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Inquérito Proteste Escola, trabalho ou "net" são palco de violência verbal ou física continuada para um terço dos inquiridos. Importa mudar atitudes e valorizar os sinais de alarme É possível associar a noção de pouca felicidade a quem sofreu bullying no recreio da escola, a trabalhar ou no ciberespaço. Mais de um terço dos inquiridos afirmaram já ter sido vítimas num desses três contextos. Produtividade e empenho entram em queda se, no local de trabalho, for objeto de bullying. No contexto profissional é também conhecido como mobbing. As memórias sobre o que aconteceu aparecem, por vezes, em pesadelos ou em confronto com situações que provocam a recordação. Da nossa amostra, 12% das vítimas de bullying mantêm recordações que as perturbam mesmo em idade adulta. O bullying é um comportamento agressivo, físico ou verbal, repetido no tempo, em relação a uma determinada vítima incapaz de se defender. Não surge como resposta a uma provocação. Exclusão social e ridicularização são outras manifestações. Desvalorizado por muitos e encarado durante décadas como parte do “crescimento”, o bullying é um tema incontornável no contexto escolar. O conceito estende-se ao local de trabalho (mobbing) e à Internet (cyberbullying) ou até ao bairro onde se mora. Marcas para toda a vida Os rapazes, quando encarnam o papel de agressores, são mais ativos do que as raparigas e tendem a agir de forma direta, agredindo fisicamente. Muitos dos inquiridos acusaram ideias preconcebidas, como o facto de o bullying ser natural (8%), fortalecer as personalidades mais frágeis (cerca de 10%) e de as vítimas, muitas vezes, “estarem a pedi-las” (7 por cento). Prevalece a opinião de que o certo é reagir ao agressor (mais de 30% da amostra), mas o mais eficaz é promover um ambiente social de não aceitação de tais comportamentos. Quebrar a indiferença das testemunhas e a cumplicidade dos colegas que apoiam o agressor é o princípio do fim das situações de bullying. Também a responsabilidade dos pais por estes comportamentos nos filhos é apontada por dois terços dos inquiridos. A maior prevalência ocorre até ao 6.º ano. O bullying gera sintomas físicos e psicológicos: maior propensão para adoecer, medo, angústia, depressão, problemas relacionais e pensamentos suicidas ou de automutilação. Os inquiridos, já adultos, sonham com os eventos (14%) ou recordam com sofrimento a situação (36 por cento). No global, há uma prevalência de 20% de bullying escolar retrospetivo, ou seja, recordado pelos nossos inquiridos. Estes sofreram uma ou várias agressões continuadas: gozo, insulto, roubo ou ocultação de objetos, exclusão, mentiras para difamar, agressão sexual ou ameaças. Em quase metade dos casos, o bullying manteve-se por mais de 6 meses. Recreio, corredor da escola, sala de aula e o caminho entre escola e casa são os locais privilegiados para estas intimidações. Com maior prevalência nas raparigas, a timidez, um estilo mais passivo (entendido como “fraco”) ou uns quilos a mais são os motivos mais apontados para o bullying. À maioria das crianças e jovens, faltou instrumentos para resolver o problema, optando por ignorar ou evitar a situação que despoletava a intimidação ou agressão. Mais reativos, os rapazes respondem à provocação (40%) com mais frequência do que as raparigas. Segundo as vítimas que nos responderam, só 21% dos professores ficaram a par da situação. As testemunhas são decisivas a denunciar, dado as vítimas, dominadas pelo medo, terem dificuldade em falar sobre o assunto, mesmo com os pais. A situação de bullying nem sempre é sanada com a intervenção de adultos, como professores e pais. Mais de um terço dos testemunhou episódios de bullying durante a vida escolar, mas só 6% dos inquiridos admitem terem participado. Vingança e demonstração de poder são as principais razões. Bullying sem lei específica A legislação não dispõe de normas que visem a prática do bullying. Na escola, o bullying pode ser travado com a atuação disciplinar do estabelecimento ou com queixa às autoridades, traduzindo-se na prática de um crime. É necessário ficar a par da situação, senão os agressores continuarão a atuar impunemente. O sofrimento provocado pelo bullying pode ser compensado através de indemnizações. Depoimentos ou declarações de peritos, como médicos ou psicólogos, são a melhor via para provar os danos. O aluno pode ser punido se desrespeitar a integridade física e psicológica de algum colega. Para casos menos graves, as sanções passam por advertência, ordem de saída da sala, realização de tarefas e atividades de integração, proibição de acesso a certos espaços escolares ou mudança de turma. As penas são diferentes para situações mais severas: repreensão registada, suspensão até 10 dias úteis ou transferência da escola. O Estatuto do Aluno está a ser alterado e prevê-se alargar a suspensão até 12 dias úteis e a inclusão da pena de expulsão da escola. O agressor também pode ser castigado fora da escola. Pode ser acusado de difamação, injúria, ameaça, coação, devassa da vida privada, ofensa à integridade física e homicídio. As regras sobre crimes e respetivas penas aplica-se só a quem tenha 16 anos ou mais. Os mais novos podem ser condenados, por exemplo, a realizar tarefas a favor da comunidade ou internados em centros educativos. Pais, filhos e escola em alerta máximo: como atuar Promover uma cultura de comunicação é uma forma eficaz de as crianças e adolescentes lidarem com o problema. Pais, escolas e alunos devem colaborar para avançar com uma política antibullying. Os pais devem partilhar sentimentos com a criança, deixando-a falar. Ela pode ter medo e culpabilizar-se. Melhorar a autoestima. Os pais podem sugerir à criança fazer uma lista dos seus pontos positivos e conversar sobre eles. O reforço positivo deve ser um hábito regular. Problema recorrente. Os pais devem manter um registo escrito dos acontecimentos, se forem frequentes. É útil se precisar de falar com o professor ou a direção da escola. Falar na aula e na escola poderá inibir potenciais agressores. Limitar o número de pessoas a aceder ao perfil é uma das regras mais importantes ao criar um perfil numa rede social, como o Facebook. Se o amigo virtual quiser marcar um encontro, os pais devem ser informados. Dizer “não”. A criança deve ser estimulada para ser afirmativa e dizer “não”, sem recear. Agir com confiança. É muito importante mostrar confiança. Os agressores tendem a escolher vítimas com aspeto frágil. Para prevenir o cyberbullying, há que evitar disponibilizar informação pessoal e ponderar a utilização de pseudónimos. Recorra a um nome de utilizador e a uma palavra-passe diferente específica para aceder à rede social. Em caso de ameaças, a situação deve ser reportada a um adulto e esperar que tome medidas. Não convém abrir ou ler mensagens de cyberbullies, mas evite apagá-las logo. Exponha a situação à escola, se ocorrer nesse espaço. Se for fisicamente ameaçado, os pais devem informar a polícia. Pelos corredores, recreio e salas de aula de Portugal Pais devem estar atentos aos sinais evidenciados pelos filhos: perda de interesse pela escola, dificuldades de aprendizagem, isolamento ou agressão por outros alunos sem se defender. Pais, escola e alunos devem colaborar. Principais consequências nos inquiridos, entre outras: deprimido por longos períodos (68%); ansioso por longos períodos (60%); sempre com medo (56%); prejudicou o rendimento escolar (42%); impediu de fazer amigos (40%). A forma como os inquiridos lidam com a situação: “tentei ignorar” foi a resposta de 59% das raparigas e de 62% dos rapazes; elas (47%) tentam evitar a situação mais do que eles (42%), sendo que 40% luta contra os agressores, muito mais do que as raparigas (12%); ambos tentam eliminar o motivo (17% elas/19% eles). As raparogas são quem mais pede ajuda à família ou amigos (23%, contra 11% dos rapazes) ou à direção da escola (14 e 10%, respetivamente). Apenas 8 e 7% pede ajuda a professores. Fonte: Proteste 338 (setembro 2012) – www.deco.proteste.pt
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