O pai na gravidez na adolescência tem sido objeto de pouco estudo. Salientamos o seu papel na vivência da gravidez na adolescência. Contudo, sentimos imensas dificuldades em encontrar bibliografia sobre as vivências do pai adolescente. Por Fernando Santos Segundo a “um dos problemas centrais sobre a gravidez na adolescência, inclusive comprometendo parte dos resultados obtidos, é a escassez ou ausência total de informações sobre os pais”. As pesquisas existentes tendem a evidenciar a experiência da mãe em detrimento da experiência do pai adolescente. A ECOS elenca um conjunto de fundamentações para estas afirmações:
A representação da masculinidade para o adolescente, na perspetiva de Ángel Aguirre, abarca “os comportamentos de um homem, esperados frente às distintas situações”. Para Cauduro, o pai adolescente “vivencia como jovem a transição de menino a homem. É um corpo em mudanças, que está formando o seu caráter, buscando conquistar o sexo oposto, afirmando a sua identidade. Este indivíduo, ao mesmo tempo tem de se preocupar com a família, assegurar o respeito da sua família de origem e da própria sociedade, ter um trabalho e vivenciar a sua paternidade, situações que confirmam a sua transição da adolescência para a fase adulta”. Esta autora afirma também que “a masculinidade também compreende as relações sociais do homem e as que ele tem com o próprio corpo”. Quando abordamos a gravidez na adolescência a primeira imagem que nos surge é a mãe adolescente. Segundo a ECOS, “a gravidez na adolescência confunde-se na literatura e nas ações sociais com maternidade na adolescência”. Afirma ainda que “fala-se muito sobre gravidez na adolescência, mas, na verdade, fala-se mesmo é sobre a adolescente grávida”. E um dado desta afirmação é que o filho em geral é sempre entendido como da mãe; o jovem pai é sempre visto como naturalmente inconsequente, aventureiro e impulsivo e, por princípio, ausente e irresponsável. No entanto, como refere a médica Cardozo relativamente à gravidez na adolescência, na grande maioria dos casos, o pai é adolescente e, “se a adolescente não está preparada para ser mãe, tão pouco o pai”. Cauduro salienta que “os adolescentes masculinos que se tornam pais, vivenciam uma dura realidade, talvez mais que a das mães adolescentes, pois precisam desempenhar o seu papel de proteger e prover a nova família”. No contexto cultural, também se pressupõe que “na maternidade adolescente o homem desliga-se facilmente do seu papel e as gerações passam a ser criadas pelas mulheres” (Cardozo). Para Cauduro, o significado de homem está relacionado com uma pessoa adulta com corpo masculino. Na cultura de cada sociedade, supõe-se que exista uma verdadeira masculinidade, a dos homens de verdade, que se o são por natureza, representados por corpos mais fortes, agressivos, com certo instinto violento, o que leva ao senso comum de que os homens não podem cuidar de crianças, que isso é coisa de mulher. Para além desta realidade, a imagem de homem que as sociedades vão construindo, os pais adolescentes vivem uma outra que nos parece também importante, a exclusão que vivem no seu papel de pais. Segundo Cardozo, esta exclusão sente-se “desde as consultas, geralmente as jovens vão acompanhadas pelas mães, excluindo o lugar do pai adolescente”. Esta autora defende ainda que “esta exclusão vai provocar neles, sentimentos de isolamento agravado com juízos de valor”. Perante a família e a sociedade, o pai adolescente, “enfrenta, no momento da notícia da paternidade, todas as suas carências. Ele tem a dependência familiar afetiva e económica”. Face a esta realidade, o pai adolescente “dá-se conta de que tem de ser mais produtivo e que deve prover de alimento outra família”. Esta situação é difícil dado que estes indivíduos têm uma baixa formação e uma escolaridade insuficiente ou incompleta. A médica Déa Cardozo afirma ainda que este pai é “muitas vezes adotado como filho-pai dentro das famílias”. Afirma ainda que “este estado de indefinição em relação à companheira é confuso, gera angústia e não têm espaço para falar”. Neste sentido, Cauduro diz que “a complexidade que envolve o facto de tornar-se pai na adolescência, somada a instabilidade na relação com a parceira e às inseguranças próprias dessa fase, dificulta ainda mais a adaptação a esse novo papel”. Por outro lado, “em geral, a dependência económica torna difícil a ascensão à paternidade”. Já Cardozo constata que “esta paternidade inoportuna também tem consequências não desejáveis para o adolescente pai: maior taxa de deserção escolar, trabalhos de menor nível que os seus pares, taxa mais alta de divórcio, aumento de stress e maior nível de transtornos emocionais”. No contexto da relação entre pai adolescente e o seu bebé, os especialistas Lamb e Elster referem que “o adolescente teria dificuldade de proporcionar uma interação parental de alta qualidade por vários motivos”. Entre estas dificuldades encontra-se o “nível de desenvolvimento cognitivo, pois ele está adquirindo o pensamento lógico e abstrato. Essa imaturidade cognitiva, aliada às tarefas da adolescência, criaria um egocentrismo que impediria que as necessidades do bebé fossem avaliadas corretamente”. Acrescentam ainda que “a falta de um planeamento da gravidez também poderia afetar a interação do adolescente com o bebé, uma vez que este estaria associado a maior envolvimento paterno”. No contexto do conhecimento sobre o desenvolvimento do bebé, outros especialistas como Levandowki e Piccinini assinalam que a “sua falta de conhecimento sobre os estágios de desenvolvimento do bebé, afetaria as suas atitudes em relação à criação e cuidado do bebé, através das expectativas erróneas em relação às suas capacidades”. Estes autores sustentam que esta incapacidade se deve tanto à menor escolaridade, como ao menor contacto e experiência dos adolescentes com crianças. Referem ainda que “este conhecimento escasso impediria ainda uma interpretação correta das necessidades do bebé e por conseguinte, uma resposta adequada a elas”. Um outro aspeto, que na opinião de Levandowki e Piccinini interfere na relação do pai adolescente com o seu bebé, é o stress. Estes autores afirmam que o “stress seria mais intenso entre os adolescentes em virtude da ocorrência da gestação fora do tempo previsto socialmente, podendo acarretar isolamento, rejeição, problemas educacionais, profissionais e económicos”. Afirmam ainda, neste contexto, que “os jovens também teriam menos recursos pessoais para lidar com a maior quantidade de stress de uma gravidez precoce”. Julgamos muito importante valorizar cada vez mais o papel do pai adolescente. Torna-se fundamental perceber estes indivíduos que vivem um grande conjunto de transformações desde as biológicas, as psicológicas e as sociais, acrescidas por uma situação não prevista. Afirmamos a necessidade de criar também serviços de apoio social ao pai adolescente como forma de facilitar a perceção de si mesmo e do seu papel de homem e de pai. Concordamos com a afirmação de Levandowki e Piccinini quando dizem que a “rede de apoio social poderá contribuir para a diminuição do stress do jovem, o aumento do conhecimento sobre o desenvolvimento infantil, a promoção da autoestima” destes pais precoces. Consideramos também importante o que a mesmos autores referem “o apoio mais importante parece ser o emocional, principalmente quando proveniente da família de origem”. Ser pai já acarreta um grande conjunto de adaptações necessárias a essa realidade, ora ser pai adolescente torna-se uma realidade bem mais dolorosa devido ao facto da insegurança vivida nessa fase de desenvolvimento, acrescida da realidade nova de ter um bebé e ter de “crescer” rapidamente para cumprir as suas “tarefas” de adolescente e adaptar-se à sua nova realidade de ser pai.
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A maternidade na adolescente traz consigo um enorme conjunto de transformações e vivências na realidade já de si pouco estável de uma jovem. Arlene Burroughs, autora de Uma introdução a enfermagem materna, afirma que “a mãe adolescente é um problema duplo: enfrentar a adolescência e a maternidade”. “A gestação complicada da adolescente aumenta o risco de problemas sociais e médicos desse grupo devido ao atraso no tratamento pré-natal, nutrição deficiente e não observância das instruções de saúde”. Refere um dado que nos parece também de fundamental importância: “a anatomia da adolescente, frequentemente, não está bem desenvolvida para a gestação”. E, que “geralmente a gestação da adolescente apresenta uma taxa aumentada de mortalidade infantil”. Neste sentido, Geraldo Ballone (Gravidez na adolescência) refere que “a gravidez na adolescência é, portanto, um problema que deve ser levado muito a sério e não deve ser subestimado assim como deve ser levado a sério o próprio processo do parto”. Afirma ainda que “este pode ser dificultado por problemas anatómicos e comuns da adolescente, tais como o tamanho e conformidade da pélvis e a elasticidade dos músculos uterinos” e há que ter em conta os “temores, desinformação e fantasias da mãe ex-criança, além dos importantíssimos elementos psicológicos e afetivos possivelmente presentes”. No contexto das consequências do desenvolvimento das adolescentes perante a maternidade, Bárbara Figueiredo, autora de Maternidade na adolescência: consequências e trajetórias desenvolvimentais, diz que “foram assinaladas consequências adversas decorrentes da maternidade na adolescência”. Esta autora enumera principalmente os níveis de ensino mais baixos, as dificuldades económicas (desemprego, emprego mal renumerado ou instabilidade no emprego), divórcio, monoparentalidade, segunda gravidez e problemas psicológicos. Afirma ainda que “as consequências adversas para a mãe situam-se a diversos níveis: a nível físico e de saúde, mas também a nível social, educacional, profissional e socioeconómico”. Concluindo: “A maternidade afeta negativamente e a diversos níveis a trajetória de desenvolvimental da adolescente, particularmente nos domínios educacional (abandono escolar ou menor progressão educativa), socioeconómico (pobreza), ocupacional (desemprego), social (monoparentalidade) e psicológico (por exemplo depressão, baixa autoestima e isolamento social). Com efeito, a investigação empírica tem vindo a mostrar que as mães adolescentes, em relação às adolescentes que não são mães, estão particularmente em risco de abandono escolar precoce, perda de oportunidades de emprego, dificuldades económicas, monoparentalidade e divórcio”. Ana Catarina Carvalho, Isabel Leal e Eduardo Sá referem, em Adolescência e gravidez: autodstima e ansiedade em grávidas adolescentes, que “a adolescente grávida encontra-se perante várias exigências”. Por outro lado, “a adolescente ‘de um dia para o outro’, é obrigada a crescer e a ser mãe, uma vez que a gravidez veio terminar de uma forma abrupta com o período da adolescência”. Além de que, a adaptação repentina ao papel de mãe desencadeia, muitas vezes, uma situação de desequilíbrio psicológico na jovem, que se pode refletir na autoestima. Estes autores defendem também que “a gravidez na adolescência é um acontecimento de vida muito marcante, que exige adaptações importantes e pode ser considerada uma situação indutora de stress. Pesquisas da investigadora Raquel Foresti apontam para que “as adolescentes que engravidam apresentam um ponto em comum: a fragilidade no processo de formação da sua identidade” e que “algumas delas não conseguiram criar vínculos com o mundo do trabalho e tiveram vários empregos num curto espaço de tempo. Outras não enxergam perspetivas nos estudos”. Afirma ainda que “muitas vezes elas demonstram um comportamento mais infantil do que o esperado para a sua idade e não aceitam as responsabilidades” isto leva-as a sentir “que não encontram o seu espaço no mundo”. Uma outra realidade da vivência da maternidade na adolescente é a relação que esta mantém com a sua família de origem. Ballone diz que “uma vez constatada a gravidez, se a família da adolescente for capaz de acolher o novo facto com harmonia, respeito e colaboração, esta gravidez tem maior probabilidade de ser levada a termo sem grandes transtornos”. Pelo contrário se existir “rejeição, conflitos traumáticos de relacionamento, punições atrozes e incompreensão, a adolescente pode sentir-se profundamente só nesta experiência difícil e desconhecida”. Esta realidade poderá levar a adolescente a “correr o risco de procurar o aborto, sair de casa, submeter-se a toda a sorte de atitudes que, ‘acredita´, resolverão o seu problema”. Na sua opinião, “o bem-estar afetivo da adolescente é muito importante para si própria, para o desenvolvimento da gravidez e para a vida do bebé”. Já Michèle de Lima Fernandes diz que “a maternidade na adolescência funciona, geralmente como uma autogratificação e autocompensação afetiva”. Esta autora refere igualmente que “a maioria das adolescentes tinha um parceiro, uma relação afetiva de namoro. Contudo, longe de constituir um ato de afeto entre os progenitores, a procriação adolescente origina geralmente o abandono por parte do pai do bebé. Deste modo, são essenciais os apoios por parte dos familiares da adolescente”. A adolescente grávida, solteira e com uma gravidez não planeada Segundo Ballone, ela precisa de encarar a sua gravidez a partir da vida que nela habita, precisa de sentir segurança a apoio necessários para o seu conforto afetivo, precisa de um diálogo esclarecedor e, finalmente, da presença constante de amor e solidariedade que a ajude nos altos e baixos emocionais, comuns na gravidez, até ao nascimento do seu bebé. A adolescente grávida passa a ser rodeada de conselhos, críticas, sugestões e advertências. Todos parecem ter algo a dizer; alguns amigos querem contribuir para o crescimento do filho, professores e parentes procedem com críticas amargas e dissimuladas, familiares mais próximos com veementes censuras e assim por diante. Embora na sua perspetiva “possa ser agradável receber alguma atenção, muitas vezes pode ser perturbador. Afirma que “a emotividade subjacente a este período torna a mulher hipersensível a algumas sugestões, nomeadamente, no que se refere à sua própria saúde ou ao seu bebé”. Além disso “não é raro que a grávida adolescente experimente algumas sensações de ser especial e isso pode aliviar a eventual depressão pela qual esteja a passar”. Quando a gravidez se torna óbvia e irreversível, a mulher passa a ter um estatuto que lhe confere alguns privilégios”. Mais uma vez, estudos de Foresti referem que as adolescentes que apresentam um comportamento mais infantil do que o esperado para a sua idade, não aceitando as responsabilidades, a gravidez tem uma dupla função: “além de servir como justificativa para a inadequação, a barriga traz um certo poder e até estatuto dentro da família. Preenche o vazio que elas sentem por causa da crise de identidade”. Uma outra realidade da maternidade nas adolescentes é a que é descrita por Burroughs quando afirma que muitas adolescentes decidem ficar com os seus filhos, não procurando o aborto, nem a adoção. Com um sistema de apoio social eficaz, algumas adolescentes asseguraram a maternidade outras precisam de uma ajuda no atendimento ao bebé. Reforça a necessidade de apoio na tomada de decisões, para a gestante adolescente no seu papel de mãe e na prevenção de futuras gestações. Os pais devem criar espaços e ambientes de cumplicidade, abertura e diálogo para que esta tarefa seja facilitada e melhor resolvida no contexto da família. A educação sexual é sem dúvida a ou uma das estratégias mais importantes para que a maternidade e a paternidade possam ser vividas de uma forma responsável e gratificante por parte dos indivíduos. Nesta perspetiva, também a educação sexual poderá fazer diminuir a taxa de gravidez não desejada na adolescência. Michèle de Lima Fernandes, autora de Maternidade na adolescência: visão demográfica de um problema social, afirma que “a formação e informação sexual dos adolescentes parece ser a única forma de diminuir a gravidez que ainda ocorre nessa faixa etária”. Esta autora refere ainda que “apesar de serem diversos os agentes da educação sexual, a informação sexual dos jovens continua ainda muito deficitária”, acrescentando que “a educação sexual é uma dimensão educável na pessoa humana e excede a passos largos a mera informação sexual”. Afirma ainda que “a educação sexual constitui um fator determinante na prevenção da gravidez na adolescência, contribuindo para o desenvolvimento de competências e adaptações de comportamentos bio-psico-socialmente saudáveis, responsáveis e gratificantes”. A Associação para o Planeamento da Família, por seu lado, diz que “rapazes e raparigas são parte da solução, não o problema, quando se fala de educação sexual”. E acrescenta ainda que “devemos, por isso, ter em atenção os seus tempos, espaços e oportunidades, quer de participação quer de agentes diretos na mudança na mentalidade e processos, incluindo os políticos”. Existem vários atores a quem compete realizar esta educação. Compete à família, à escola e à sociedade, num sentido holístico, contribuir para a (in)formação dos adolescentes para facilitar condições para que sejam capazes de amar, de se realizarem sexualmente, de se sentirem amados e felizes e de viverem numa fase matura, uma maternidade e paternidade em toda a sua plenitude, esplendor e harmonia (Fernandes). Para outros autores ainda, como Lemos e Leandro, “a educação sexual tornou-se hoje uma questão da sociedade na medida em que interroga e compromete a família, a escola e os políticos, os cientistas mais diretamente relacionados com a problemática da saúde ou com as questões sociais em sentido mais amplo”. Na opinião da Associação para o Planeamento da Família, “é urgente que adolescentes e jovens recebam todo o apoio, aconselhamento e cuidados de saúde, incluindo de saúde sexual e reprodutiva, que necessitam e, que os serviços existam para que tal aconteça”. Esta associação afirma também que “Ao investir nas camadas mais jovens da população, estamos fundamentalmente a investir nas suas necessidades e direitos básicos, dando uma resposta ética e direitos fundamentais a um problema social importante, como também estamos a dar uma resposta estratégica e com grande eficácia de custos para os desafios de desenvolvimento estabelecidos pela Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), pela Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher (Pequim, 1995) e pelas sucessivas revisões. Não esquecendo o compromisso mundial assumindo na Declaração do Milénio, em 2000, pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio e pela Sessão Especial das NU sobre VIH/SIDA, em 2001”. Neste contexto, é afirmado pela ECOS que, “além das ações educativas, é preciso constituir políticas de saúde reprodutiva para os jovens de forma mais ampla, com caráter intersetorial, levando em conta a participação dos jovens”. É dito que estas ações devem considerar “a heterogeneidade existente (…) e propor estratégias diferenciadas que privilegiem os grupos de maior vulnerabilidade”. Por outro lado, no âmbito do trabalho com jovens, “é importante também considerar uma articulação intersetorial, garantindo as seguintes ações:
Os pais e a educação sexual Julgamos da maior importância a relação da família e sobretudo dos pais na educação sexual dos adolescentes. Lemos e Leandro afirmam que “embora se possa falar em transformações dos padrões que moldam a nossa sociedade, para muitas famílias, as questões da sexualidade são, por vezes, interpretadas à luz dos valores tradicionais”. Estas autoras inferem que “muitos jovens, perante esta questão, têm sérias dificuldades em falar abertamente com os pais sobre os seus problemas no âmbito da sexualidade”, acrescentado que “O envolvimento familiar nas questões de educação sexual dos filhos é extremamente importante, pois, permite não só aos filhos adolescentes conhecer, a seu tempo, e de acordo com a maturidade que apresentam todos os aspetos (físicos, psicológicos, sociais, intelectuais…) relacionados com os mesmos, como os pais que, conhecendo mais de perto a evolução de crescimento do seu filho e estando presentes nos momentos difíceis dos mesmos, têm uma maior liberdade para abordar certas questões relacionadas com a educação sexual”. Relativamente à educação sexual dos filhos, o papel dos pais é fundamental para que se atinja o objetivo final: uma educação sexual, onde a prevenção das gravidezes indesejadas e das infeções de transmissão sexual sejam tratados dentro de um espaço de comunicação e abertura face aos temas de ambas as partes (Lemos e Leandro). De acordo com Duarte Vilar, autor de Falar Disso – Educação Sexual nas Famílias dos Adolescentes, “mesmo nas famílias em que existe uma comunicação entre progenitores e adolescentes aquela continuará a ter um caráter informal”, além de que “muitos progenitores e adolescentes continuarão a ter dificuldades reais na comunicação sobre este tipo de questões. Dificuldades estas que são inerentes às características da adolescência e, noutro caso, às incapacidades ou insuficiências dos progenitores neste campo específico”. Gill Greer, secretária-geral da International Planned Parenthood Federation, afirma que “num mundo ideal, uma mulher jovem toma determinadas decisões com o apoio dos pais, mas, infelizmente, sabemos que existem muitas razões pelas quais isso não acontece”. Quanto à responsabilidade educacional dos pais durante a adolescência, Armando Neto, autor de Gravidez na Adolescência, diz que “podemos encontrar em Osborne (1975) aspetos importantes sobre pais que valorizam a autonomia e a disciplina no comportamento, estimulam mais o desenvolvimento da confiança, da responsabilidade e da independência. Pais que são autoritários, os quais tendem à repressão dos desacordos, porém não podem exterminá-los, e os filhos adolescentes provavelmente acabam sendo menos seguros, pensando e agindo pouco por si próprios. Pais negligentes ou permissivos que não oferecem o tipo de ajuda que o adolescente precisa: permitem que os filhos percam o rumo, não oferecendo a eles modelos de um comportamento responsável”. Segundo este autor, existe uma “enorme responsabilidade educacional durante o processo de adolescência”. Aos pais cabe a preparação sobre as mudanças no corpo e a aprendizagem de como lidar com a questão sexual, usando de honestidade e preocupando-se em transmitir valores, além das regras. Perante estas afirmações, julgamos importante que os pais possam, ao longo da educação dos seus filhos e da sua educação com eles, criar espaços e ambientes de cumplicidade, abertura e diálogo para que esta tarefa seja facilitada e melhor resolvida no contexto da família. A gravidez na adolescência é uma temática relativamente recente nas sociedades. O relatório da UNICEF de 2002, afirma que "O facto de ser mãe com quinze anos não era obrigatoriamente sinal de exclusão social e de pobreza nas sociedades industrializadas dos anos cinquenta. As transformações sociais, culturais e demográficas atuais como a diminuição da fertilidade, o aumento dos nascimentos fora do casamento, assim como o declínio da família mononuclear tradicional levam-nos a compreender porque é que a maternidade precoce está associada a um conjunto de riscos individuais: como o isolamento social e familiar, abandono escolar precoce e a de cuidar sozinha uma criança dependendo das ajudas sociais". Segundo Filomena Gerardo, do ponto de vista da sociedade os adolescentes devem ter um percurso escolar de preferência longo, entrar no mercado de trabalho e depois constituírem família. Esta autora entende que “o facto de haver alteração desta trajetória provoca um certo embaraço nas autoridades e na sociedade em geral que considera a maternidade precoce como um desvio social”. No contexto português, e de acordo com a Associação para o Planeamento da Família, citando dados do Instituto Nacional de Estatística, é dito que” apesar da maternidade na adolescência estar a diminuir em Portugal (…) continua a ser um problema”, porque “existem consequências negativas aos níveis psicológico, biológico, social, educativo e económico, principalmente associadas à rapariga grávida ou à mãe, mas também ao pai da criança, à família de ambos, ao bebé e, até, à sociedade”. Esta associação afirma ainda que “estas consequências são na verdade mais significativas se considerarmos os/as jovens provenientes de meios de pobreza ou pobreza extrema, onde coexistem já vulnerabilidades acrescidas aos níveis referidos”. FATORES FACILITADORES Os factores facilitadores da gravidez da adolescência relacionam-se particularmente com situações de vulnerabilidade das jovens quer psicologicamente, quer socialmente. Bárbara Figueiredo et al, referindo-se a Social Exclusion Unit (1999), dizem que “as mães adolescentes são sobretudo jovens que vivem em áreas mais pobres e degradadas, que estão mais desprotegidas ou que são mais vulneráveis do ponto de vista psicológico e social”. Afirmam ainda que esta vulnerabilidade está associada ao facto de estas terem sido “excluídas do sistema escolar ou então desempregadas”. Em 1991, Duarte Vilar afirmava que “as jovens adolescentes oriundas de meios urbanos e desfavorecidos, que têm pouca segurança nelas e sós, procuram muitas vezes na sexualidade a ternura e afeto que lhes falta em casa. E é neste contexto que surge a maior parte das adolescentes grávidas que desejam a sua gravidez”. Ainda para Filomena Gerardo, “parece ser um facto, que a gravidez adolescente e a maternidade precoce estão presentes sobretudo, em contextos sociais mais desfavorecidos, onde as adolescentes estão perante situações familiares desestruturadas (violência doméstica, desemprego, pobreza, alcoolismo) ”. Perante estas situações, a autora refere que “a falta de apoio familiar nestes contextos, implica que muitas jovens tendem a encontrar compensações afectivas fora do seio da família, através de um namoro ou de um maior contacto com o grupo de pares”. Salienta ainda que “a maternidade pode surgir, muitas vezes, como um apelo à família para a sua valorização pessoal e a uma emancipação no contexto social e cultural”. Por outro lado, acrescenta que “não são apenas os fatores de ordem física e biológica que podem induzir numa predisposição para a maternidade precoce, o contexto social tem um papel preponderante na formação da identidade, das expectativas individuais e deste modo nos comportamentos desta população”. Em Bárbara Figueiredo et al, “as adolescentes que engravidam, com significativa frequência, viveram condições adversas no decurso da sua trajectória de desenvolvimento”. Os autores, citando um grande conjunto de outros autores, enumeram algumas das condições destas adolescentes que engravidam:
Por sua vez, Fernandes diz que “a perda de valores da família e das relações interpessoais entre pais e filhos, a abordagem de assuntos acerca da sexualidade e contracepção, tão prementes na sociedade actual, contribuem para uma gravidez não desejada ou um desejo de gravidez como perspectiva de uma vida melhor”. Refere ainda que “existe uma relação causa-efeito entre a má compreensão acerca dos métodos contraceptivos e a gravidez na adolescência”. Porém, embora a maioria das adolescentes tenha engravidado por acidente, “algumas quiseram engravidar, sendo a ausência de planos futuros e o insucesso escolar, fatores motivadores e desencadeadores dessa opção”. Existem outras características, segundo Bárbara Figueiredo et al, que “são apontadas em associação com a maternidade na adolescência”, a saber:
CONSEQUÊNCIAS A gravidez na adolescência transporta um conjunto de consequências a nível individual, familiar e social. No contexto do desenvolvimento da gravidez e parto, Marta Yazlle et al dizem que “Alguns estudos têm demonstrado aumento na incidência de intercorrências pré-natais, intraparto e perinatais entre gestantes adolescentes, como a prematuridade e o baixo peso dos nascimentos”. Afirma esta autora que “existem ainda relatos de aumento de incidência de restrição de crescimento intra-uterino, sofrimento fetal agudo intra-parto, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, o que poderia concorrer para maior número de operações cesarianas neste grupo populacional”. No entanto, acresenta que “outros autores têm demonstrado que resultados contrários aos citados previamente, sustentando a ideia de que a gravidez é fisicamente bem tolerada pelas adolescentes”. Esta realidade é mais notada entre as adolescentes que recebem assistência pré-natal precoce e de forma regular. Estes autores referem que “outros factores, além da qualidade da assistência pré-natal, tais como condições sociais e de saúde, podem exercer mais influência sobre os resultados da gravidez do que simplesmente a idade precoce da gestante”. E, afirmam de forma clara que apesar da controvérsia acerca dos resultados obstétricos e perinatais, existe um consenso geral de que o estado gravídico e a maternidade interferem negativamente, sobre o estilo de vida das adolescentes. Mais importante ainda, são as consequências desfavoráveis sobre as perspectivas de estudo e trabalho, ou seja, crescimento pessoal e profissional. A maternidade precoce, numa perspetiva social, segundo Filomena Gerardo, “exclui numa primeira instância porque do ponto de vista social, a adolescência não é entendida como um momento de procriação e sobretudo na maior parte das situações é fora da conjugalidade”. Afirma que a maternidade precoce “pode considerar-se um desvio social que acentua a situação de exclusão social. E ainda os vários aspetos negativos são muitas vezes enunciados relativamente à maternidade precoce, que acentua o processo de exclusão social”. Esta autora salienta ainda que as consequências socioeconómicas que as mães adolescentes têm de enfrentar são consideráveis. E são muito mais suscetíveis de ter um maior número de experiências negativas na idade adulta do que as outras mulheres. Os problemas são de ordem física e psíquica, assim como o isolamento social e familiar, mas também a pobreza. Segundo, determinados investigadores americanos, as mães adolescentes têm oito vezes mais probabilidade de ser mães sós. Gerardo refere também que “após a maternidade a jovem pode sofrer de isolamento social… porque quando a jovem não tem uma estrutura familiar que lhe dê suporte, esta tem de ficar com a criança caso ela não tenha apoios para voltar à sua vida social e laboral”. Esta situação, o abandono do mundo laboral e escolar, na perspetiva desta autora, “conduz à quebra dos laços sociais e institucionais, sem falar da falta de recursos financeiros que afasta a jovem de uma vida em sociedade”. Um outro fator de exclusão é a maternidade vir “agravar a situação da jovem no sentido em que terá ou tem de abandonar o sistema escolar”. Perante esta situação e “não tendo recursos económicos fica dependente dos seus familiares quando estes a apoiam”. Todavia, segundo a autora, “a maternidade precoce pode ser motivo de rutura familiar, conduzindo a jovem para a situação de precariedade habitacional, dado que foi expulsa de casa dos pais, criando uma situação de fragilidade afetiva e emocional”. Além disso, “a ausência de um dos cônjuges reduz a possibilidade de usufruir de apoio financeiro no seio familiar. Estas mães, estão mais dependentes das ajudas e benefícios sociais, o que é sinónimo de precariedade e por vezes de pobreza”. Hobcraft e Kierman reforçam esta ideia referindo ainda que “as mães adolescentes têm habilitações escolares abaixo da média, o que aumenta consideravelmente o subemprego e o risco da pobreza. Estes riscos são triplicados se a mãe da adolescente viveu a experiência da pobreza durante a infância”. Para Bárbara Figueiredo et al, em consequência da gravidez na adolescência, verifica-se um conjunto de situações adversas. Cerca de metade das mães adolescentes:
Shirley de Campos considera que uma gravidez precoce tem como consequências:
Para Carvalho, Leal e Sá, em quaisquer circunstâncias a gravidez na adolescência pode:
Bárbara Figueiredo et al (2006) afirmam que na gravidez na adolescência são frequentes as dificuldades obstétricas e os problemas de saúde da mãe. Os filhos de adolescentes “tendem com maior frequência a morte fetal, nascimento prematuro e baixo peso à nascença”. Referem ainda que estes filhos de adolescentes tendem a “ser admitidos em hospitais e a ser vítimas de acidentes, ser alvo de negligência ou de abuso”. Salientam que devido a estes factos “a taxa de mortalidade infantil é particularmente elevada no grupo das mães adolescentes”. Mencionam ainda que se observa “um maior número de crianças com atrasos de desenvolvimento cognitivo, baixo rendimento escolar, problemas de comportamento e padrões inseguros de vinculação” e salientam que “estas consequências são correntemente mais visíveis nas adolescentes mais novas, em relação às de mais idade, e nas adolescentes com experiências adversas durante a infância ou na actual gravidez, diminuindo significativamente quando viveram/vivem em contextos mais favoráveis”. PARA SABER MAIS ASSOCIAÇÃO para o Planeamento da Família. Gravidez e Maternidade adolescente – direitos humanos e saúde sexual e reprodutiva. BALLONE, GJ. Gravidez na adolescência. CAMPOS, Shirley de (2006). Psicologia: características psicológicas da primigestação. CAMPOS, Shirley de (2005). Gravidez na adolescência. CARVALHO, Ana Catarina, LEAL, Isabel e SÁ, Eduardo. Adolescência e gravidez: auto-estima e ansiedade em grávidas adolescentes. ECOS. Gravidez na adolescência e Programas de atenção à gravidez na adolescência. FERNANDES, Michèle de Lima. Maternidade na adolescência: visão demográfica de um problema social. FIGUEIREDO, Bárbara (2000). Maternidade na adolescência: consequências e trajectórias desenvolvimentais. Análise psicologia. FIGUEIREDO, Bárbara et al (2006). Gravidez na adolescência: das circunstâncias de risco às circunstâncias que favorecem a adaptação à gravidez. Asociación Española de Psicologia Conductual. GERARDO, Filomena (2004). Maternidade na adolescência: uma forma de integração social e/ou exclusão social. LEVANDOWSKY, Daniela Centenaro e PICCINI, Cesar Augusto (2002). A interacção pai-bebé entre pais adolescentes e adultos. Psicologia: Reflexão Critica. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/prc/v15n2/14364.pdf VILAR, Duarte (2003). Falar Disso – Educação Sexual nas Famílias dos Adolescentes. Edições Afrontamento. Porto. YAZLLE, Marta Ednan Holanda Diógenes et al (2002). A adolescente grávida: alguns indicadores sociais. RBGO-V.24, nº9. . Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v24n9/v24n9a07.pdf |
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