Por Rita Costa, terapeuta da fala / Fale Connosco – Saúde Personalizada (www.faleconnosco-saude.pt) O ser humano é um ser social, comunicar é primordial e a fala é o veículo de comunicação privilegiado. Para os pais surgem muitas vezes inseguranças... Durante a gravidez os pais esperam ansiosamente a chegada do seu rebento, uma nova etapa, uma nova vida, um novo ser… Um ser que nasce e cresce impressionantemente rápido, as roupinhas deixam de servir, surgem novos gestos, novas gracinhas, novas vocalizações… Inicia-se o caminho da comunicação: um choro diferente para cada necessidade, um sorriso em resposta ao nosso sorriso, uma gracinha repetida para nos ver sorrir, a primeira palavra que nos faz celebrar, os primeiros passinhos que para nós merecem uma festa! O ser humano é um ser social, comunicar é primordial e a fala é o veículo de comunicação privilegiado. Para os pais surgem muitas vezes inseguranças: quando é que o seu bebé vai começar a falar? Será que já devia dizer mais coisas? Quando é que vai começar a fazer frases? Como é que eu devo levar para que me entenda? Para responder a estas e outras questões vamos percorrer as etapas de desenvolvimento linguístico até aos três anos, altura em que qualquer adulto deverá já compreender o discurso da criança, não esquecendo, no entanto que cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento que tem que ser respeitado. Se houver dúvidas, fale com o seu médico de família, com o seu pediatra e não deixe de consultar um terapeuta da fala, estes são os profissionais a quem deve recorrer para que sejam efetuados os despistes necessários e para que, em caso de necessidade, a intervenção seja o mais precoce possível. 0 aos 6 meses O que acontece? • Chora de forma diferente consoante as necessidades: Nas primeiras oito semanas de vida, o recém-nascido tem a sua comunicação muito reduzida, só tem à sua disposição o choro reflexo para expressar desconforto. A partir da 8ª semana o bebé torna-se mais responsivo, começa a saber manifestar a sua satisfação, o seu bem-estar, o gosto pela companhia dos interlocutores. Progressivamente o adulto vai conseguindo distinguir entre choro de dor (cólicas por exemplo), fome, sono, chamada de atenção por querer companhia … • Reage a sons e começa a dirigir o olhar e/ou a cabeça na sua direção. • Produz sons (sucção, arrotos, soluços, espirros, suspiros, palreio). • Manifesta os primeiros sorrisos intencionais, a primeira manifestação de bem-estar físico, psíquico e afetivo. • Começa a “conversar” (protoconversação), surgindo as primeiras alternâncias na tomada de vez da comunicação, a sobreposição das vocalizações do bebé e do adulto são menos frequentes. Conselhos • Escute e responda às iniciativas do bebé (choro, movimentos corporais, riso, olhar…): se por exemplo o bebé chorar com fome diga: “Calma bebé, a mamã já vai dar de mamar…”. • Cante e ria com o bebé: O canto acalma os nossos bebés e o riso é por excelência uma manifestação de bem-estar. • Fale com calma com o bebé: aqui as rotinas diárias têm uma importância crucial, constituirão as bases para as primeiras aprendizagens semânticas, utilize frases simples e: – Explique-lhe o que ouve; – Explique-lhe o que faz durante a alimentação, higiene… – Nomeie pessoas familiares e objetos do dia-a-dia. Sinais de Alerta Não reage aos sons. Não estabelece contacto ocular. 6 aos 12 meses O que acontece? • Balbucio reduplicado: Mais do que produzir sons começa a produzir cadeias vocais dos mesmos sons repetidos /mamamamama/, /tatatatata/, /bababababa/ e consegue produzi-los durante bastante tempo seguido. • Reage ao seu nome, olhando para si quando o chama. • Reage quando o adulto nomeia objetos do uso comum, por exemplo se o adulto nomear um brinquedo que o bebé goste, ele vai querer alcançá-lo ou olhar na sua direção. • Diiz uma ou duas palavras, habitualmente “mamã” ou “papá” porque contêm consoantes bilabiais, as mais fáceis a ser aprendidas por serem as mais visíveis. Conselhos • Encoraje todos os tipos de interação (expressão facial, riso, olhar…), ajude o bebé a descobrir o prazer da comunicação. • Dê tempo ao bebé para responder: É importantíssimo estimular a troca de turnos durante a comunicação e isto pode ser feito durante um qualquer jogo, por exemplo de encaixes, eu encaixo, tu encaixas… A imitação é também um ponto de partida para o turn-taking, o bebé faz, o adulto imita e o bebé volta a imitar. • Responda ligeiramente acima do nível das produções da criança: Aqui o importante é que expanda os enunciados da criança, por exemplo, a mãe está a brincar com a criança e o bebé produz /mamamamama/, a mãe pode dizer: “/mamamama/, sim a mamã está aqui, a mamã está a brincar com o bebé”. Sinais de Alerta Não reage ao seu nome. Não reage a sons familiares como o telefone. Deixa de produzir sons. 12 aos 18 meses O que acontece? • Identifica objetos de uso comum. • Compreende verbos de ações relacionadas com a vida diária. • Diz palavras isoladas com sentido de uma frase (ex.: dá, pai, mãe). • Repete palavras familiares. • Imita ações do adulto. Conselhos • Responda ligeiramente acima do nível das produções da criança. • Dê o modelo correto, mas atenção que nesta idade é normal que a criança não diga as palavras corretamente, o importante nesta fase é que as diga e não como as diz. • Mostre-lhe livros e fale sobre eles. Sinais de Alerta Não usa palavras isoladas Não reage quando brincam com ele (ex.: olhando ou sorrindo). 18 aos 24 meses O que acontece? • Identifica objetos e imagens de objetos. • Identifica partes do corpo. • Compreende ordens simples (ex.: "anda cá"). • Diz o seu nome. • Junta duas palavras em frases simples (ex.: "não quero"). Conselhos • Enriqueça o seu vocabulário nas situações do dia-a-dia, bem como as frases, por exemplo se a criança disser “popó aqui”, o adulto pode dizer “O popó está aqui”. • Produza palavras que ele não utiliza. Sinais de Alerta Não compreende ordens simples. Não produz mais do que cinco palavras. 2-3 Anos O que acontece? • Brinca ao faz de conta, por exemplo dar de comer a um boneco. • “Idade dos porquês”. • Grande expansão de vocabulário. • Nomeia e diz para que servem objetos comuns. • Identifica imagens de ações. • Identifica grande, pequeno e muito. • Produz frases com quatro palavras (ex.: Eu quero um gato!; Hoje vou à escola!; Eu gosto de gelado!). • Começa a produzir frases coordenadas (ex.: "Eu quero um gato e um cão."). • Utiliza predominantemente substantivos. • Utiliza verbos, adjetivos, determinantes, pronomes pessoais, alguns advérbios e preposições. • Já começa a fazer a variação em género e número. Conselhos • Envolva a criança nas atividades do dia-a-dia. • Reserve tempo para ouvir a criança e responder-lhe. • Expanda os seus enunciados, por exemplo se a criança disser "comer", diga "Vamos comer a sopa". • Façam jogos em que cada um joga na sua vez (lotos de imagens, de identificação de sons, de associação de pares, cores...) • Se a criança ainda usa o biberão e/ou a chupeta, encoraje-a a deixar de usar! Sinais de Alerta Não junta duas palavras em frases simples (ex.: "dá pão"). O discurso não é inteligível. Não se esqueça que a criança precisa de crescer e aprender e os adultos são o modelo, só através deles aprenderá a usar a linguagem adequadamente! Saber mais Prevention: Developing Language, disponível em www.cplol.org Rebelo, Ana e Vital, Ana. Desenvolvimento da linguagem e sinais de alerta: Construção e validação de um folheto informativo. Re(habilitar), nº 2, Edições Colibri, 2006, pp.69-98. RIGOLET, Sylviane A.. Os Três P (Precoce, Progressivo, Positivo): Comunicação e Linguagem para uma Plena Expressão. Porto: Porto Editora, 2000. SIM-SIM, Inês. Desenvolvimento da Linguagem. Lisboa: Universidade Aberta, 1998.
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