Do ponto de vista do autor José Manuel Sánchez-Fortún, a Literatura Infantil é um corpus de textos que se adequa ao desenvolvimento global da criança. Por Palmira Simões Imagem: Dreamstime.com Na verdade, as relações entre leitura e desenvolvimento infantil têm sido alvo de muitos estudos ao longo das últimas décadas, tendo como ponto de partida o modelo de estádios do desenvolvimento humano de Piaget. Outros contributos têm vindo a ser acrescentados a este modelo de estrutura, não só a nível de cognição, mas também de afetividade, de relacionamento interpessoal e socialização, de papéis sociais, tudo fatores que, como refere outro autor, J. A. Appleyard, "vão determinar os laços particulares que se estabelecem com o objeto livro e com a leitura". Tendo em conta estes princípios, quais os livros adequados a cada criança? No que respeita ao desenvolvimento psicológico (partindo do modelo de Piaget de quatro estádios) e interesses de leitura, o professor Juan Cervera diz o seguinte: 1. Estádio sensório motor (até aos dois anos de idade): rimas infantis, álbuns simples com imagens e livros-jogo. 2. Estádio pré-operacional (dos 2 aos 7), fase da função simbólica e de aquisição da linguagem, com características de egocentrismo, realismo e animismo, no qual se desatacam dois sub-períodos - o pré-conceptual (2-4 anos) e o intuitivo: contos, fábulas, livros de imagens em que o texto vá assumindo cada vez mais importância. As atividades de leitura devem propiciar imitação com inclinação para o jogo dramático. 3. Estádio das operações concretas (dos 7 aos 11/12 ) caracterizado por uma progressiva interiorização do real, num processo que vai levar ao pensamento lógico. Raciocínios ligados ao concreto: leitura fantástico-realista, contos maravilhosos e fantásticos, aventuras, interesse pela vida dos animais, por outros países e povos, ciência, enfim, pelo conhecimento do mundo. 4. Estádio das operações formais (dos 11/12 aos 15), em que se dá uma libertação do concreto e se começa a aceder ao real. Início do pensamento hipotético-dedutivo, capacidade de síntese, individualização e generalização: obras de maior extensão e complexidade, de mistério e aventura, novelas de ação e romances (género preferido mais pelas raparigas). Os fatores de socialização e a dimensão sociocultural ligados à leitura defendidos por Appleyard devem igualmente ser tidos em conta porquanto são significativos, nomeadamente o papel da escola e das bibliotecas escolares ou públicas, da família, os projetos de incentivo à leitura. Ainda em termos da leitura ligada ao desenvolvimento infantil, não se pode deixar de referir o fenómeno estético, patente no conceito de Literatura Infantil, nomeadamente de Juan Cervera, ao referir que esta integra todas as manifestações e atividades com base em finalidades artísticas ou lúdicas que interessem à criança. A arte, o belo são também atributos referidos pelo autor Jesualdo Barbosa - ‘‘a criança gosta do que é belo‘‘ – no sentido de que a Literatura Infantil deve ser rica linguisticamente, nas experiências que transmite e nos sentidos que gere, como também defende a professora de Literatura Infantil, Raquel Villardi. Salienta-se ainda o papel socializador da Literatura Infanto-juvenil enquanto difusora de modelos e valores numa fase de construção da personalidade do leitor, valores que deverão ser, segundo a especialista Mercedes del Manzano, positivos, numa linha humanista e personalizadora, favorecendo a interiorização dos princípios universalizantes de justiça, tolerância, solidariedade e cooperação. Sobre os papéis sociais que a cultura dominante atribui ao leitor em desenvolvimento, Appleyard, distanciando-se dos modelos de Piaget, destaca cinco: o leitor como player (ouvinte, ator, fase pré-escolar); leitor como herói ou heroina (a criança que se assume como figura central do enredo, normalmente no 1º e 2º ciclos); leitor como pensador (período pré-adolescência; leitor como intérprete (o que estuda literatura); e leitor pragmático (idade adulta).
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