Ato saudável, que acompanha o ser humano desde tenra idade, o brincar permite aos adultos um afastamento da realidade. Todavia, para as crianças é um ato sério, afinal, entre outras coisas, ajuda-as a entender o mundo.Can Stock Photo Inc. / Oksun70 Brincar é uma das primeiras formas de comunicação. Forma esta que permanece ao longo da vida. As crianças de outrora, apesar de adultos, não colocam totalmente de lado o ato de brincar. Ato que difere com as várias fases da vida. Se com um ano brincar implica, por exemplo, manusear um boneco de peluche, volvidos 10 anos já poderá implicar construir um puzzle. Solitárias ou acompanhadas, as brincadeiras integram o quotidiano de miúdos e graúdos. «Os adultos gostam de brincar porque é uma forma de se afastarem da realidade. Mas, para as crianças, brincar é um ato sério, que lhes permite encontrar prazer consigo próprio e nas relações e aprender», afirma Cecília Galvão Azevedo, psicóloga infantil. Conforme explica, «as brincadeiras não são iguais em todas as etapas do desenvolvimento. Quando o bebé completa um ano de vida ainda não tem a consciência total da realidade. Nesta idade, o jogo está relacionado com o próprio corpo, com o espaço e com os pais». Entre os dois e os três anos, o mundo adquire uma nova dimensão. A criança já tem uma certa autonomia motora e começa a usar a linguagem verbal. Inicia, pois, o jogo pré-simbólico, em que, por exemplo, brinca com um telefone falso com a intenção de imitar os adultos. Nos dois anos seguintes, tem capacidade para estabelecer relações não só com os seus pares como com pessoas mais velhas. Aparece o jogo simbólico de comportamentos e atitudes, sendo muito importantes as atividades de grupo e destreza. Diz a psicóloga que «dos seis aos 10 anos, o mundo enche-se de relações, informações, escolhas, valores e espaço. A criança explora e constrói de forma mais autónoma e, em determinadas ocasiões. É também nesta fase que o pensamento adquire a capacidade lógica concreta. A atividade lúdica é conduzida através dos desafios, da amizade e das tarefas realizadas em grupo». Ao longo da infância, o brincar possibilita à criança gostar dela própria, entender o mundo, interpretar sinais e reconhecer situações. É a brincar que testa as suas capacidades físicas, aumenta competências motoras, experimenta alguns papéis e percebe algumas situações do quotidiano. «Brincar permite gerir os conflitos e as frustrações porque a criança compreende que é necessário haver partilha de responsabilidades. Permite, ainda, aprender a conciliar, a argumentar e a gerir as derrotas e as vitórias», menciona Cecília Galvão Azevedo, concluindo: «É fundamental brincar e jogar para aprender a viver amando, sabendo, criando e divertindo-se.» Não brincar e outros comportamentos anormais Se uma criança não brinca, ou se brinca de forma estranha comparativamente com os seus pares, significa que pode sofrer de uma doença psicológica ou fisiológica. São várias as situações que originam a ausência de brincadeiras. Pode ser uma manifestação ou uma consequência de algum acontecimento traumático (maus tratos, abuso sexual, acidentes de viação, etc.), dentro ou fora do contexto familiar. Os motivos orgânicos, associados a doenças neurológicas, constituem outra explicação. Nestes casos, surgem alterações específicas e cognitivas, que retiram às crianças as suas competências neurológicas ou orgânicas para poder brincar. É possível, ainda, que seja de índole emocional. É a causa mais complicada de diagnosticar e manifesta-se muito através da depressão infantil. Além do não brincar, os pais e todos aqueles que – direta ou indiretamente – são responsáveis pela formação da personalidade dos adultos de amanhã devem estar atentos a determinados comportamentos adotados durante as brincadeiras. Serve de exemplo o isolamento, os comportamentos repetitivos, a fixação em determinado objeto ou parte dele, os jogos com temáticas recorrentes, a violência excessiva ou a forte carga erótica. Texto: Sofia Filipe (Jasfarma)
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