As crianças transportam, regra geral, peso a mais nas mochilas; por outro lado, nem sempre a usam da maneira mais correta, o que pode trazer problemas futuros a nível músculo-esquelético. Saiba os cuidados a ter... A mochila é dos utensílios de transporte de material didático mais utilizado pelos estudantes, nos seus trajetos de casa para a escola e vice-versa. Quando comparadas com outros meios de transporte de livros e cadernos (na mão, em malas de mão ou a tiracolo), têm inegáveis vantagens: permitem a repartição simétrica do peso por ambos os ombros, deixando livres as mãos. Para muitos estudantes, esta é a única forma de transportar o (muito) material didático necessário às suas atividades escolares. Essa mochila é, normalmente, transportada de várias formas, algumas das quais subvertendo a técnica recomendável, a de colocá-la às costas, com as alças ajustadas em ambos os ombros. Nomeadamente, realizando o seu transporte com esta apoiada num só ombro. Para além da forma incorreta de transportar a mochila, tantas vezes utilizada pelos estudantes, o peso excessivo agrava a sobrecarga que se manifesta durante a locomoção. Vários investigadores têm produzido estudos que demonstram que, deste facto, resultam determinadas alterações ao nível da postura estática e durante a marcha. Da prática recorrente e prolongada desses mecanismos de sobrecarga, muitos jovens parecem manifestar sinais claros de dor que associam com frequência ao uso das mochilas pesadas e que resultam, em muitos casos, em idas a consultas médicas, clínicas de reabilitação física, etc. Este é um problema atual de bem-estar infantil e de prevenção futura, que atinge milhares de crianças e jovens. As queixas manifestadas pelos alunos, acerca do desconforto sentido e das dores relacionadas com o transporte das suas mochilas escolares, bem como de evidentes compensações posturais ao peso que estas transportam, têm levantado suspeitas da existência de uma realidade que atenta contra a qualidade de vida de um número relevante de estudantes. Para além da importância de se realizar corretamente o transporte da mochila, é fundamental que a carga transportada na mesma não ultrapasse determinados limites de peso. A maior parte dos estudos produzidos, aponta para limites de carga transportada por crianças, em torno dos 10 a 15% do seu peso corporal. As crianças e jovens precisam de limitações para o peso das mochilas, sensíveis à sua idade, peso, padrão de crescimento e nível de força. Tem sido considerado que o transporte de cargas a partir de determinada intensidade, coloca pressões adicionais sobre as estruturas ósseas da coluna vertebral das crianças e adolescentes, tomando-os propensos a alterações na postura. Muitas vezes associados a alterações posturais encontram-se problemas de dores nas costas, nos ombros e no pescoço. A escoliose funcional é outro problema associado ao uso incorreto das mochilas. Algumas recomendações De acordo com Paulo Pereira, coordenador nacional da Campanha Olhe pelas Suas Costas, “é cada vez mais importante sensibilizar os pais e professores para este problema porque os alunos, sobretudo os mais jovens, não se apercebem do peso excessivo das mochilas escolares nem da postura errada que adoptam quando as transportam”. O excesso de peso nos ombros provocado pela quantidade de objectos que transportam na mochila pode vir a prejudicar o desenvolvimento físico das crianças e dos jovens, nomeadamente ao nível do aparelho músculo-esquelético. Segundo as recomendações da Campanha Olhe pelas Suas Costas, uma mochila adequada deve: • Ser feita de material leve e resistente • Ter o tamanho igual às costas da criança • Ter costas almofadadas • Ter duas alças almofadadas e fáceis de ajustar • Ter compartimentos para que os materiais escolares sejam arrumados e estabilizados • Não deve pesar mais de 10% do peso do corpo da criança • O ideal seria o uso de mochila com rodinhas quando as crianças a transportam em distâncias significativas em terrenos planos. É também importante que os alunos levem para as aulas apenas o material necessário que precisarem para esse dia da semana. “A prevenção de problemas na coluna passa sobretudo pelos educadores, pais e professores, que devem estar atentos não só ao transporte de mochilas mas também, à postura adoptada durante as aulas, à prática de exercício físico e aos sintomas das crianças”, reforça Paulo Pereira. Um estudo recente indica que sete em cada 10 pessoas sofrem de dores nas costas, ou seja, 72,4 por cento da população portuguesa. No entanto, quase metade dos portugueses admite que nunca ouviu falar de doenças relacionadas com dores nas costas. Prevalência de problemas músculo-esqueléticos de crianças em idade escolar Segundo a Direcção-geral de Saúde, e contrariamente ao que se possa assumir, os problemas músculo-esqueléticos, enquanto quadro clínico, não estão confinados à população adulta. Os primeiros estudos relativos aos problemas músculo-esqueléticos com crianças em idade escolar datam da década de 80. Os resultados dos estudos clínicos e epidemiológicos de análise dos fatores de risco remetem-nos para a evidência da existência de alterações degenerativas da coluna em várias fases do crescimento e para a importância e para a urgência de uma intervenção precoce (Phélip, 1999). Um número surpreendente de crianças e adolescentes têm reportado problemas ao nível da coluna lombar, cervical, ombros e cefaleias (Niemi, Levoska, Rekola et al., 1997; Salminen, 1984). Os problemas na coluna lombar e cervical têm tido, igualmente, um impacto económico substancial, em custos diretos e indiretos relacionados com a incapacidade. Por outro lado, existe uma evidência crescente de que os problemas músculoesqueléticos em crianças e adolescentes têm um valor preditivo sobre a experiência de lesões na idade adulta (Adams, Mannion & Dolan, 1999; Harreby, Nygaard, Hesselsoe et al., 1995; Salminen, Erkintalo, Pentti et al., 1999). A experiência precoce de problemas músculo-esqueléticos ocorre com maior expressão aos 11 e 12 anos de idade e são mais frequentes nas raparigas. A sua frequência aumenta com a idade, de modo mais acentuado até aos 15 anos, podendo alcançar os 50% da população aos 18 anos de idade (Burton, Clarke, McClunr et al., 1996; Troussier, Davoire, de Gaudemaris et al., 1994). Não obstante, Mierau et al. (1989) identificaram uma prevalência de 23 % de problemas de natureza músculo-esquelética em crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos. Importa ainda salientar que as situações crónicas e recorrentes também não são raras (5-15%), resultando frequentemente na condição de incapacidade. Durante a última década, a investigação em ergonomia conduziu a um interesse crescente sobre a evolução tecnológica do trabalho e a conceção de mobiliário baseado em princípios biomecânicos. O debate tem sido especialmente ativo no que respeita às recomendações de novos princípios para a conceção de cadeiras e de planos de trabalho. Contudo, pouco interesse tem sido manifestado relativamente ao posto comum de todos nós: a escola. As crianças estão expostas a fatores de risco específicos, diferentes dos adultos, mas também eles conducentes a efeitos negativos para a saúde músculo-esquelética. A idade, as lesões agudas da coluna vertebral, a história clínica familiar, a assimetria do tronco, o rápido incremento em altura, os períodos de tempo dispendidos a ver televisão, o género feminino, as condições emocionais e o stress estão positivamente associados aos problemas músculo-esqueléticos nas crianças em idade escolar (Phélip, 1999). Entre os factores de risco reportados na literatura, destacam-se os de natureza: • Física: manutenção da postura de sentado por longos períodos de tempo, adoção de posturas desfavoráveis em consequência do desajustamento do mobiliário escolar às características antropométricas ou à natureza da atividade desenvolvida; e a manipulação de cargas motivadas pelo transporte de mochilas, por vezes, unilateralmente. • Psicossocial: frequência e duração das tarefas escolares, exigências atencionais, nível de concentração, motivação, o envolvimento dos pais e dos educadores, coesão dos alunos, autonomia na realização das tarefas e cooperação. • Individual: antecedentes clínicos de doença músculo-esquelética, idade, género, características antropométricas e morfológicas, prática de atividade física. Fontes: O transporte de cargas em mochilas escolares e o desenvolvimento motor harmonioso das crianças: Estudo das repercussões biomecânicas agudas na marcha e na equilibração, com cargas diferenciadas (2002) - Dissertação de Mestrado de Tiago Ferreira Lopes/info/CEDI nº 38, Instituto de Apoio à Criança (http://www.iacrianca.pt/divulgacao/infocedi) Campanha Olhe Pelas Suas Costas (https://www.facebook.com/olhe.costas/www.olhepelassuascostas.com); Direcção-geral de Saúde (http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i008418.pdf). Artigos relacionados - Endireita-te!
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