Nas últimas décadas, e a par com um aumento da utilização das tecnologias de informação e comunicação, tem-se verificado um grande desenvolvimento dos videojogos, sendo cada vez mais usados, tanto em contextos informais como educativos. Texto: Palmira Simões O seu uso nem sempre reuniu consenso entre os seus defensores e objectores, embora ultimamente as divergências se tenham tornado menos acentuadas, dado o contributo, impossível de ignorar, para o “enriquecimento dos contextos de aprendizagem para a infância”, diz a professora e investigadora Lúcia Amante. A realidade é que, e segundo autores como T. Gomes & A. Carvalho, as escolas encontram-se perante uma nova geração de alunos – a Geração Net ou Digital – com necessidades educativas diferentes e com uma forma igualmente distinta de organizar e aceder à informação, tendo por isso criado novas habilidades cognitivas. Para outro autor, H. Magalhães, pesquisas demonstram que quando postos em frente de um computador, os tempos de atenção dos Nativos Digitais não são tão curtos como quando lhes é proposto um método de ensino tradicional. Isto porque as crianças da actualidade, pela sua experiência com as novas tecnologias, anseiam pela interactividade que impulsiona as suas acções, como refere o investigador Marc Prensky. Já para a investigadora Begonia. Gros, a cultura informática e de simulação que se evidencia nos videojogos constitui uma aprendizagem que deve ser reconhecida no âmbito escolar pela sua importância, quer ao nível do aproveitamento de experiências e conhecimentos que os alunos adquirem com o manuseamento dos videojogos mas que, só por si, não é garante de aprendizagem, quer do ponto de vista social. Gros considera por isso necessário que a escola assegure uma alfabetização informática adequada, insistindo que o modelo pedagógico que deve acompanhar o uso dos videojogos deve centrar-se na formalização e na reflexão das estratégias e conteúdos utilizados nos mesmos, ao mesmo tempo que defende que o professor deve aproveitar a riqueza desta ferramenta da qual os alunos gostam, que os motiva e que eles sabem utilizar. A relação entre a tecnologia e a educação tem vindo a ser muito estudada, desde o nível pré-escolar. Entre as áreas objecto de estudo encontra-se a linguagem e a literacia. Investigações concluíram que o computador não inibe o desenvolvimento da linguagem, antes pelo contrário, ao estimular o seu uso em programas que instigam a criança à fantasia, como defendem os autores Clements & Nastasi; ao encorajar a produção de discurso mais complexo e fluente (Davidson&Wright); ao induzir a comunicação verbal e a colaboração entre as crianças (Crook, e Drogas); ao exortar a vocalização em crianças com perturbações da fala (McCormick). Outra área alvo de investigação é a linguagem escrita. Também aqui, estudos de Lúcia Amante e de Laboo&Ash têm revelado que o computador, por exemplo através de programas de processamento de texto, proporciona oportunidades de desenvolvimento da literacia em geral e da escrita em particular, nomeadamente no que concerne a conceitos como direcionalidade e sequencialidade. Experiências pessoais com crianças em idade escolar (Ensino Básico) têm-me inclusive demonstrado que as Redes Sociais, desde que utilizadas com parcimónia e apoio por parte do adulto, não só constituem uma forma de socialização da criança com outras pessoas, como familiares, amigos e não só (vantagem a considerar, segundo Shields & Behrman) como são potenciadoras do desenvolvimento da linguagem escrita. Se juntarmos as Redes Sociais a programas (como os gráficos/desenho) que as crianças usam como ferramenta para realização de atividades online (interativas), outras capacidades estão a ser desenvolvidas, não só ao nível da criatividade, como da resolução de problemas, como da aprendizagem de conceitos matemáticos. O que vem no seguimento da teoria de Clements & Nastasi, que defende que as crianças que têm possibilidade de associar experiências manipulativas directas à utilização de um programa de computador demonstram maior competência em operações de classificação e pensamento lógico, a que se junta o favorecimento de conceitos relacionados com o pensamento geométrico e espacial, como simetria, padrões, organização espacial, etc. (Clements & Swaminthan), já para não falar do desenvolvimento de aptidões a nível óculo-motor. Terceira área educacional à qual as TIC têm vindo a dar o seu contributo é a do Conhecimento do Mundo. Segundo vários autores (Haugland e Wright; Grácio; e Rada), a tecnologia informática, designadamente a Internet, propicia a educadores e crianças oportunidades únicas de acesso a pessoas, imagens, sons e informação diversificada que podem constituir-se como fortes recursos educacionais. Por último, e para que as TIC sejam efectivamente eficazes em ambientes educativos, promovendo aprendizagens mais ricas e construtivistas, há que ter em consideração que a tecnologia deve ser posta ao serviço da construção ativa de conhecimento, como diz Coll; deve proporcionar uma “aprendizagem significativa” (Jonassen), que estabeleça relação entre as novas experiências e os conhecimentos prévios; deve considerar a importância dos contextos sociais de interacção (Coll e Crook). Isto significa, e tal como referenciam especialistas nesta matéria, que devem ter-se em conta factores importantes como: localização e acesso aos equipamentos (Papert; Susan Haugland; Haugland & Wright); as aplicações educativas em si, que devem ser abertas, amigáveis ou intuitivas, multisensoriais, atraentes e interativas, flexíveis, atribuam à criança um papel ativo, orientadas para a resolução de problemas, facilitem e promovam a cooperação e a comunicação, estabeleçam relação com a vida real, valorizem a diversidade étnica, cultural, de género, etc. (Davis & Shade; Haugland & Wright; Ramos); e a integração nas atividades curriculares, pondo as TIC ao serviço do desenvolvimento intelectual das crianças (Pierce), ou seja, permitindo expandir, enriquecer, diferenciar, individualizar e implementar a globalidade dos objetivos curriculares. Outros fatores essenciais para o sucesso das TIC em contexto educativo: a crucialidade da formação dos educadores/professores, defendida por vários autores como Clements, Haugland ou Kasakowski; a atitude favorável à mudança da Escola/liderança na medida em que deve facilitar a integração (Perrenoud; Han; Haugland; e Kasakowski); a ligação com a família, levando-a a participar mais na vida escolar das crianças e promovendo a aproximação família/escola (Cotrim; Thouvenelle; Van Scoter & Boss; Van Scoter et al); e uma assistência técnica eficaz que assegure o bom funcionamento dos equipamentos. Para saber mais - Amante, L. (2007). As TIC na Escola e no Jardim de Infância: motivos e factores para a sua integração. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 03, pp. 51 64. Disponível em http://sisifo.fpce.ul.pt/ - Gomes, T. & Carvalho, A. (2008). Jogos como ferramenta educativa: de que forma os jogos online podem trazer contribuições para a aprendizagem. Actas da Conferência ZON Digital Games 2008. - Gros, B. (2002). Videojuegos y alfabetización digital. Disponível em http://diegolevis.com.ar/secciones/Infoteca/videojuegos_Gros1.pdf. - Magalhães, H. (2009). A Criança e os Videojogos: estudo de caso com alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico. Tese de mestrado, Universidade do Minho. Disponível em http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/9543
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