O dinheiro não cai do céu, nem nasce das árvores. Mais do que nunca, saber gastar e poupar é uma virtude e uma aprendizagem que deve começar o mais cedo possível. Por Palmira Simões FreeDigitalPhotos.net O multibanco e os cartões vieram de certo modo “depreciar” o valor do dinheiro, pois não o vemos sair da carteira. Perde-se com facilidade a noção de quanto se gasta, de quanto se tem. Há muito que as pessoas deixaram de lidar verdadeiramente com notas e moedas, à exceção de pequenas quantias para compras correntes. Este facto, e por falta de exemplos explícitos, leva a que muitas crianças só tardiamente se apercebam de onde vem o dinheiro, para que serve e quanto vale. Em tempos de crise as dificuldades económicas aumentam e as famílias tendem a escondê-las dos mais pequenos, atitude esta a evitar. É-lhes devida uma explicação/orientação pedagógica, de acordo com a sua faixa etária, ou seja, há que educá-los. Pacientemente e sem dramas. Eles também fazem parte da vida familiar e têm de perceber que nem tudo é um mar de rosas. Ao prepará-los desde cedo para enfrentar contrariedades estamos a ajudá-los a defrontar-se melhor com as vicissitudes do futuro. Cerca dos dois/três anos, ou logo a partir do momento em que começam a pedir coisas, é possível incutir-lhes as primeiras noções, a mostrar-lhes o dinheiro (primeiro as moedas, depois as notas), a falar-lhes do seu valor e porque deve ser guardado, da diferença entre o desejar-se muito algo e o poder ou não comprá-lo... Não se esqueça que o (bom) exemplo dos adultos e a coerência dos esclarecimentos é meio caminho andado para facilitar a tarefa e para o êxito da mesma. Por volta dos cinco anos, explique de onde vem o dinheiro, uma vez que consiste uma das razões pelas quais os pais trabalham, bem como o que é um banco (fazendo comparações com um mealheiro) e como vai o dinheiro lá parar, o que são as contas-poupança, os cartões e como funcionam. Incentive igualmente a criança a realizar pequenas tarefas remuneradas, ou seja, em troca de uma semanada ou apenas de uma moeda, mesmo de pequeno valor, para depositar no “porquinho”. Caro ou barato? É preciso ou não faz falta? São conceitos opostos mas que fazem toda a diferença e devem ser explanados às crianças de forma simples, de preferência fazendo comparações entre este ou aquele produto e respetivos preços. Se elas são daquelas “pedinchonas” que querem tudo o que veem tem de ser firme e não ceder aos seus caprichos. Mas não sem lhes dar uma explicação, levando-as a entender que só podem comprar uma coisa de cada vez (pelo que terão de escolher e decidir), e que por vezes nem podem comprar nada que não seja absolutamente necessário. Justifique o que é um orçamento disponível (dividido por várias parcelas de necessidades) e como pode ser gerido (normalmente por meio de escolhas e decisões). É conveniente estabelecerem estas regras antes de saírem de casa e elaborarem em conjunto a lista de compras, isto é, verem o que faz mesmo falta na despensa. Nesta lista, que deve ser respeitada, inclua, por exemplo, os seus cereais preferidos, para que sintam que aquilo de que gostam também faz parte do rol de prioridades. Segundo a ASFAC – Associação de Instituições de Crédito Especializado, a partir dos cinco anos, e se o seu orçamento familiar o permitir, a criança já pode ter uma semanada, de modo a aprender a tomar decisões sobre as suas escolhas, por exemplo, entre um caderno para pintar ou um chupa-chupa. A partir dos 10 anos, a semanada poderá ser trocada por uma mesada. E não desanime se o seu filho chegar ao fim do mês sem dinheiro. Procurem averiguar como foi gasto, que erros foram cometidos e aprender com eles, mas sem nunca reforçar o capital. Há que valorizar uma boa gestão do mesmo. Use a semanada ou mesada como um instrumento de amadurecimento financeiro da criança e não como uma fonte de conflitos. Resista à tentação de lhe dar presentes a todo o momento, estipulando as ocasiões que considera mais propícias para o efeito. Por último, nunca estabeleça uma relação entre o desempenho nos estudos e o ganho de dinheiro. Os bons resultados escolares devem ser um objetivo em si mesmo.
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