A gravidez na adolescência é uma temática relativamente recente nas sociedades. O relatório da UNICEF de 2002, afirma que "O facto de ser mãe com quinze anos não era obrigatoriamente sinal de exclusão social e de pobreza nas sociedades industrializadas dos anos cinquenta. As transformações sociais, culturais e demográficas atuais como a diminuição da fertilidade, o aumento dos nascimentos fora do casamento, assim como o declínio da família mononuclear tradicional levam-nos a compreender porque é que a maternidade precoce está associada a um conjunto de riscos individuais: como o isolamento social e familiar, abandono escolar precoce e a de cuidar sozinha uma criança dependendo das ajudas sociais". Segundo Filomena Gerardo, do ponto de vista da sociedade os adolescentes devem ter um percurso escolar de preferência longo, entrar no mercado de trabalho e depois constituírem família. Esta autora entende que “o facto de haver alteração desta trajetória provoca um certo embaraço nas autoridades e na sociedade em geral que considera a maternidade precoce como um desvio social”. No contexto português, e de acordo com a Associação para o Planeamento da Família, citando dados do Instituto Nacional de Estatística, é dito que” apesar da maternidade na adolescência estar a diminuir em Portugal (…) continua a ser um problema”, porque “existem consequências negativas aos níveis psicológico, biológico, social, educativo e económico, principalmente associadas à rapariga grávida ou à mãe, mas também ao pai da criança, à família de ambos, ao bebé e, até, à sociedade”. Esta associação afirma ainda que “estas consequências são na verdade mais significativas se considerarmos os/as jovens provenientes de meios de pobreza ou pobreza extrema, onde coexistem já vulnerabilidades acrescidas aos níveis referidos”. FATORES FACILITADORES Os factores facilitadores da gravidez da adolescência relacionam-se particularmente com situações de vulnerabilidade das jovens quer psicologicamente, quer socialmente. Bárbara Figueiredo et al, referindo-se a Social Exclusion Unit (1999), dizem que “as mães adolescentes são sobretudo jovens que vivem em áreas mais pobres e degradadas, que estão mais desprotegidas ou que são mais vulneráveis do ponto de vista psicológico e social”. Afirmam ainda que esta vulnerabilidade está associada ao facto de estas terem sido “excluídas do sistema escolar ou então desempregadas”. Em 1991, Duarte Vilar afirmava que “as jovens adolescentes oriundas de meios urbanos e desfavorecidos, que têm pouca segurança nelas e sós, procuram muitas vezes na sexualidade a ternura e afeto que lhes falta em casa. E é neste contexto que surge a maior parte das adolescentes grávidas que desejam a sua gravidez”. Ainda para Filomena Gerardo, “parece ser um facto, que a gravidez adolescente e a maternidade precoce estão presentes sobretudo, em contextos sociais mais desfavorecidos, onde as adolescentes estão perante situações familiares desestruturadas (violência doméstica, desemprego, pobreza, alcoolismo) ”. Perante estas situações, a autora refere que “a falta de apoio familiar nestes contextos, implica que muitas jovens tendem a encontrar compensações afectivas fora do seio da família, através de um namoro ou de um maior contacto com o grupo de pares”. Salienta ainda que “a maternidade pode surgir, muitas vezes, como um apelo à família para a sua valorização pessoal e a uma emancipação no contexto social e cultural”. Por outro lado, acrescenta que “não são apenas os fatores de ordem física e biológica que podem induzir numa predisposição para a maternidade precoce, o contexto social tem um papel preponderante na formação da identidade, das expectativas individuais e deste modo nos comportamentos desta população”. Em Bárbara Figueiredo et al, “as adolescentes que engravidam, com significativa frequência, viveram condições adversas no decurso da sua trajectória de desenvolvimento”. Os autores, citando um grande conjunto de outros autores, enumeram algumas das condições destas adolescentes que engravidam:
Por sua vez, Fernandes diz que “a perda de valores da família e das relações interpessoais entre pais e filhos, a abordagem de assuntos acerca da sexualidade e contracepção, tão prementes na sociedade actual, contribuem para uma gravidez não desejada ou um desejo de gravidez como perspectiva de uma vida melhor”. Refere ainda que “existe uma relação causa-efeito entre a má compreensão acerca dos métodos contraceptivos e a gravidez na adolescência”. Porém, embora a maioria das adolescentes tenha engravidado por acidente, “algumas quiseram engravidar, sendo a ausência de planos futuros e o insucesso escolar, fatores motivadores e desencadeadores dessa opção”. Existem outras características, segundo Bárbara Figueiredo et al, que “são apontadas em associação com a maternidade na adolescência”, a saber:
CONSEQUÊNCIAS A gravidez na adolescência transporta um conjunto de consequências a nível individual, familiar e social. No contexto do desenvolvimento da gravidez e parto, Marta Yazlle et al dizem que “Alguns estudos têm demonstrado aumento na incidência de intercorrências pré-natais, intraparto e perinatais entre gestantes adolescentes, como a prematuridade e o baixo peso dos nascimentos”. Afirma esta autora que “existem ainda relatos de aumento de incidência de restrição de crescimento intra-uterino, sofrimento fetal agudo intra-parto, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, o que poderia concorrer para maior número de operações cesarianas neste grupo populacional”. No entanto, acresenta que “outros autores têm demonstrado que resultados contrários aos citados previamente, sustentando a ideia de que a gravidez é fisicamente bem tolerada pelas adolescentes”. Esta realidade é mais notada entre as adolescentes que recebem assistência pré-natal precoce e de forma regular. Estes autores referem que “outros factores, além da qualidade da assistência pré-natal, tais como condições sociais e de saúde, podem exercer mais influência sobre os resultados da gravidez do que simplesmente a idade precoce da gestante”. E, afirmam de forma clara que apesar da controvérsia acerca dos resultados obstétricos e perinatais, existe um consenso geral de que o estado gravídico e a maternidade interferem negativamente, sobre o estilo de vida das adolescentes. Mais importante ainda, são as consequências desfavoráveis sobre as perspectivas de estudo e trabalho, ou seja, crescimento pessoal e profissional. A maternidade precoce, numa perspetiva social, segundo Filomena Gerardo, “exclui numa primeira instância porque do ponto de vista social, a adolescência não é entendida como um momento de procriação e sobretudo na maior parte das situações é fora da conjugalidade”. Afirma que a maternidade precoce “pode considerar-se um desvio social que acentua a situação de exclusão social. E ainda os vários aspetos negativos são muitas vezes enunciados relativamente à maternidade precoce, que acentua o processo de exclusão social”. Esta autora salienta ainda que as consequências socioeconómicas que as mães adolescentes têm de enfrentar são consideráveis. E são muito mais suscetíveis de ter um maior número de experiências negativas na idade adulta do que as outras mulheres. Os problemas são de ordem física e psíquica, assim como o isolamento social e familiar, mas também a pobreza. Segundo, determinados investigadores americanos, as mães adolescentes têm oito vezes mais probabilidade de ser mães sós. Gerardo refere também que “após a maternidade a jovem pode sofrer de isolamento social… porque quando a jovem não tem uma estrutura familiar que lhe dê suporte, esta tem de ficar com a criança caso ela não tenha apoios para voltar à sua vida social e laboral”. Esta situação, o abandono do mundo laboral e escolar, na perspetiva desta autora, “conduz à quebra dos laços sociais e institucionais, sem falar da falta de recursos financeiros que afasta a jovem de uma vida em sociedade”. Um outro fator de exclusão é a maternidade vir “agravar a situação da jovem no sentido em que terá ou tem de abandonar o sistema escolar”. Perante esta situação e “não tendo recursos económicos fica dependente dos seus familiares quando estes a apoiam”. Todavia, segundo a autora, “a maternidade precoce pode ser motivo de rutura familiar, conduzindo a jovem para a situação de precariedade habitacional, dado que foi expulsa de casa dos pais, criando uma situação de fragilidade afetiva e emocional”. Além disso, “a ausência de um dos cônjuges reduz a possibilidade de usufruir de apoio financeiro no seio familiar. Estas mães, estão mais dependentes das ajudas e benefícios sociais, o que é sinónimo de precariedade e por vezes de pobreza”. Hobcraft e Kierman reforçam esta ideia referindo ainda que “as mães adolescentes têm habilitações escolares abaixo da média, o que aumenta consideravelmente o subemprego e o risco da pobreza. Estes riscos são triplicados se a mãe da adolescente viveu a experiência da pobreza durante a infância”. Para Bárbara Figueiredo et al, em consequência da gravidez na adolescência, verifica-se um conjunto de situações adversas. Cerca de metade das mães adolescentes:
Shirley de Campos considera que uma gravidez precoce tem como consequências:
Para Carvalho, Leal e Sá, em quaisquer circunstâncias a gravidez na adolescência pode:
Bárbara Figueiredo et al (2006) afirmam que na gravidez na adolescência são frequentes as dificuldades obstétricas e os problemas de saúde da mãe. Os filhos de adolescentes “tendem com maior frequência a morte fetal, nascimento prematuro e baixo peso à nascença”. Referem ainda que estes filhos de adolescentes tendem a “ser admitidos em hospitais e a ser vítimas de acidentes, ser alvo de negligência ou de abuso”. Salientam que devido a estes factos “a taxa de mortalidade infantil é particularmente elevada no grupo das mães adolescentes”. Mencionam ainda que se observa “um maior número de crianças com atrasos de desenvolvimento cognitivo, baixo rendimento escolar, problemas de comportamento e padrões inseguros de vinculação” e salientam que “estas consequências são correntemente mais visíveis nas adolescentes mais novas, em relação às de mais idade, e nas adolescentes com experiências adversas durante a infância ou na actual gravidez, diminuindo significativamente quando viveram/vivem em contextos mais favoráveis”. PARA SABER MAIS ASSOCIAÇÃO para o Planeamento da Família. Gravidez e Maternidade adolescente – direitos humanos e saúde sexual e reprodutiva. BALLONE, GJ. Gravidez na adolescência. CAMPOS, Shirley de (2006). Psicologia: características psicológicas da primigestação. CAMPOS, Shirley de (2005). Gravidez na adolescência. CARVALHO, Ana Catarina, LEAL, Isabel e SÁ, Eduardo. Adolescência e gravidez: auto-estima e ansiedade em grávidas adolescentes. ECOS. Gravidez na adolescência e Programas de atenção à gravidez na adolescência. FERNANDES, Michèle de Lima. Maternidade na adolescência: visão demográfica de um problema social. FIGUEIREDO, Bárbara (2000). Maternidade na adolescência: consequências e trajectórias desenvolvimentais. Análise psicologia. FIGUEIREDO, Bárbara et al (2006). Gravidez na adolescência: das circunstâncias de risco às circunstâncias que favorecem a adaptação à gravidez. Asociación Española de Psicologia Conductual. GERARDO, Filomena (2004). Maternidade na adolescência: uma forma de integração social e/ou exclusão social. LEVANDOWSKY, Daniela Centenaro e PICCINI, Cesar Augusto (2002). A interacção pai-bebé entre pais adolescentes e adultos. Psicologia: Reflexão Critica. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/prc/v15n2/14364.pdf VILAR, Duarte (2003). Falar Disso – Educação Sexual nas Famílias dos Adolescentes. Edições Afrontamento. Porto. YAZLLE, Marta Ednan Holanda Diógenes et al (2002). A adolescente grávida: alguns indicadores sociais. RBGO-V.24, nº9. . Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v24n9/v24n9a07.pdf
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