cetónicos vão funcionar como fonte energética alternativa. Para facilitar a execução da dieta foi desenvolvido um leite especial (Ketocal) que tem uma composição nutricionalmente completa com as proporções adequadas para alcançar o estado de cetose. Este leite pode ser utilizado como fonte alimentar única ou como parte integrante do plano alimentar, dependendo da idade da criança. Os cuidadores da criança que vai iniciar este tipo de dieta têm que ter uma boa preparação. Neste tipo de dieta os alimentos “maus” são os hidratos de carbono (pão, batatas arroz massas, açúcar…) e os “bons” as gorduras (azeite, manteiga, natas…). Esta dieta exige uma supervisão médica, as crianças são avaliadas e acompanhadas por uma equipa que deve englobar o nutricionista e o neuropediatra. Só assim se consegue um sucesso terapêutico sem efeitos secundários graves. Se a dieta se mostrar eficaz deve ser mantida pelo menos durante dois anos. Para saber mais Alguns livros aconselhados - Livro Básico da Epilepsia – Dílio Alves, Isabel Luzeiro e José Pimentel. Edição Epi e LPCE, 2007 - Epilepsia – Guia Médico da Família – Mathew Walker e Simon D. Shorvon. Civilização Editora, 2000 Alguns sites aconselhados - Liga Portuguesa Contra a Epilepsia: www.epilepsia.pt - Sociedade Portuguesa Neuropediatria: http://neuropediatria.pt/ - International League Against Epilepsy: www.ilae-epilepsy.org/ - British Society for Epilepsy: www.epilepsynse.org.uk - Epilepsy Foundation (EUA): www.epilepsyfoundation.org/ - EuropeanEpilepsyAcademy: www.epilepsyacademy.org/homepage/de/1.html
0 Comments
Your comment will be posted after it is approved.
Leave a Reply. |