O cérebro tem de ser muito bem alimentado para que o desenvolvimento cognitivo se dê dentro dos parâmetros normais. Conheça uma área da nutrição a não menosprezar Imagem: photl.com Os benefícios de uma dieta equilibrada, variada e saudável não se fazem sentir apenas no desenvolvimento físico. Também existe uma forte relação entre a alimentação e o desenvolvimento cognitivo. O processo de maturação cerebral é bastante complexo, sendo mais evidente nos primeiros dois anos de vida. «A capacidade de aprendizagem, a compreensão, a memória, a atenção e a criatividade integram o desenvolvimento cognitivo, que é influenciado por vários fatores», explica a especialista holandesa Nathalie-van-derPut, acrescentando que «a vivência com os pais, a estimulação social, a genética, a educação e a nutrição são os principais fatores envolvidos no desenvolvimento cognitivo». No que diz respeito à nutrição, é preciso ter em conta que os nutrientes são fundamentais para o cérebro se desenvolver eficazmente. Em relação a estes componentes, «uns são produzidos pelo próprio organismo enquanto outros são obtidos através da alimentação. Desta forma, deve-se incluir na alimentação as vitaminas do complexo B e os ácidos gordos DHA e ALA, pois são nutrientes importantes para o desenvolvimento cognitivo». O cérebro é constituído por 100 000 000 000 neurónios e nele estão presentes entre 1000 a 10 000 conexões entre eles (sinapses). As ligações entre as células são protegidas por uma película isolante (mielina), que é maioritariamente constituída por gordura, em especial DHA. Este ácido gordo está presente no leite materno e no peixe gordo (sardinha, salmão, bacalhau, entre outros). O ALA não é produzido pelo organismo, só podendo ser obtido através da alimentação. Encontra-se naturalmente nos óleos vegetais – óleos de girassol, de soja e de linhaça. As vitaminas do complexo B (B6, B12, ácido fólico) existem nas frutas, nos vegetais, sobretudo nos de folha verde, bem como nos cereais. Os alimentos de origem animal, como a carne, o peixe e os produtos lácteos, são ricos em vitamina B12. Hábitos salutares para sempre «Em muitos casos, os pais preocupam-se com a alimentação dos seus filhos só até aos 12 meses. Por exemplo, retiram a sopa da alimentação quando a criança manifesta não gostar e/ou recusa comê-la», refere Helena Cid, nutricionista, sublinhando: «Não é apenas até se completar um ano de idade que se necessita de uma alimentação específica, mas sim durante toda a vida. O peixe gordo é fundamental, mas está pouco introduzido na alimentação dos portugueses.» Na opinião de Mónica Pinto, pediatra, «por vezes, as crianças recusam experimentar novos alimentos, pelo que os pais devem incentivá-las as vezes necessárias. Com o hábito, é possível conseguir que tenham uma alimentação saudável». Os hábitos salutares devem começar «pela fresca». Se se iniciar o dia com um pequeno-almoço desequilibrado a nível nutricional, é provável que o cérebro deixe de ter energia suficiente para processar a informação corretamente. O exercício cerebral dos jovens estudantes é intenso, mas pode ser afetado com a prática alimentar incorreta. E se nem sempre se ingerem os alimentos necessários, que interferem no desenvolvimento cognitivo, há sempre a hipótese de recorrer a suplementos alimentares ou produtos alimentares ricos em nutrientes. Desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida O desenvolvimento cerebral acontece por etapas, sendo os primeiros anos de vida essenciais para um processo bem conseguido. «A criança é biologicamente o produto da evolução adaptativa da sua espécie, com um genótipo individual exposto a um meio físico social e cultural particular. Necessita de um longo período de maturação, num meio nutritivo, que lhe permita vivenciar uma variedade de experiências de interação com o mundo externo», explica Mónica Pinto. De acordo com a pediatra, «o desenvolvimento é um processo contínuo, com uma sequência semelhante para todas as crianças. Mas o ritmo varia de criança para criança, dependendo da maturação do sistema nervoso central, e nem todas as competências se adquirem em simultâneo, pelo que a evolução não é linear, mas sim por patamares». Geralmente, é entre as 4 e as 6 semanas que o bebé deixa de ser passivo. Começa, por exemplo, a ter algumas reacções aos sons e está mais acordado. Com 3 meses descobre e explora as mãos. Aos 6 meses torna-se mais activo, curioso e já vocaliza. Três meses depois consegue deslocar-se, gatinhando ou rastejando. Quando completa um ano já comunica, manifesta os seus desejos e faz as primeiras birras relacionadas com a alimentação. Aos 15 meses sente-se mais independente fisicamente, imitando tudo, e com 18 meses tem uma maior autonomia e desembaraço e inicia a socialização. Aos dois anos adquire a capacidade de linguagem, aos três já brinca com as outras crianças e aumenta o vocabulário. Com quatro anos realiza atividades com princípio, meio e fim, com cinco anos torna-se mais atento e adquire competências pré-académicas e aos seis anos insere-se no meio escolar e tem interesses mais específicos. Na opinião de Mónica Pinto, «durante o processo de desenvolvimento, cabe aos pais dar autonomia progressiva e completa à criança, efetuar o treino progressivo da atenção e concentração, limitar as atividades passivas e fomentar as criativas. Devem também, entre muitas outras coisas, incentivar a criança a participar e a ter um papel na família, prepará-la para a entrada na escola e evitar inícios precoces. É importante deixar a criança ser criança». Texto: Sofia Filipe/Jasfarma
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